26.5.05

O verdadeiro Capitão Cueca

Não é o personagem de livros infantis, mas aquele rapaz de pança proeminente e cuecão-com-o-elástico-meio-frouxo que foi visto salvando um carro da enchente aqui na terra da chuva ácida. À diferença do Popular, conhecido personagem de LFV, Capitão Cueca é participante, interativo e cidadão: já salvou crianças de incêndios, resgatou pessoas soterradas por deslizamentos, trouxe à praia banhistas quase-afogados e evitou que alpinistas congelassem. Tudo com uma mão só, enquanto a outra segurava a cueca bege (ou branca-encardida, não se sabe ao certo) que ameaça perpetuamente deixar-lhe o rego exposto. Suas camadas de gordura e pêlos o tornam imune a altíssimas e baixíssimas temperaturas, ao tifo e à esquistossomose; além disso, em rios, inundações e no alto-mar, sua Zorba inflada pode se converter num hovercraft. Herói de nossa gente, sem sombra de dúvida.

Embora discreto, Capitão Cueca só não dá entrevistas porque não é procurado: sabe-se que, como Pelé, Ayrton Senna, o Efelentífimo e todos os grandes heróis brasileiros, ele só abre a boca para dizer merda. Eu mesmo o entrevistei, tempos atrás: "Capitão Cueca, qual a razão desse seu uniforme?". O herói ficou alguns segundos calado, certamente para elaborar melhor a frase, deu um meio-sorriso característico de gente muito sábia e proferiu: "Ah, sei lá. É uma vivência sensual, entende?". Tentei explicar ao Capitão Cueca que empurrar Fusca na enxurrada era sua vocação, seu destino manifesto: ele não deveria nunca, em hipótese alguma, meter-se a pensar. Não sei se adiantou. A esta altura, já deve ter virado blogueiro, daqueles que escrevem com o rego à mostra. Paciência.