30.5.03

QUE NOME DAREI À MINHA DUPLA SERTANEJA?

Você quer montar sua dupla sertaneja para enriquecer o patrimônio musical do Bananão, mas ainda não atinou com um bom nome? Bem, eu resolvi seguir o exemplo do César e oferecer algumas sugestões adicionais, de grátis. Aproveite.

* Chico Viado e Zé Bicha
* Zoroastro e Zaratustra
* Doxa e Aléteia
* Prolepse e Polissíndeto
* Cineasta e Subissídio (pronunciado assim mesmo)
* Patrimônio e Patrocínio
* Esquerdinha e Direitoso
* Toletão e Tolentino
* Punheta e Siririca (na verdade, essa dupla já existiu e foi um dos grandes fracassos da Goiaba's Enterprises. O público de música sertaneja é muito conservador e não aceitou a troca da viola pelo órgão, embora ambos tocassem muito bem. Paciência.)
TAMBÉM QUERO MEU "CLICHÉ GENERATOR"

Vou confessar um problema físico que muito me constrange: os livros da Conrad, assim como os da Brasiliense no início dos anos 80, provocam em mim reações alérgicas. Nas livrarias, não posso nem chegar perto deles: minha pele fica empipocada, minha vista se turva e, pior, sinto ganas de vestir o sarongue do Ney Matogrosso e dançar "Bambo de Bambu". Assaz desagradável.

Mas devo admitir que os caras têm iniciativas geniais, como o editorial de lançamento da revista "Crocodilo" , citado pelo Rafael Lima. Vejam só: ali se diz que a revista chegou para "acabar com a moral e os bons costumes" e "tratar de coisas que a grande mídia esconde e não tem coragem de falar". O genial está nisto: eles dispensaram a necessidade de cérebro para quem escreve lá!

Sim, eu também quero o "cliché generator" do pessoal da Conrad: vocês não imaginam o trabalho que dá espremer o Hans e o Fritz, meus dois neurônios germânicos, para escrever os lugares-comuns do puragoiaba. Chega desse sacrifício: doravante, farei com que a tequinologia (como diria Joana Prado) trabalhe por mim.
SERVIMOS BEM PARA SERVIR SEMPRE

Bem-vindos, bem-vindos. Podem sentar à vontade, os sofás ainda estão cobertos com plástico. À esquerda, vocês podem ver -bem, pelo menos imaginar- minha vasta biblioteca, com livros de lombadas lindíssimas. Custaram só R$ 200 o metro. À direita fica o nicho com a imagem do sagrado coração de Paulo Francis. Reparem com que engenho e arte fiz os tapetes combinarem com os quadros, e não o contrário, que é coisa de gente brega. Provem deste delicioso cafezinho requentado e adoçado na proporção de um balde de açúcar por xícara: fica uma delícia com mandiopã.
Nada como receber os amigos num mocó assim ajeitadinho. Ah, e eu agora posso atender a uma velha reivindicação de quem me visitava: espaço para comentários. Fiquem à vontade para dizer que eu sou o máximo, lamentar meu hediondo mau gosto ou mandar dinheiro para que eu escreva um blog decente.
Desnecessário dizer que manifestações agressivas serão brindadas com o bloqueio do IP dos eventuais "hooligans". E, antes que alguém venha falar em "democracia", deixo registrada uma elegante declaração de princípios: democracia é o cacete, quem manda aqui sou eu. Se Platão e meu avô salazarista não gostavam de democracia, boa coisa esse negócio não deve ser. Sem falar nos meus professores stalinistas da faculdade -tudo gente fina.
MR. GUAVA DOESN'T LIVE HERE ANYMORE

Pois é, pessoal: entreguei a chave a Henri Matarasso e resolvi mudar de endereço. Com o auxílio luxuoso do Marcelo De Polli, levei minhas tralhas para um lugar bonito, com uma vizinhança chiquérrima -é como se eu me instalasse, de barrigão à mostra e chinela Rider, no 16ème Arrondissement. Mas não se intimidem com o luxo e o glamour dos arredores. Mudem seus bookmarks e, se não estiver chovendo, venham me visitar: http://puragoiaba.wunderblogs.com. Hasta la vista, babies.

21.5.03

CONSIDERAÇÕES CASAMENTÍCIAS

Já escrevi que a regência do verbo "casar" está completamente errada: não casamos com alguém, mas contra alguém. E Felix Mendelssohn, xará do meu caríssimo Felícato, concorda comigo. Como vocês devem saber, ele -Mendelssohn, não o dono do "Lucubrando"- é o autor da "Marcha Nupcial", que faz parte da música composta para acompanhar a encenação do "Sonho de Uma Noite de Verão", de Shakespeare. Não me lembro se, na peça, a marcha é a "trilha sonora" do casamento de Teseu com Hipólita ou da paixão (induzida por uma "droga do amor") de Titânia, a rainha das fadas, por Bottom, um sujeito com cabeça de burro. Mas aposto na segunda alternativa, que permite interpretar como simbólico -e justíssimo- o sucesso dessa marcha.

20.5.03

NOTAS CULINÁRIAS

1) A leitora Maria Flávia (que, presumo eu, não tem blog -se tiver, moça, avise-me) chama a atenção para a principal influência filosófica da segunda melhor humorista do país, Marilena Chaui. Sem Palmirinha Onofre, Marilena jamais teria atingido o ápice de sua trajetória intelectual, o livro "Professoras na Cozinha". Mas, cá entre nós, o suflê de quiabo à Spinoza feito pela Palmirinha ainda é insuperável. 2) Estou fascinado com a Colorcook. Vocês não sabem do que se trata? São fôrmas* de silicone (embora pareçam de plástico vagabundo), visualmente semelhantes a um penico azul-royal e, segundo o Sílvio Lancellotti, muito melhores do que todas aquelas panelas e assadeiras obsoletas que vocês têm em casa. E muito mais chiques: fosse eu dono do La Casserole, substituiria as antiquadas panelas de cobre penduradas nas paredes por Colorcooks. 3) Vocês se lembram da história da Dona Baratinha, aquela que tinha fita no cabelo e dinheiro na caixinha? Pois é, outro dia pensei no que aconteceu ao João Ratão, um dos pretendentes da baratinha abonada, morto em circunstâncias trágicas. João, como se sabe, caiu na panela de feijão. Mas o disco não conta a história toda, que é assim: "João Ratão caiu na panela do feijão/ E o feijão foi servido lá no bandejão"**. Posso até imaginar a alegria dos freqüentadores do restaurante ("oba, hoje tem feijoada!").

* Sim, eu sei que esse acento diferencial não existe. E daí? Pau na bunda do "Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa". Não gostou, pega eu.

** Não se sabe qual é o bandejão, mas desconfio que seja o da USP. O feijão do João Ratão combina com o "arroz carnavalesco", o "bife 007" e outros acepipes tradicionalmente servidos lá.

15.5.03

OLÊ, OLÁ, VOU EMPALAR O BAUDRILLARD

Pretendo ressuscitar meu simpático velhinho "serial killer", Philadelpho Philomeno, para cumprir uma tarefa de urgência urgentíssima: empalar o filósofo francês Jean Baudrillard, aquele pseudo que disse que a guerra no Iraque foi um "não-acontecimento" (certamente explosivo -o trocadilho é tão hediondo quanto irresistível). Antes disso, porém, Philadelpho vai preparar o terreno: ele já tem pronto um artigo de 1.255 páginas, escrito para deliciar os acadêmicos, em que desconstrói Baudrillard, provando que ele é um simulacro, um não-ser, não tem existência fora da escritura. Assim, a sua empalação deixará de ser um crime hediondo e passará à categoria dos não-acontecimentos. Nem vai doer nada -não em mim, certamente.
NÃO LEIO UM SITE QUE ME ACEITA COMO COLUNISTA

Aproveito a presença de Groucho, o único Marx que dá para levar a sério, como "pingüim cover" para explicar ao distinto público que fui surpreendido pela aparição de alguns textos meus no "Digestivo Cultural". O pessoal que comanda o site não me avisou antes da publicação. Certo, não posso me queixar -agrada-me estar na companhia de gente como Sérgio Augusto e Sônia Nolasco e, de toda forma, talvez seja bem melhor do que ter textos publicados pelo "Clube dos Estranguladores Pedófilos Felizes". Só um aviso a quem vem de lá: não espere encontrar nada muito inteligente por aqui, já que Hans e Fritz (meus dois neurônios; prazer) andam sobrecarregados ultimamente.

9.5.03

AD IMMORTALITATEM

Meninos, no final da minha adolescência, quando eu ainda gostava dessa coisa abominável chamada roquenrol, meu grande projeto era ser versionista -uma espécie de Fred Jorge ou Rossini Pinto do século 21. Fracassei rotundamente na única tradução (melhor dizendo, transcriação) que tentei. "The Boy with the Thorn in his Side", dos Smiths, tornou-se "O Rapaz com a Tora Atrás"; mas não consegui ir além desse brilhante primeiro verso.

Minhas ambições literárias aumentaram consideravelmente: agora, dedico meus estudos a provar que Tomás Antônio Gonzaga era gay e que a Marília de Dirceu fazia xixi em pé. Reparem neste trecho das "Cartas Chilenas": "Critilo, o teu Critilo, é quem te chama/Acorda, se ouvir queres coisas raras". Ou neste: "Meu bom Critilo,/Não se isentar o Cristo desse imposto/Foi um grande tesão, mas necessário,/Por não se abrir a porta a maus exemplos". Agora me digam se isso é conversa de homem: vocês imaginam o Chuck Norris escrevendo versos desse tipo? Ora, francamente.

8.5.03

LOVE ME, LOVE MY UMBRELLA

Pois é, hoje estou a fim de ser chato ("Ah, é? Só hoje, boneca?") e vou falar de James Joyce. Aliás, não vou nem falar, que estou com preguiça: passo a palavra ao Anthony Burgess.

"Esquecida pelos consumidores no Natal, santa Luzia, santa Lucia, era celebrada no dia 13 de dezembro. Para Joyce, que durante quase a vida inteira lutou contra a doença dos olhos, essa santa tinha um significado especial, sendo a protetora da visão, e por isso deu à filha o nome de Lucia. O tema de todo esse período do ano é luz-saída-das-trevas, e é correto se rejubilar (Joyce conhecia bem a etimologia de seu nome) com a vitória da luz. Rejubilamo-nos mesmo com a morte do primeiro mártir cristão no dia seguinte ao do Natal [Estêvão] e nos lembramos da razão pela qual Joyce aparece com o nome de Stephen nos romances autobiográficos. Também ele foi mártir, embora da literatura; testemunha da luz, condenado por si mesmo ao exílio, à pobreza, ao sofrimento, à calúnia e (talvez pior que tudo) à canonização ainda em vida por um círculo restrito, a fim de que a doutrina da Palavra pudesse se difundir. Foi mártir jocoso, no entanto, etílico e irônico."

"Joyce, que admirava William Blake, tinha muito de Blake: todas as leis eram más; maldição revigora, bênção relaxa. E no entanto a rejeição de Joyce ao catolicismo estava longe de ser absoluta. A jactância dos jesuítas de que são capazes de condicionar para sempre a alma de uma criança não é infundada, e Joyce foi educado por jesuítas. Podia se recusar aos sacramentos, Matrimônio assim como a Eucaristia, mas as disciplinas e, de uma forma renegada e torturada, os próprios fundamentos da cristandade católica o acompanharam por toda a vida. (...) As primeiras palavras ditas em 'Ulysses' são as que iniciam a missa. Buck Mulligan, de roupão, segurando uma navalha e um espelho em cruz, sobe ao alto de uma torre para perpetrar a primeira blasfêmia do livro: 'Pois isto, Oh caros bem-amados, é a genuína Christina: corpo e alma e sangue e chagas.' Mas a blasfêmia pertence à personagem: o tom litúrgico pertence ao livro. Aqui, Joyce parece dizer, um ritual de significado solene, por mais cômica que seja a superfície, está para começar. E suas duas obras máximas são rituais: há uma substância escondida, uma sagaz instalação de símbolos ocultos, há mais do que os olhos vêem. (...) Por trás dos 'acidentes' de um épico cômico jaz uma substância qualitativamente diferente: num certo sentido, um sacramento está sendo administrado. (...) A relação de Joyce com o catolicismo é a do familiar amor-ódio da maioria dos renegados."

Tudo isso está em "Homem Comum Enfim", livro do Burgess publicado pela Companhia das Letras (tradução de José Antonio Arantes) e que, como eu já disse aqui, deveria ser vendido como manual de instruções para os livros do Joyce. Alguém pode dizer que Burgess, por ser católico, era suspeito, mas ele não viu nada além do que já estava na obra do irlandês maluco. Podes crer.

7.5.03

UM VINHO CHAPINHA COM RROSE SÉLAVY

Oi, pessoal. Sumi porque estava muito ocupado ciceroneando o fantasma de Marcel Duchamp. No começo, ele não queria conversar sobre arte; lamentava-se de sua condição de ectoplasma, que não lhe permitia beliscar os exemplares mais interessantes de bundas femininas. Ponderei: "Bem, pense nas vantagens. Você também não é obrigado a compartilhar este abominável vinho Chapinha que estou tomando". "Ah, c'est vrai. À quelque chose malheur est bon", concordou. Em seguida, meio a contragosto, Rrose Sélavy me acompanhou num passeio pelas galerias brasileiras. As instalações e certos exemplos de "arte conceitual" fizeram-no gargalhar: "Rapaz, não acredito que levaram aquelas minhas piadas a sério. Quanta gente fez fama e ganhou dinheiro a partir delas! C'est incroyable".

No final do passeio, perguntei se ele tinha algum conselho a me dar. Duchamp respondeu: "Promova já uma noite de autógrafos". "Mas eu não tenho uma obra! Escrevo umas bobagens num blog, que é inautografável." "Ótimo, ótimo! Sem essa de obra! Isso é uma bobagem, não interessa -o fundamental é a noite de autógrafos. Faça uma performance e autografe sua não-obra, que é você mesmo. Ponha sua assinatura em folhas de bloco, guardanapos, pedaços de papel higiênico, cheques em branco, paredes, toalhas de mesa, braços engessados. Não se engane, mon ami -muitos grandes 'artistas' vêem a obra como mero pretexto para obter, no fim, a noite de autógrafos. Suprima a obra e seja mais sincero que todos eles." Disse isso e desapareceu no éter.

1.5.03

AND SO THIS IS CHRISTMAS...

Sim, eu sei que não é Natal. Mas e daí? Este blog, além de achar que as datas são ficções do tempo falso (F'rnando P'ssoa dixit), sabe que rotação e translação não passam de convenções burguesas, revogáveis pela vontade soberana da vanguarda proletária, assim como o bom gosto e o azul da cor do mar. Tudo isso acabará quando eu e o Doutor Gori dominarmos o mundo; mas asseguro que a contagem decimal do tempo será muito mais divertida.