8.6.05

Dois argentinos conversando

Em geral, as colunas do Bernardo Carvalho são mais interessantes quando citam outros escritores -e não vai nisso nenhuma ironia, porque os comentários dele também são bons. A de ontem reproduz vários trechos das conversas entre Jorge Luis Borges e Ernesto Sabato, nos anos 70, em volume lançado recentemente no Brasil. Destaco aqui os melhores momentos do bate-bola citados no artigo. Sabato: "De todas as formas de contar, a mais falsa é a naturalista". Borges: "A literatura não é menos real do que aquilo que se chama realidade". O homem do túnel: "Seria preciso ver o que se entende por revoluções de linguagem. Suponho que não sejam essas supressões de pontos, vírgulas e minúsculas que estão ao alcance de qualquer criança". O homem dos caminhos que se bifurcam: "Uma vez eu li um conto de Kafka em uma revista expressionista cujo nome esqueci. Eu me disse que era estranho que tivessem publicado algo tão sem graça e trivial exatamente em uma revista feita de extravagâncias e neologismos. Claro, depois eu percebi: o conto era infinitamente mais complexo do que os jogos verbais dos outros. Claro, eu tinha 15 anos e acredito que agora não cometeria esse erro. Alguma coisa devo ter aprendido". E, por fim, Bernhard Carvalho: "Assim como o naturalismo volta e meia reaparece como uma forma 'mais verdadeira' de literatura, também é reincidente o erro de quem toma o simples neologismo e os trocadilhos, por mais publicitários ou ginasianos, como sinônimos de invenção de linguagem, confundindo epígonos com mestres. A diferença em relação a Borges é que são erros cometidos por quem já não tem 15 anos". É verdade e dou fé.