8.2.04

Alegria de náufragos

Ler o gordão eduardiano à beira-mar tem sido uma experiência muito agradável. Ele cunhou a melhor definição de poesia que conheço: a lista, feita pelo náufrago Robinson Crusoé, dos bens que conseguira salvar, das coisas arrebatadas ao oceano. Todo poema -toda a arte?- é inventário daquilo que escapou ao naufrágio. T.S. Eliot pode ter escrito versos melhores, mas nenhum tão certeiro quanto "these fragments I have shored against my ruins" -tão na mosca quanto Ungaretti ao batizar um de seus poemas como "alegria de náufragos". Grandes nadadores, esses dois.