30.9.02

OBRAS-PRIMAS DO BEREGÜÊ

"A mente mente."

"O passado já passou."

"O olho não se enxerga."

"Como cosmos somos cromos somos."

"Abre-te cérebro."

(Chega; por piores que sejam os leitores do puragoiaba, eles não merecem sofrer mais. Não, não é uma cartilha escrita por um drogado afásico. Aí estão toda a poesia, a inteligência e o wit desse gênio da raça que é Arnaldo Antunes. Aplaudam.)
OPEN MIND

O pingüim cover da vez é León Trótski. Ninguém pode negar: isso é que é um revolucionário de cabeça aberta.

28.9.02

POLITITICA 2

Meus dois candidatos a governador preferidos: Carlos Apolinário, aquele que tem fé no tablete Santantônio (a tintura de cabelo do cara é mesmo divina), e Antônio Cabrera, por sua semelhança física com o Tiririca. Se ele pusesse um chapeuzinho e fizesse a "dança da rapadura", eu votaria nele.

27.9.02

PELA LIBERAÇÃO DO ARREMESSO DE ANÕES

Eis um dos poucos acontecimentos realmente interessantes, que merecem registro: um órgão da ONU manteve uma lei francesa que proíbe o arremesso de anões. Ora, que estupidez. Se, em vez disso, ele fosse transformado em esporte olímpico, daríamos emprego a milhares de anõezinhos, hoje sujeitos ao degradante papel de falar palavrão em pornochanchadas estreladas pela Adele Fátima. Além disso, eu adoraria subir ao Terraço Itália só pra arremessar o Nelson Ned lá de cima. Vocês não?
POLITITICA

Para não dizer que não falei de eleições, já decidi: votarei nos candidatos que tiverem os nomes mais estapafúrdios. Afinal, esse é um critério tão legítimo como qualquer outro -e cada um desperdiça seu voto da maneira que melhor lhe aprouver. Estou entre Manoel Tio do Doce, Jajá Motoboy e Marquinho do Cartório. Mas é uma pena que eu não vote no Rio de Janeiro; seria ótimo sufragar o Ó Clemente. Esse deve ser o candidato da forrozeira Clemilda ("Eu não vou mais trabalhar com seu Clemente/ Ele só quer trabalhar co'menas gente...").

Por falar nisso, sou fã daquele forrozinho da propaganda do PSTU ("dívida externa eu não vou pagar..."). Meus credores sabem que eu também faço assim com minhas dívidas: devo, não pago e nego enquanto puder. Questão de coerência ideológica.

26.9.02

DO YOU SPEAK BEREGÜÊ?

Aproveitei meu sumiço para me dedicar a pesquisas lingüísticas. E descobri que, no Brasil, estamos evoluindo na direção de uma língua nova e revolucionária na sua simplicidade: o beregüê. Se você, leitor proletário deste blog, já pegou um ônibus quase vazio, em que o motorista e o cobrador ficam conversando entre si em voz alta, saiba: eles conversam em puro beregüê. Se você já se dirigiu a um peão de obra, também já o ouviu dizer algo parecido com "pede pro Zé" -só que em beregüê.

O beregüê, vagamente semelhante ao português (com alguma influência do nheengatu, dizem os especialistas), caracteriza-se, nas formas mais sofisticadas, pela abolição da maioria das consoantes e pela ausência de verbos. Mas não pensem que ele é característico das classes menos favorecidas: há numerosas variantes. Saibam, ditadores de uma suposta norma culta e opressores dos excluídos gramaticais: todos aqueles blogs com frases como "ele é muinto linduuuu, tô morrenduuu di paixaum hihihi", que vocês desprezam, são escritos em net-beregüê. Quando um economista diz que "a política de intervenções intrabanda será descontinuada", também se expressa num dialeto do beregüê. Há a variante gerundista ("quem não fizer isso vai estar se fodendo na minha mão"), a jurídica ("V. Exª, data maxima venia, não adentrou as entranhas meritórias doutrinárias e jurisprudenciais acopladas na inicial, que caracterizam hialinamente o dano sofrido") e muitas outras.

Mas a língua do futuro, arrisco dizer, é o beregüê "cowboy" -sem gelo nem verbos. Talvez eu faça aqui uma seleção das manifestações culturais em beregüê -na literatura, na música, no jornalismo etc. Elas apontam para o nosso futuro (ai ai ai de nós, como diria o PhD em beregüê João Bosco).
GUGU E SEU PINTINHO AMARELINHO

Para que ninguém jamais acuse o puragoiaba de não ser um blog gay friendly, nosso pingüim cover de hoje é ninguém menos que Gugu Liberato, sentado sobre meus enooormes arquivos (ops). Contudo, como este é um blog de família, prometo não exibir nenhuma foto do pintinho amarelinho. Fiquem tranqüilos.
PEQUENA ANTOLOGIA GOIABAL 22

Robert Bringhurst (1946 - )

There are five possibilities. One: Adam fell.
Two: he was pushed. Three: he jumped. Four:
he looked over the edge, and one look silenced him.
Five: nothing worth mentioning happened to Adam.

The first, that he fell, is too simple. The fourth,
fear, we have tried. It's useless. The fifth,
nothing happened, is dull. The possibilities are these:
he jumped or was pushed. And the difference between them

is only an issue of whether the demons
work from the inside out or from the outside
in: the one
theological question.


("Essay on Adam"; não consegui verificar a data.)

25.9.02

DA MAIOR IMPORTÂNCIA

Este blog continua achando os acontecimentos terrivelmente entediantes. Só duas coisas me interessam, e elas podem ser assim resumidas: a) a polêmica entre jesuítas e jansenistas na França do século 17; b) Hebe Camargo de unhas postiças douradas e botas azuis na porta de um hotel em Punta Del Este. Ou as duas juntas: se Hebe existe, essa é a prova de que somos desgraçados por natureza. Só o arbítrio divino pode nos resgatar de um inferno igual ao sofá de seu programa, em que nos sentaremos eternamente ao lado de Daniel, o sertanejo de cueca.

Mas não é nada disso que eu queria dizer. Na verdade, só voltei a escrever porque estava cheio de olhar para aquela foto do T.S. Eliot e resolvi substituí-la pelo lindo rosto do Seu Madruga, outro intelectual de renome. Deixo apenas uma sugestão prática: quando o real terminar de virar pó -o que não deve demorar muito-, proponho que adotemos o madruga como unidade monetária. Ou nossa anexação voluntária ao reino de Tonga. Sempre quis ter o bolso recheado de pa'angas.
EVANGELHO SEGUNDO RUY

E com vocês, por mais incrível que pareça, Ruy Goiaba. Lembram-se dele? Arão gerou a Aminadabe, Aminadabe a Naasson, Naasson a Salmon, Salmon a dona Genibalda, que concebeu Ruy, por obra e graça de Aristóteles (que não era o Estagirita), num entardecer chuvoso do Boqueirão.

Sim, este é um plágio descarado de uma antiga crônica do Antônio Maria. Nada se perde, tudo se transforma. Não penso, logo não existo. Eu voltei, voltei para ficar -e meu cachorro me sorriu latindo. Welcome back, se é que ainda tem alguém aí.
Heeeeein?

3.9.02

AVISO AOS NAVEGANTES

Moçada, este blog ficará inativo por alguns dias, pelos chamados "motivos de força maior". Não é nada de grave, mas só poderei voltar a expelir meus posts na segunda quinzena de setembro. Espero que vocês se divirtam com o que está nos arquivos -e aproveito para responder ao Dudi, outro freguês VIP desta padoca: acho que, quando se trata de arte de verdade, mesmo a mais "não-humana" é, como o Décio Piccinini, "coisa nossa". Joyce dizia isso ("you find my words dark; darkness is in our souls, do you not think?"), Wallace Stevens também ("a tune beyond us, yet ourselves"). Até mais, caríssimos goiabaleitores!