1.6.03

MAESTRO ZEZINHO, 5 NOTAS PARA RUY GOIABA

Às vezes eu penso que o adjetivo "roufenho" foi criado para explicar, da maneira mais exata possível, como era a voz do Nelson Cavaquinho. Quer que eu seja mais didático? Está bem. Experimente emitir este som pelas narinas: "hmmmm". Agora tente este aqui: "Éééé o juízo finaaal, a história do bem e do maaal...".

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John Cage, primus inter pares e non plus ultra dos pseudos, tem uma obra -muito bem "obrada", aliás- chamada 4'33''. O pianista aproxima-se do piano, apruma-se para tocar e não toca nada durante quatro minutos e trinta e três segundos. Genial. Só não entendo como Cage não processou todos os outros compositores do mundo por plágio nos intervalos entre suas músicas.

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Eu já gostei de roquenrol, admito. Desisti quando notei que todas as novidades surgidas no gênero eram sujeitos com o mesmo cabelo que Ray Davies usava em 1966, apenas um pouco mais sujo.

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Já expus a teoria de que Agnaldo Timóteo é o nosso id, o conteúdo sombrio do inconsciente que tentamos sufocar sob camadas de civilização. O contraponto ideal seria uma Aracy de Almeida como superego. Pensem nos benefícios para a humanidade. Carlito Marrom, Arnaldo Picaretunes e a mãe do Mano Wladimir jamais teriam aberto a boca se dessem ouvidos à sua Aracy interior.

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Sid Caesar, comediante americano da década de 50, dizia que as bandas de jazz daquele tempo contratavam um sujeito para ficar tomando conta do radar. Sua função era avisar os músicos quando eles estivessem se aproximando perigosamente da melodia. Mas a tecnologia mudou isso. Hoje os jazzistas já vêm com um chip embutido, para não correrem o menor risco de ser originais.