2.6.05

Curso de literatura comparada

Por que não fazer comparações de verdade, relevantes? Por exemplo, entre bilhetes de suicídio, que retratam situações-limite tanto literárias como -ai, Creuza- existenciais. Entendo que esse é o meio mais fácil e menos dispendioso de compreender as diferenças entre, digamos, a literatura inglesa, a russa e a do Bananão. Basta a simples justaposição das notinhas de dois suicidas, já mencionadas por aqui: a do anglo-russo George Sanders e a do brasileiro Torquato Neto. A primeira é puro Oscar Wilde, com um toque de patético dostoievskiano: "Dear world, I am leaving because I am bored. I feel I have lived long enough. I am leaving you with your worries in this sweet cesspool. Good luck". E a segunda é uma síntese do tropicalismo: "Caiu um cacho de banana na cabeça da minha caceta". Pois é, amigos da Rede Globo, it's a long, a long, a long, a long, a long way. (Isso porque, mind you, comparamos o bilhete de um ator com o de um poeta. Imaginem se fosse a nota de suicídio de, sei lá, um Mário Gomes. Sairia algo como "enfiaram uma cenoura transgênica no rego do meu rabo" ou cousa similar.)