10.6.05

Contra português tudo bem, tá liberado

Então a coisa aqui na Botocúndia funciona assim: você não pode ser preconceituoso com ninguém, exceto com portugueses e os seus descendentes até a sétima ou oitava geração, mesmo depois de o sotaque e o cheiro de bacalhau terem sumido faz tempo. Eu, half portuguese, e meus patrícios passamos a vida ouvindo brasileiro dizer que, além de intelectualmente prejudicados, só andamos de tamancos, usamos a caneta atrás da orelha para fazer conta de cabeça (ha-ha-ha), temos mãe bigoduda e, suprema ignomínia, gostamos de Roberto Leal. Fora a alegação de que a responsabilidade por todas as cagadas já feitas na Terra Brasilis, independente (em tese) há 183 anos, é, em primeira ou última instância, da "colonização dos cotrucos". Contra isso não existe cartilhinha do governo nem cotas para luso-brasileiros; ninguém será processado por fazer piadas sobre o Joaquim, o Manuel, os Leões da Fabulosa ou os ternos amarrotados do Antônio Ermírio.

Claro, é assim que tem de ser. Jamais soube de um imigrante luso que tenha sequer cogitado ganhar a vida como vítima profissional. Ele não se importa: qualquer um que olhe para essa gente esperta e desdentada, cheia de verminose e de samba no pé, sabe direitinho quem é butt of the joke. É deixar que as hienas se divirtam, ó pá.