National Geographic
Quem tem TV a cabo e assiste de vez em quando à TV5 sabe o quanto francês gosta de pobreza. Quando eles querem levar os telespectadores para visitar um zoológico sem sair do conforto do lar, mostram documentários sobre os hábitos éxotiques de miseráveis, às vezes aqui no Bananão, em geral numa das antigas colônias -hoje "departamentos de ultramar", porque, como vocês sabem, o que fere suscetibilidades são as palavras, não as coisas. Moradores de Paris não precisam ir longe para ver gente pobre, mas a distância santifica a todos, observados e observadores: o telespectador se sente bom como uma mistura de Cristo e Claude Lévi-Strauss, varado de luz como um antropólogo de vitral.
Muitas das coisas estranhas da Botocúndia -os partidos políticos, os artigos jornalísticos dos profissionais da compaixão, os blogues relevantes, os filmes nacionais e, dentro do apartamento chiquérrimo do filho d'algo, aquele livro do Sebastião Salgado sobre a mesinha Biedermeier- explicam-se pela mesma idéia: como a pobreza é bonita (e rentável) nas fotos da "National Geographic". Nunca imaginei que fosse torcer pelo dia em que as revistas viessem com mau hálito. De todo modo, já estamos quase lá.
Muitas das coisas estranhas da Botocúndia -os partidos políticos, os artigos jornalísticos dos profissionais da compaixão, os blogues relevantes, os filmes nacionais e, dentro do apartamento chiquérrimo do filho d'algo, aquele livro do Sebastião Salgado sobre a mesinha Biedermeier- explicam-se pela mesma idéia: como a pobreza é bonita (e rentável) nas fotos da "National Geographic". Nunca imaginei que fosse torcer pelo dia em que as revistas viessem com mau hálito. De todo modo, já estamos quase lá.
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