31.3.02

PÁSCOA COM PASCAL

Pronto: o problema belchioriano foi resolvido. Descobri que basta ouvir o Ednardo cantando "Pavão Mysteriozo" para interromper a metamorfose. Certamente, aqueles bolinhos de bacalhau eram falsificados -made in Sobral, talvez.

Aproveito para desejar uma boa Páscoa aos três ou quatro leitores deste bloguinho -a propósito, espero que todos vocês já tenham ressuscitado, como diria o Zeit- e em especial à Leonora, generosa como sempre: não posso ser mais que o Baudelaire de Pirituba.

E, já que estamos em pleno período pascal, deixo aqui um excerto de "Pensées", do Blaise Pascal (1623-1662). Não tem nada a ver com a Páscoa, stricto sensu. É que eu não posso perder uma boa chance de fazer mais um trocadilho medonho.

"Quem quiser conhecer em pleno a vaidade do homem basta que considere as causas e os efeitos do amor. A causa é um não sei quê (Corneille), e os efeitos são pavorosos. Este não sei quê, tão pouca coisa que não a podemos conhecer, agita toda a Terra, os príncipes, os exércitos, o mundo inteiro. O nariz de Cleópatra: fosse ele mais curto, e toda a face da Terra teria mudado."
AINDA SOMOS OS MESMOS E VIVEMOS COMO O BELCHIOR

Moçada, a mistura dos bolinhos de bacalhau com a bagaceira provocou uma reação química cujos efeitos ainda não consegui avaliar. Estou me transformando, surpreendentemente, não no Roberto Leal, mas em algo parecido com o Belchior.

Não consigo mais tomar sopa nem comer espaguete com este bigode que se materializou de repente. Além disso, estou com uma vontade incontrolável de subir ao Corcovado e dizer que, ali, quem abre os braços sou eu.

Sugestões de antídotos são bem-vindas. Talvez a "Massagem for Men" da Sharon funcione. Qualquer Sharon está valendo.

29.3.02

NATIONAL GEOGRAPHIC

Vejam vocês: não há pizza portuguesa nos restaurantes de Lisboa. Em Nápoles, ninguém conhece o sorvete napolitano, aquele de três sabores. E o mais incrível de tudo: nunca se viu churrasco grego à venda nas ruas de Atenas.

Esse povo das Europas não sabe mesmo o que é bom.
SE ME TORNEI UM PECADOR...

Gente, esqueci que é Semana Santa e eu não posso rever "Costinha, o Libertino". É pecado mortal cinematográfico. Em vez disso, vou ouvir "O Homem de Nazaré", com o Antônio Marcos, e ficar assistindo à Rede Vida. Quem sabe uma reprise de "Jesus Christ Superstar" também caia bem.
VEM BUSCAR-ME QUE AINDA SOU TEU

Duas coisas, a primeira e a segunda:

1) Tá aqui pra vocês, queridos monoglotas, aquele Baudelaire traduzido pelo Guilherme de Almeida:

Sou como o pobre rei de algum país chuvoso,
Rico, mas incapaz, moço e no entanto idoso,
Que as lisonjas dos preceptores desprezando
Vai com seus animais, com seus cães se enfadando.
Nada o pode alegrar, nem caça, nem falcão,
Nem seu povo morrendo em frente do balcão.
Do jogral favorito a grotesca balada
Não mais lhe desenruga a fronte acabrunhada;
Todo flores-de-lis, é um mausoléu seu leito,
E as aias, que acham todo príncipe perfeito,
Já não sabem que traje impudico vestir
Para fazer esse esqueleto moço rir.
O sábio, que fabrica o seu ouro, em vão luta
Por lhe extirpar do ser a matéria corrupta,
E nem nos tais banhos de sangue dos romanos,
De que se lembram na velhice os soberanos,
Conseguiu aquecer essa carcaça insulsa
Onde, em lugar de sangue, a água do Lete pulsa.


2) Essa tradução consta de uma coletânea chamada "Poetas de França" (o meu exemplar é do final dos anos 50, mas talvez ela seja mais antiga). Nela, Guilherme de Almeida traduziu desde Villon até Paul Éluard, passando por poetas que estiveram na moda e caíram no esquecimento (Maeterlinck, por exemplo) e outros de que ninguém nunca mais ouviu falar.

No último grupo está Jean Richepin (1849-1926), autor de "La Chanson de Marie-des-Anges" ("A Canção de Maria-dos-Anjos"). Parece incrível, mas é, sem tirar nem pôr, a história da letra de "Coração Materno", do Vicente Celestino -composta anos depois. Como isso tem tudo a ver com o espírito do puragoiaba, segue só o original, para que este post não fique ainda mais extenso.

Y avait un'fois un pauv'gas
Et lon la laire,
Et lon lan la,
Y avait un'fois un pauv'gas
Qu'aimait celle qui n' l'aimait pas.

Ell' lui dit: Apport'-moi d'main
Et lon la laire,
Et lon lan la,
Ell' lui dit: Apport'-moi d'main
L'coeur de ta mèr' pour mon chien.

Va chez sa mère et la tue,
Et lon la laire,
Et lon lan la,
Va chez sa mère et la tue,
Lui prit le coeur et s'en courut.

Comme il courait, il tomba,
Et lon la laire,
Et lon lan la,
Comme il courait, il tomba,
Et par terre l'coeur roula.

Et pendant que l'coeur roulait,
Et lon la laire,
Et lon lan la,
Et pendant que l'coeur roulait,
Entendit l'coeur qui parlait.

Et l'coeur lui dit en pleurant,
Et lon la laire,
Et lon lan la,
Et l'coeur lui dit en pleurant:
T'es-tu fait mal, mon enfant?

GOIABOTECA DE ALEXANDRIA

Novas aquisições para minha nada modesta coleção de vinis goiabais. Como bem sabe quem lê este blog, eu tenho um fraco pelo samba cafona da década de 70, que alguém já chamou de "sambão jóia". Adquiri algumas coisas do Luiz Ayrão, o sambista das sobrancelhas de taturana, e do Luiz Américo, aquele do boné ("é camisa 10 da seleção, laiá-laiá-laiá...").

O legal é que esses caras eram dados a, ahn, inovações lingüisticas. Já citei mais de uma vez "o quadradismo dos meus versos", de Antônio Carlos e Jocafi. Pois o Luiz Américo tem uma música em que diz que um certo rapaz "androgenou". Vejam que jeito mais criativo e sutil de se referir a um pirobo.

28.3.02

LEMBRETES PARA MIM MESMO

* Procurar o MP3 da Rita Cadillac cantando "É Bom para o Moral". Se ele não existir, ir à praça da República e comprar, mesmo a peso de ouro, o compacto com essa obra-prima.

* Escrever um post sobre o canal cucaracha Ritmoson. Mencionar Coco Hernández e sua "Danza del Umbiguito". Não esquecer Los Tribunos, que se apresentavam de toga e maracas.

27.3.02

PÁSCOA, EU?

Nada de viagem para Long Beach desta vez. Vou ficar por aqui mesmo, pondo em ordem minha coleção da "Caras" e assistindo a "Costinha, o Libertino", obra-prima exibida pelo Canal Brasil e incorporada à exclusivíssima videoteca de Ruy Goiaba.

Se o tempo melhorar, talvez role um piquenique -com bolinhos de bacalhau e Bagaceira Mourisca, ora pois- dentro do meu Dodge Dart. Fiquem tranqüilos, que vocês não serão convidados.
NINGUÉM ME CHAMA DE BAUDELAIRE

O dia está tão chuvoso e tão chato que me deu vontade de postar este Baudelaire terrivelmente entediado ("Spleen"). Há uma boa tradução do Guilherme de Almeida, mas eu não a tenho à mão; segue, por enquanto, apenas o original.

Excusez-moi, não-francófilos.

Je suis comme le roi d'un pays pluvieux,
Riche, mais impuissant, jeune et pourtant très-vieux,
Qui, de ses précepteurs méprisant les courbettes,
S'ennuie avec ses chiens comme avec d'autres bêtes.
Rien ne peut l'égayer, ni gibier, ni faucon,
Ni son peuple mourant en face du balcon.
Du bouffon favori la grotesque ballade
Ne distrait plus le front de ce cruel malade;
Son lit fleurdelisé se transforme en tombeau,
Et les dames d'atour, pour qui tout prince est beau,
Ne savent plus trouver d'impudique toilette
Pour tirer un souris de ce jeune squelette.
Le savant qui lui fait de l'or n'a jamais pu
De son être extirper l'élément corrompu,
Et dans ces bains de sang qui des Romains nous viennent,
Et dont sur leurs vieux jours les puissants se souviennent,
Il n'a su réchauffer ce cadavre hébété
Où coule au lieu de sang l'eau verte du Léthé.
SAUDOSAS TRADIÇÕES D'ANTANHO

Um castigo corporal bastante usado no Brasil imperial, segundo relato do Câmara Cascudo (se não me engano), era a surra de saco de areia. Bem socada, a areia ficava dura como pedra e moía os ossos do infeliz que fosse punido com a tal surra.

Sinto vontade de reeditar essa interessante tradição toda vez que eu passo perto de um bar com música ao vivo e há alguém cantando "te amo, espanhola", "o meu jardim da vida ressecou, morreu" ou "vou ficar com certeza maluco beleza".

A GRÃ-ORDEM DA GOIABA

Como dizia a vovó, cabeça vazia é oficina do Tinhoso. Como a minha está permanentemente esvaziada de qualquer conteúdo aproveitável, segue mais um projeto inútil: a Comenda da Grã-Ordem da Goiaba. Ela será concedida a todos aqueles que tenham prestado serviços relevantes à goiabice brasileira e universal.

A lista de potenciais comendadores é longuíssima, mas eu estou pensando em começá-la pelo Galvão Bueno. Nem preciso explicar os motivos, não? Ah, sim: também construiremos o Mausoléu do Torcedor Desconhecido para aquele gênio que confeccionou e exibiu a faixa "Galvão, vá pentear macaco!".

26.3.02

WANTED DEAD OR ALIVE

Vou inaugurar uma espécie de seção "por onde anda?". Alguém aí tem idéia do paradeiro da cantora Sharon -aquela que, há uns 15 anos, cantava "vem cá, meu bem, fazer uma massagem for men..."? Já empreendi minuciosas pesquisas científicas na rua Augusta, na Major Sertório e em áreas circunvizinhas. Como era esperado, encontrei Sharons a dar com pau (ooops), mas nenhuma delas era a original, com peças de fábrica.

Se você é um dos três ou quatro leitores deste blog e sabe em que cafofo se meteu a Sharon, mande-me um e-mail. Você concorrerá a um suprimento de bananada de goiaba por toda a sua vida e a um jazigo quitado, daqueles que o Ney Gonçalves Dias anunciava na televisão. É claro que, se você ganhar o primeiro, o segundo estará automaticamente assegurado.

Tem coisas que só o Ruy faz por você.
O FUTEBOL NÃO MORA NA FILOSOFIA

Por falar no Zenon, vocês devem se lembrar da época em que o Corinthians tinha o meio-de-campo mais filosófico da história do futebol brasileiro, com ele e o Sócrates, no início da década de 80. Se esses caras atuassem de acordo com os filósofos que lhes deram os nomes, seria uma tragédia.

Imaginem só: a cada preleção, Sócrates faria uma série de perguntas -para mostrar como o treinador é contraditório e estúpido- e seria acusado de corromper os jogadores mais jovens. Quanto a Zenon, discípulo de Parmênides, ele não correria jamais atrás da bola. Afinal, o movimento é uma ilusão.
DUAS OU TRÊS COISAS QUE FALTARAM (2)

Neneca, Mauro, Gomes, Édson e Miranda; Zé Carlos, Renato "Pé Murcho" e Zenon; Capitão, Careca e Bozó.

Eis a escalação do Guarani em 1978. A propósito, eu não sou de Campinas e nunca torci para esse time. Viva o conteúdo inútil (e impossível de apagar) do nosso hard disk.
DUAS OU TRÊS COISAS QUE FALTARAM (1)

O nome do poema do João Cabral a que me referi num dos posts abaixo é "O Postigo", do livro "Agrestes" (1981-85). Nele, o poeta e ex-campeão juvenil de futebol em Pernambuco (pelo Santa Cruz, em 1935) anuncia que vai pendurar as chuteiras. Como Dadá Maravilha, porém, ele não cumpriu a promessa e publicou mais dois livros ("Crime na Calle Relator" e "Sevilha Andando").

Segue apenas o trecho final do poema, em que está a imagem da vela de dois pavios. Se quiser lê-lo inteiro, vá comprar o livro, ora. Quem quer moleza senta na bananada de goiaba, certo?

Voltaria a abrir o postigo,
não a pedido do mercado,
se escrever não fosse de nervos,
fosse coisa de dicionários.

Viver nervos não é higiene
para quem já entrado em anos:
quem vive nesse território
só pensa em conquistar os quandos:

o tempo para ele é uma vela
que decerto algum subversivo
acendeu pelas duas pontas,
e se acaba em duplo pavio.



25.3.02

LES ÉVÉNEMENTS M'ENNUIENT

Não custa relembrar um princípio deste blog: aqui, você não encontrará nada parecido com comentários sobre os "acontecimentos" no Brasil e no mundo, a não ser por acidente. E, quando esses acidentes acontecerem, tentarei compensá-los com novos posts sobre Edna St.Vincent Millay, a escalação do Guarani em 1978 e a vida subterrânea dos tubérculos.
A VELA DE DOIS PAVIOS

É curioso perceber como os poetas dignos desse nome conseguem transformar em "originais" versos e imagens que não são deles. Posso estar errado, mas nunca vi ninguém apontar a semelhança entre o "Mar Portuguez", do Pessoa ("Oh, mar salgado, quanto do teu sal/São lágrimas de Portugal"), e um dos poemas mais conhecidos do Victor Hugo, "Oceano Nox". A idéia inicial é igualzinha, mas o modo como Pessoa a desenvolve faz com que ela se encaixe à perfeição no plano épico do "Mensagem".

Quem conhece literatura sabe que os poemas do T.S. Eliot se caracterizam por essas operações de "corte e costura" (como "The Waste Land", que tem Baudelaire, Richard Wagner, Shakespeare e uma longuíssima lista de etcéteras). Parece que o João Cabral também gostava desse "gilete press" poético. O último poema do livro "Agrestes" incorpora, quase ipsis litteris, uma imagem da norte-americana Edna St.Vincent Millay -a da vela que se queima pelas duas extremidades.

Não sei se alguém ainda lê essa poetisa do início do século 20. Há quem ache, como diriam Antônio Carlos e Jocafi, que o quadradismo de seus versos vai de encontro aos intelectos (pronuncia-se "inteléquitos"). Bobagem: ela escreveu coisas lindas. Aqui vai o poema em questão.

My candle burns at both ends;
It will not last the night;
But ah, my foes, and oh, my friends--
It gives a lovely light!

BREGA'S BANQUET 36

E-eu, todo te-eu
Minha, toda minha
Juntos nesta noiteee
Quero te dar todo o meu amooor

Toda a minha vida (siiiiimmm)
E-eu te procure-ei (na-na-na-na-na-na)
Hoje, sou feliiiiiz
Pois você tem tudo o que sonhei

Aaaaaaaaah, eu te amo
Aaaaaaaaah, eu te amo, meu amor
Aaaaaaaaah, eu te amo
E o meu sangue ferve por você


Sidney Magal era uma citação tão óbvia que eu custei para incluir o gajo no brega's banquet. Mas, sem ele, o panteão da cafonice nacional jamais ficaria completo.

"Me chama que eu voooou..."

DENGUE DELIVERY

Outro dia, assistindo ao Canal Comunitário de São Paulo (fonte de inspiração para este blog), notei que ali se divulgava o telefone de um "disque-dengue". Acompanhe meu raciocínio: se um disque-pizza serve para levar aquela meia calabresa/meia califórnia até sua casa, o disque-dengue só pode entregar em domicílio um pneu velho com água parada.

Bem, se é assim, a iniciativa está fadada ao fracasso. Nenhum serviço de entrega tem sido mais eficaz que o do próprio Aedes.

24.3.02

A PRIVATIZAÇÃO DO BREGA

Não sei como ninguém percebeu o mal que o neoliberalismo fez à cafonice brasileira. Na época do "Brasil grande", quando Amaral Netto, o repórter, delirava com a pororoca (e não era a da vizinha, que está presa na gaiola), nenhuma gravação de samba empregava menos que 250 pessoas pra fazer o corinho do refrão. Pode conferir: é uma multidão cantando "êêê, meu amigo Charlie Brown", "você abusou, tirou partido de mim, abusou" ou "de noite, na cama, eu fico pensando". Hoje, documentos do extinto SNI comprovam que o regime militar destinava vultosas somas à Benitobrás, à Antoniocarlosejocafibrás e à Erasmobrás.

Com o desmanche do Estado brasileiro, essa mamata acabou. Vocês já imaginaram quantos trabalhadores estão, hoje, desempregados e sem qualificação? Quem contrataria gente cujo currículo se resume em cantar um refrão do Benito Di Paula?

Roberto Campos, a culpa é toda sua!

23.3.02

GRANDES VERSOS DO CANCIONEIRO POPULAR 8

"Há um Muro de Berlim dentro de mim."

Ai, ai, ai, Humberto Gessinger. Conta pra gente por onde é que esse muro entrou em você, fofo.
O PLANTÃO PURAGOIABA INFORMA

Desculpem pelo horário desta edição extra, mas eu tinha de compartilhar este achado. Cliquem neste link para saber o que é erotismo feito com muito bom gosto, ao som de Antônio Marcos: "Como Vai Você", a música preferida do homem-cobra ("eu queeeero amanheceeer ao seu redoooor"...).

22.3.02

CHUVA DE PRATA QUE CAI SEM PARAR

Também quero ter meu "talk show"; aparentemente, eu sou o único goiaba do Brasil que ainda não apresenta um. Será segmentado, politicamente correto e aproveitará uma das minhas características mais sedutoras.

O "Nossa Língua Presa" apresentará sensacionais entrevistas com Lula, Vicentinho, Romário, Luís Carlos do Raça Negra ("preffiso de voffê, efftou canffado de ffofrê..."), Clóvis Bornay e o médium Gasparetto, que será possuído (ooops) pelo espírito de Cazuza ("meuff inimigoff efftão no podeeer...").

O programa comprovará aquela tese de que da discussão não nasce a luz, mas sim os perdigotos. Ah, é claro que distribuiremos guarda-chuvas e galochas aos espectadores.
BREGA'S BANQUET 35

Fica comigo, meu mel
Tire o adeus das mãos
Não me entregue à solidão
Meu mel, você é o pedaço bom de mim


Markinhos Moura e sua obra-prima "Meu Mel", senhoras e senhores. Isso é que é power brega GLS.
JULGUE O DISCO PELA CAPA

Como a falta de assunto é um bom pretexto para fazer rankings, estou aqui tentando listar os piores títulos de disco da música popular bananosa. Para mim, o "top of mind" é um que Wando, herói deste blog, lançou em meados da década de 80: "Ui-Wando Paixão". Outro muito bom -e especialmente poético- foi perpetrado por Wilson Simonal no fim dos sixties: "Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga". Os créditos, curiosamente, não citam ninguém do DOI-Codi.

Mas o meu título preferido é o de um disco com músicas do José Messias, o jurado-ranheta-de-cabelo-acaju do programa de Raul Gil. Messias, que era um bom compositor de sambas, teve a manha de chamar uma série de convidados para gravá-los e dar à obra o nome de "José Messias e Essas Pessoas".

Não é sensacional? Quando eu gravar meu disco, quero um título nessa linha. Algo como "Ruy Goiaba e Essa Gentalha" ou "Ruy Goiaba e Essa Cambada de Vagabundos".

21.3.02

CITAÇÕES FICTÍCIAS 9

"Grandes homens cometem grandes erros."

Efe Agá, o gigante da sociologia brasileira. Espelho do banheiro do Palácio da Alvorada, 2002.
PERÉIO É A CARA DO CINEMA BRASILEIRO

Eu adoraria ter sido roteirista de filme nacional nos anos 70/80. Quem assiste ao Canal Brasil percebe: os caras só recebiam dinheiro da Embrafilme se renunciassem, no contrato, a toda pretensão de originalidade. Se alguém fizesse um estudo, constataria que 85% dos filmes dessa época têm pelo menos uma fala do tipo "eu te amo, porra!" (com o palavrão sabiamente empregado para dar um toque "transgressivo" à coisa).

Outro dia, eu e alguns amigos, zapeando, topamos com um desses filmes. Na cena, os personagens de Daniel Filho, Marieta Severo e Paulo César Peréio discutiam. Sem nunca ter visto o filme, eu previ: "Um deles vai mandar os outros à merda". Dez segundos depois, era exatamente isso o que o Daniel Filho fazia. Continuei com minhas previsões: "Agora, o Peréio vai encher a boca para dizer 'filho da puta'". Errei, mas apenas de personagem -quem fez isso foi a Marieta Severo. Para finalizar a cena, como diria o Zé Simão, só faltou mostrarem o Jofre Soares pelado.

Mas o Peréio, com aquela eterna cara de pudim de cachaça, é sensacional. Se eu fizer um filme, quero chamá-lo para uma cena só: ele olhando para a câmera e dizendo "porra". Será, em dois segundos, a síntese de cem anos de cinema nacional.
NOTÍCIAS E NÃO-NOTÍCIAS

Confesso que boa parte dos meus posts segue a lei de Lavoisier: nada se cria, nada se perde, tudo se transforma (princípio, aliás, adotado pelo bandejão em que como diariamente).

A história da contagem decimal do tempo, segundo me disseram, teria sido proposta por um grande jornal inglês (o "Times" ou o "Independent", não me lembro) em uma edição de 1º de abril. É uma tradição curiosa: na Inglaterra, nesse dia, até os jornais mais circunspectos publicam reportagens ou artigos fantasiosos. Uma dessas reportagens foi a do "boimate", composto que teria sido formado pela associação de células de boi e células de tomate; a "Veja" publicou a história como se fosse séria, no início dos anos 80. Ninguém notou que os nomes dos "cientistas" responsáveis pela "descoberta" eram Wimpy e McDonald...

O Brasil jamais importará essa tradição. Seria terrivelmente sem graça divulgar notícias fantasiosas em 1° de abril.

20.3.02

COCÔ CONCEITUAL

É bom saber que há artistas com autocrítica. De tanto ouvir falar que a arte contemporânea é uma merda, o carioca Cildo Meireles resolveu assumir: "É, sim. E daí?". Passando das palavras aos atos, Cildo montou uma instalação que incluía, conceitualmente, vasos de flores e urinóis cheios de... idéias.

Disso se depreende que os grandes inimigos da arte não são a burguesia e o poder público (quando não a subsidiam, é claro). O maior dos adversários é a válvula Hydra. É ela que faz a arte brasileira entrar pelo cano.
PROJETOS DA GOIABA'S ENTERPRISES

* Duplas sertanejas cujos nomes homenageiem as ruas de São Paulo. Já existe uma dupla chamada Teodoro & Sampaio, mas é preciso criar outras no mesmo estilo. Por exemplo, Doutor & Arnaldo. Vintetrês & Demaio. Praça & Dassé.

* Umberto Eco & the Bunnymen. Convencer os roqueiros ingleses e o semiólogo-romancista de que eles formam o conjunto ideal. Propor uma regravação de "Do It Clean" que inclua a leitura de trechos de "Apocalípticos e Integrados".

* Adotar o sistema decimal para a medição do tempo. Chega desse negócio de um dia ter 24 horas. Por que não dez, que é um número redondo e muito mais bonito? Essa história de rotação e translação é conversa para boi dormir.


BREGA'S BANQUET 34

Precisa-se de moça
Boa aparência, pra secretária
Tem que ser muito bonita
Descontraída e educada

Eu era ainda menina
Quando li aquele anúncio no jornal
Usei meu melhor vestido
E nos sonhos coloridos precisava trabalhar
Tudo parecia um sonho
Eu já era secretária de você
Eu estava tão contente
Tudo era diferente para mim

Foi numa segunda-feira
Quando você me pediu para ficar
Dizendo que era importante
Terminar aquela carta depois das seis
Foi nessa noite de outubro
Que perdi a inocência por você
Me entreguei aos seus carinhos
Eu fiz todos seus caprichos por amor


"Anúncio de Jornal", com a sensacional Julia Graciela -que despontou para o anonimato. Se você quiser saber o desfecho dessa triste história, vá ao Vácuo com Ar, que prestou um serviço à cultura trash brasileira postando a letra completa.

19.3.02

GOIABAS CONCEITUAIS

E eu perdi a oportunidade de participar da Bienal de artes plásticas. Pois é: também sou um artista conceitual, multimídia e performático. Criei a seguinte instalação: eu mesmo, sentado na frente do computador, vestindo um escafandro azul-royal, com pés-de-pato combinando. Sobre o terminal, meu pingüim de louça e uma tabuleta com uma citação de santo Agostinho ("Dai-me a castidade e a continência, mas não para já").

O que significa? Ora, a impossibilidade de ser casto diante dos apelos eróticos e cibernéticos do mundo contemporâneo. Ou a contradição entre nossas limitações corporais e intelectuais (daí o pingüim) e o desejo de mergulhar no mar de informações da internet (o que explica o escafandro). Ou a prova cabal de que o "artista" é um xarope. Ou tudo isso junto. Ou não.

Quer saber? Na verdade, há algo faltando. Vou fazer como o Tunga e contratar cinco mulheres para ficar dando voltas em torno da minha instalação. Peladas, é claro.

Sem sacanagem; afinal, é tudo conceitual.

NOSSOS COMERCIAIS, POR FAVOR

Tenho certeza de que os publicitários brasileiros também têm seu tolicionário -provavelmente, com nome em inglês, que é mais cool ("phrase book" ou algo assim). Ele inclui dicas preciosas para campanhas "criatchivas". Coisas como "as Lojas X fazem aniversário, mas quem ganha o presente é você!" ou sagazes alusões ao "saco cheio" do Papai Noel.

O livro deve incluir também alguns "cases" (não soa muito melhor que "casos"? Oh, como a língua portuguesa é jeca). Como o do comercial de uma loja de materiais para construção do interior paulista, em que um sujeito vestido de pierrô aparecia cantando "quantos pisos, oh, quanto azulejo...". Salvo engano meu, essa propaganda estava no ar em julho. Carnaval temporão? Não, falta de verba para rodar um comercial novo.

A indigência estética também pode ser comovente.

18.3.02

BREGA'S BANQUET 33

Linda, só você me fascina
Te desejo muito além do prazeeeer
Uou, uou, vista meu futuro em teu corpo
E me ama como eu amo vocêêêê


Além do português romanticamente estropiado, esse "crássico" do Roupa Nova tem um dos versos mais inteligentes da história da MPB: "Vem fazer diferente o que mais ninguém faz". Então tá. Por onde anda a Vigilância Sanitária, que não interdita os caras?



GILLIARD, O FOLCLORISTA

Manupe, você tem razão: a "Festa dos Insetos" não foi, até onde sei, composta pelo Gilliard. Mas não menospreze o interesse antropológico do rapaz. Certamente, ele andou lendo os livros do Câmara Cascudo e decidiu trocar seu repertório romântico por algo mais folclórico, mais próximo das "raízes". O resultado foi essa gravação antológica -e capivarológica.

(Que Câmara Cascudo me perdoe pela heresia. Quanto ao trocadilho, sei que é imperdoável. Desculpaí.)

SOLTE O TIMÓTEO 2

Convém deixar bem claro que "soltar o Timóteo" é uma metáfora que NÃO se refere à presumível orientação sexual do cantor em questão. Se você estiver a fim de soltar outras coisas, faça-o por sua conta e seu risco. Depois não venha dizer que sua reprovação no teste da farinha é culpa do puragoiaba.
SOLTE O TIMÓTEO

Num dos primeiros posts do puragoiaba, ameacei (esse é o termo) expor minha teoria psicanalítica do brega. No fundo, ela é simples: por mais que nossa dieta cultural consista em filosofia alemã, filmes do Bergman e sonatas do Brahms, nosso id será sempre algo terrivelmente parecido com o Agnaldo Timóteo.

Bem, em nome da "civilização", é preciso policiar o Timóteo que há em nós. O que seria da nossa vida amorosa se aquela moça culta e fã do cinema iraniano nos pegasse cantando "quem ééé que não sooofre por aaalguééém"? Fim de jogo, aos cinco minutos do primeiro tempo. Nunca mais conseguiríamos nos reproduzir, e os dias da espécie humana sobre a Terra estariam contados. Para preservar a sociedade, alguma repressão é necessária.

Na indústria cultural, contudo, não há nada parecido com um superego. Pensem comigo: gravar um CD, por exemplo, é um processo complicado e caro, que tem várias etapas. Há alguém que compõe, alguém que canta, músicos que acompanham o cantor, arranjadores (ou desarranjadores), produtores, engenheiros de som etc. -até a fábrica que prensa e embala os CDs e as lojas que vendem. É um batalhão de gente envolvida.

Será possível que, em todo esse processo, não haja ninguém que caia em si e o interrompa ("PAREM TUDO! Isso é um lixo! A humanidade NÃO DEVE tomar conhecimento dessa música!")?

Não, não há. E, pensando bem, isso é bom. Reprimir demais a cafonice tornaria o mal-estar na civilização ainda mais agudo.

Portanto, não seja um brega enrustido: solte o Timóteo. Mas certifique-se de que ninguém esteja olhando.

16.3.02

GRANDES VERSOS DO CANCIONEIRO POPULAR 7

"Macha, fêmeo, macha, fêmeo, fêmeo, macha."

Como esse Arnaldo Antunes é genial, vanguardista e muderrrno, não? Reproduzo comentário feito, salvo engano, pelo jornalista André Barcinski: "Essa música é um merdo". Eu subscrevo.
ZEN E A ARTE DE LAVAR O DODJÃO

Sábado é dia de pôr o bermudão enforcado-pelas-calças e a chinela Rider para dar um trato no Dodge Dart 74.

É mais eficiente do que ioga, tai chi ou frescuras orientais similares. Chega-se a um estado de "nada absoluto" próximo do nirvana: nenhuma pretensão à inteligência ou ao senso estético. Estou em paz comigo e com minha pança proeminente.

15.3.02

RUY GOIABA'S LONELY HEARTS CLUB BAND 5

permita cavalheir(o,a)
amig(o,a) me releve
este malestar
cantarino escarninho piedoso
este querer consolar sem muita convicção
o que é inconsolável de ofício
a morte é esconsolável consolatrix consoadíssima
a vida também
tudo também
mas o amor car(o,a) colega este não consola nunca de núncaras


Este Drummond (trecho final de "Amar-Amaro"; a versão completa está aqui) é um chapéu velho, mas que ainda serve direitinho. Ai de nós.
CITAÇÕES FICTÍCIAS 8

"Faço suas as minhas palavras."

José da Serra Elétrica, o candidato-vampiro, exercitando seu espírito tolerante e democrático. Convenção do PSDB, 1998.
CITAÇÕES FICTÍCIAS 7

"Hay que endurecerlos, pero sin perder la ternura."

Ernesto "Che" Guevara, um dos serial killers preferidos das esquerdas (depois do titio Stálin e do camarada Mao), explicando a seus comandados a consistência ideal dos ovos em uma omelete. Bolívia, 1967.
O PAI DO DADAÍSMO

Dario, o Dadá Maravilha, é o melhor frasista do futebol brasileiro. Durante toda a sua carreira, ele foi uma espécie de Serginho Chulapa (especialista em fazer gols feios, de canela ou de bico); mas, fora do campo, era genial.

Há alguns anos, Dario era treinador de um time fuleiro do Distrito Federal, que tinha de enfrentar o Corinthians num torneio semelhante à Copa do Brasil. Na véspera da partida, Dadá reuniu os repórteres e disse que ganharia usando a tática da "banguela convexa". (Para quem não sabe, "banguela", na gíria dos caminhoneiros, consiste em deixar o veículo em ponto morto nas descidas, para economizar combustível.) Questionado a respeito, Palhinha, então técnico do time paulista, respondeu: "Sei lá como ele vai fazer isso. A gente joga no plano...".

Felipão bem que poderia adotar a banguela convexa na sua "selecinha". Pelo menos, os fiascos seriam divertidos.

(Ah, o resultado. Não tenho certeza, mas acho que o time do Dadá não levou menos de seis gols. Sacanagem isso de obrigar os caras a jogar no plano.)


TOLICIONÁRIOS (2)

Um toque para o Láudano Hrvatska (vixe! Espero não ter esquecido nenhuma consoante), que pescou aqui o link para o "Dicionário das Idéias Feitas", do Flaubert, em francês. Não achei versões em português na net -mas, em livro, conheço duas. Uma delas está no final da tradução de "Bouvard e Pécuchet" feita por Galeão Coutinho e Augusto Meyer e publicada pela Nova Fronteira. Mais recentemente, a Nova Alexandria lançou uma versão do "sottisier" separada do romance.

Vá dar uma olhada no blog do Láudano, que é legal. Mas com moderação, senão você fica viciado (hehehe).
GRANDES VERSOS DO CANCIONEIRO POPULAR 6

"E eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu
E eu e eu e eu e eu e eu e eu sem ela."

Ah, vá. Não me diga que você não acha esses versos do Baiano Meloso inteligentes, ousados, vanguardistas e muderrrnos. Uma coisa, assim, tipo Gertrude Stein.

Que nada. O cara é afásico mesmo. Ou tem dificuldades para engatar a segunda marcha, sei lá.
AMOR ÀS RAÍZES

Mais uma vez, pego carona num dos posts do Zeitgeist, sobre os novos gênios da música popular bananosa e seu apreço pelas "raízes". Duas observações sobre os sentidos da expressão:

* Quem gosta muito de raízes são bichos como a anta e a capivara. Soa, de fato, "nacionalista", mas não muito inteligente.

* As músicas desses sujeitos nem sempre são inócuas. Às vezes, sua audição provoca efeitos semelhantes ao de um doloroso tratamento de canal. É o que dá futucar demais as "raízes".

(A propósito, João Kleber, aquele prodígio de inteligência e caráter, tem um programa chamado "Canal Aberto". Vi uma vez só e me senti como o Dustin Hoffman na cadeira de dentista do Laurence Olivier em "Maratona da Morte". Deus me livre.)
GRANDES VERSOS DO CANCIONEIRO POPULAR 5

"Meu cachorro me sorriu latindo."

É por essas e outras que o cara é rei. Robertão faz proezas de que nem são Francisco de Assis era capaz: até os cachorros sorriem pra ele.

Bom, o Belchior também perguntava qualquer coisa aos passarinhos na letra de "Velha Roupa Colorida". Mas, até onde sei, nenhum deles respondeu.
A BIBLIOTECA DE BABEL

Wilson Martins é um dos melhores críticos literários brasileiros. Sua "História da Inteligência Brasileira", que mapeia a produção intelectual do país entre os séculos 16 e 20, é uma coleção de sete catataus, cada qual com umas 700 páginas.

Chico Toucinho, o último dos empiristas de botequim, viu um dia, na minha estante, o sétimo volume. Seu comentário: "Se a história da inteligência é desse tamanho, imagine a 'História da Burrice Brasileira'".

Eu acho que até a Biblioteca de Alexandria seria acanhada para conter uma coleção assim vasta, sujeita a atualizações no mínimo diárias. Só mesmo aquela do conto do Borges -infinita.
OVERBOOKING

O Blogger, que já estava parecendo um vôo do Lloyd Aéreo Boliviano, arriou de vez ontem. Impossível postar durante a tarde toda. E eu tentei, tentei, tentei, mas não consegui "sastifação".

Ei, ei, ei. Isso é o que eu digo.

14.3.02

TORCE, RETORCE, PROCURO, MAS NÃO VEJO...

Houve um período, no início dos anos 60, em que os jazzistas pareciam especialmente interessados em usar músicas "para crianças" nas suas improvisações. Quase simultaneamente, Miles Davis gravava o tema da Branca de Neve ("Someday My Prince Will Come"), o pianista Bill Evans incluía em seus shows "Alice in Wonderland" e John Coltrane fazia sucesso com "My Favorite Things", do musical "The Sound of Music" -na época, ainda não transformado no filme "A Noviça Rebelde".

Claro que a transformação dessas músicas era, muitas vezes, radical. Coltrane gravaria, alguns anos depois, uma versão "free" de uma das músicas de "Mary Poppins" ("Chim Chim Cheree"), além de tocar, ao vivo, longas e ensurdecedoras "coisas favoritas" -sem nenhum traço da melodia original.

Mas isso não desmente o fato de que elas eram, sim, musicalmente interessantes. E seu uso pela música dita "séria" é, na verdade, uma tradição que remonta aos clássicos, com seu aproveitamento de temas folclóricos. Até Mahler usou o "Frères Jacques" para compor o sombrio (e bota sombrio nisso) terceiro movimento de sua primeira sinfonia ("Titã").

Tudo isso para dizer que não devemos desprezar o Gilliard quando ele canta a "Festa dos Insetos". Um dia, algum novo Mahler descobrirá essa maravilha.

13.3.02

TOLICIONÁRIOS

Flaubert morreu em 1880, antes de terminar "Bouvard e Pécuchet". Ele planejava anexar à obra o que chamou de "sottisier" ("tolicionário"): o "Dicionário das Idéias Feitas". É uma coleção de clichês, que recomenda só escrever "ereção" em referências a monumentos, dizer que a lua "inspira a melancolia" etc. Algumas edições do romance o incluem.

Já pensei, várias vezes, em compilar alguns "tolicionários", divididos por áreas. Eles facilitariam enormemente a vida de certos jornalistas. Quem escreve sobre música, por exemplo, poderia usar "bombardeio megadecibélico" nas referências a qualquer grupo de thrash metal, ou dizer que o som da banda X é "uma verdadeira orgia de ritmos afro-caribenhos" (contra-senso, já que se trata, afinal, de uma falsa orgia).

Na cobertura de futebol, talvez nem fosse necessário: todo time tem pelo menos um "ponta ciscador", um "centroavante oportunista" e um "meio-campista cerebral". Supõe-se, no último caso, que os outros jogadores deixem o cérebro no vestiário antes de entrar em campo. Bem, talvez não esteja tão errado assim.
BREGA'S BANQUET 32

Isto, sim, é para o nosso bico. Transcrição fonética, mais uma vez:

Ai, ai, aaaaaai! Ui, blau-blau
Blau-blau, blau-blau, ela não me quer...
Aaai, meu ursinho blau-blau de brinquedo
Vou contar pra você um segredo
Só você mesmo pra me aturaaar
Aaai, esse meu coração tão vadio
Se amarrou nesse corpo macio
Ela quer é me fazer piraaar
Ai de mim, AAAIII! Ai, blau-blau...


Silvinho e seu Absyntho (ou, segundo as más línguas, Absentho) são um clássico do bubblegum-homossexobrega. Consta que o cara e a música ressuscitaram no Rock in Rio 3 -com a participação especial do Serguei, vestido de ursinho de pelúcia.

É por isso que o surrealismo nunca deu certo no Brasil: aqui, a realidade já é surrealista.


A BELEZA NÃO É PARA NOSSO BICO (2)

Non domandarci la formula che mondi possa aprirti,
sì qualche storta sillaba e secca come un ramo.
Codesto solo oggi possiamo dirti,
ciò che
non siamo, ciò che non vogliamo.

(Eugenio Montale, "Non Chiederci la Parola")

Tá bom, vamos à tradução (nas coxas, como sempre): "Não nos peça a fórmula que lhe possa abrir mundos, mas sim alguma sílaba torcida e seca como um ramo. Hoje, só podemos lhe dizer isto: o que não somos, o que não queremos".


A BELEZA NÃO É PARA NOSSO BICO (1)

Beauty is so rare a thing.
So few drink of my fountain.


(Ezra Pound, "Villanelle: The Psychological Hour")

12.3.02

O AMOR É COMO UMA FLOR ROXA

Outro monumento que é preciso construir: o Mausoléu do Poeta das Gotas de Pinho Alabarda. Sempre quis saber quem escrevia aqueles versinhos-adesivos tão singelos. Desconfio do J.G. de Araújo Jorge, mas nunca tive como provar.
BEETHOVEN E O NIÓBIO

Não estava a fim de começar um papo frankfurtiano -perda da "aura" da obra de arte etc.-, mas, como diria o Falcão, não tem jeito que dê jeito. Hoje, Beethoven é o compositor da musiquinha do gás, Mozart faz a trilha sonora dos comerciais do sabonete Vinólia, "sensível diferença", e Wagner vende desinfetante de privada (o nome era Pato Purific, e a animação mostrava um patinho atacando os germes do vaso ao som da "Cavalgada das Valquírias"). E assim caminha a humanidade.

Eu estava conformado com isso -mas, um dia, ouvi a Quinta Sinfonia do Beethoven sendo usada na propaganda do partido do Enéas ("o número é 56!"). Aquilo era demais. Eu precisava achar uma boa versão do "pam-pam-pam-paaaam", que apagasse de vez aquela barba da minha memória.

Encontrei -e recomendo- a de Carlos Kleiber com a Filarmônica de Viena, gravada em meados da década de 70, num CD que inclui também a Sétima Sinfonia do autor da musiquinha do gás. É tão boa que faz a gente se esquecer do nióbio. Vá ouvir.


GRANDES VERSOS DO CANCIONEIRO POPULAR 4
(OH, TELEFONISTA, O BETO GUEDES NÃO MORREU)

"Meu coração é novo e eu nem li o jornal."

Beto Guedes, o amigo da estrela amiga, deve ter composto essa coisa ("Feira Moderna") em meio a uma nuvem de THC no festival de Águas Claras. E, pior, aposto que achou genial a "livre associação de idéias". Façavor...

O MAUSOLÉU DO HUMORISTA DESCONHECIDO



Esta é uma iniciativa cívica, didática e diurética da Goiaba's Enterprises. Por que recordar somente os chamados grandes vultos da nossa história? Por que erigir estátuas cafonas apenas para bandeirantes como Borba Gato?

Urge construirmos o Mausoléu do Humorista Desconhecido. O Humorista Desconhecido é o autor de todas as piadas infames que você já ouviu -desde essa "vamos lá no Bach?" que eu postei aí embaixo até aquela da casa dos Beatles ("o Ringo não Starr, foi Paul McCartney no correio"). Foi também o primeiro a fazer brincadeiras inteligentes como aquela do "paga-no-caixa". E ninguém reconhece sua genialidade -nem lhe paga royalties!

Com o mausoléu, parte da injustiça será finalmente reparada (deixemos pra lá essa história dos royalties). Nosso modelo para o Humorista Desconhecido será o rapaz da foto, Alexandre Régis -mais (des)conhecido como o "eu não sou maluco!" de "A Praça É Nossa". E a inauguração terá, é claro, Zé Vasconcellos fazendo sua imitação de gago num discurso de cinco horas.


11.3.02

ESPANTA-LEITOR

- Vamos lá no Bach, tomar um Chopin?
- Ah, só se for da Brahms.
- A gente podia pedir também uma lasanha Verdi. E aquelas outras comidinhas... como é que elas se Schumann?
- Será que o Beetho ven?
- Ele telefonou e disse que já Stravinsky, mas ainda Dvorák um pouco.

(Pronto! Nunca mais alguém vai passar por aqui. Acho que esse "será que o Beetho ven?" é o fundo do meu poço.)



O QUE OS OLHOS NÃO VÊEM...

Pois é, seu Zé. Parece que as duas últimas fotos que eu postei não estão carregando. É preciso um tremendo esforço para imaginar a bizarrice da capa do Genghis Khan (e da cara do Zé Vasconcellos) olhando para esse xis pequenininho.

Bem, talvez seja melhor assim.
AS MAIS BIZARRAS CAPAS DE DISCO 7

Esta dispensa comentários, não? Só fico imaginando qual a inspiração do Genghis Khan para essa obra de arte. Parece uma mistura de David Bowie, fase "Aladdin Sane", com a abertura do "Fantástico" em 1974 ("olhe bem, preste atenção...").

9.3.02

FLAGRANTES DO SUBMUNDO BREGA 3

Na foto abaixo, Zé Vasconcellos, o homem mais sem-graça do Brasil (e que ganha a vida como humorista há uns 50 anos. Depois dizem que esta não é uma terra generosa), num lapso fatal de memória -"ih... ih... esqueci"- enquanto regia o Coro e a Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara numa complicadíssima passagem de "Lohengrin", de Wagner. Bayreuth, 1988.



CONCORRÊNCIA DESLEAL

Sei que este modesto bloguinho é diariamente deixado no chinelo pela goiabice do dito "mundo real". Mas assim já é demais. Estou pensando em abrir processo no Cade.
WHATEVER HAPPENED TO BABY JANE?

Cadê você, moça? A Associação dos Amigos e Moradores de Leonora Espanca aguarda seus sinais de vida.

8.3.02

BREGA'S BANQUET 31

A Rádio Goiaba encerra suas transmissões de hoje, deixando os ouvintes na sofisticada companhia de Gilliard.

Aquela nuvem que passa lá em cima sou eu
Aquele barco que vai mar afora sou eu
Aquela folha que vaga pelas ruas sou eu
Buscando você...



GUAVA FASHION 4

Minhas dicas féchom já me renderam uma citação no blog do Lavi (gracias!). Mas é só o começo: não descansarei até o pessoal da maison Dior me chamar para o lugar do John Galliano.

Enquanto isso não acontece, posto aqui novas dicas:

* Os mocassins são imprescindíveis para o homem que cultiva seu goiaba style. Escolha: bico fino, ideal para a formação de charmosos joanetes, ou franjinhas de couro. Se você não tiver medo de ousar, tudo isso junto. Prefira cores discretas, como vermelho-terra. Use-os, por exemplo, sem meias, combinando com aquela bermuda estilo enforcado-pelas-calças ou com aquele seu moletom cinza bem esbagaçado. Se você fizer questão das meias, que elas sejam brancas.

* Para as mulheres, calça fuseau de malha -de preferência, em cores cítricas, para usar com sandálias de salto. Se você, leitora do puragoiaba, pulou a fila da bunda ao nascer, a fuseau vai deixá-la chiquérrima: ela transformará seu derrière retinho numa coisa côncava e supersensual.


A CAFONICE É IMORTAL

Durante muito tempo eu pensei em escrever uma espécie de teogonia do brega, narrando a origem dos deuses da cafonice. Para isso, eu teria de escolher os Doze Olímpicos -as doze divindades incontestes do kitsch brazuca. Logo descobri que era impossível: só o modesto panteão ao lado, que deixa muitos nomes de fora, já tem quase uma dúzia.

Tive, então, uma outra idéia: fundar a Academia Brasileira do Brega (ABB). Quarenta imortais da cafonice, cada qual com seu patrono. A sede pode ser em São Paulo, em qualquer lugar que propicie uma ótima vista da estátua do Borba Gato. E nenhum dos integrantes da ABL poderá concorrer a uma cadeira na ABB (embora Zé Ribamar Sarney, com seu bigode e os lindos versos de "Borrachudos É Fogo", fosse um candidato natural).

Enfim, Leonardo Da Vinci está morto, mas Agnaldo Timóteo viverá para sempre: a cafonice é eterna.

7.3.02

GRANDES VERSOS DO CANCIONEIRO POPULAR 3

"Corre e vai dizer pro meu benzinho
Um dizer assim: o amor é azulzinho."

Uma das melhores manchetes do falecido "Planeta Diário" era algo como "Banco Central decreta intervenção em Djavan". Eu já acho que é caso de interdição pela Vigilância Sanitária.

A propósito, outro dos projetos da Goiaba's Enterprises é um "Djavan Lyrics Generator". Você, internauta apreciador da música popular bananosa, poderá fazer a sua própria letra do Djavan, clicando aleatoriamente em palavras e expressões como "sedução", "luz do querer", "papel crepom" e "dju-dju-dju-dju".

Vai fazer quase tanto sucesso quanto o Mussumgrapher, aquele tradutor que transforma "putaquepariu" em "putaquepariuzis".

AS MAIS BIZARRAS CAPAS DE DISCO 6

Pois é, houve um tempo em que Jô Soares não tentava passar por "inteligente", "sofisticado", "escritor" etc. Essa relíquia trash aí embaixo é prova cabal disso. "É o Capitão Gay, Gay, Gay..."

UNDERBERG COM SODA

Moçada, eu me comovi com um post do Sem Vaidade (blog novinho, da moça Manupe; vá ver). Ela se pergunta por que, em todo bar, há sempre uma garrafa de Underberg pela metade.

Não sei se minha memória etílica me trai, mas a campanha de que me lembro na TV trazia o finado Milton Moraes. Para quem não se recorda, ele -que tinha o physique du rôle do cafajeste dionisíaco- fez o Peixoto numa adaptação cinematográfica de "Bonitinha, mas Ordinária", do Nelson Rodrigues.

Pois bem. No comercial, Miltão estava sentado à beira de uma piscina, rodeado de mulheres de biquíni e saboreando seu Underberg. Lá pelas tantas, ele sugere modos de apreciar a beberagem, pura ou "com soda" -e, ao enunciar isso, pára para acompanhar o balançado de uma bunda em trânsito. Olha para a câmera de novo e diz, com aquela cara de Peixoto: "É... Underberg com soda".

(Aproveito para confessar: eu sou o culpado pelas garrafas "meio cheias". De Underberg, Fogo Paulista e conhaque São João da Barra. Eventualmente, Jurubeba Leão do Norte.)

AS MAIS BIZARRAS CAPAS DE DISCO 5

Estou começando a achar que o puragoiaba deveria oferecer saquinhos de vômito aos seus quatro leitores (a estimativa, generosa, é da Lady Macbeth).

Até o meu estômago deu cambalhotas quando me deparei com essa capa de compacto d'Os Vips. São, sem dúvida, os primeiros cantores brasileiros a fazer seu hair styling no Pomba's Coiffeur (é claro que você conhece o Pomba's: aquele que só caga na cabeça).





6.3.02

BANANADA DE GOIABA, THE COMEBACK

- Boa noite, lâmpida!
- Boa noite, mariposa.
- Posso oscular-lhe a face?
- Pode. Mas vai logo, que daqui a pouco eles me apaga.


Não tem muito a ver comigo. Faz tempo que as mariposa não dão vorta em vorta da minha lâmpida. Só postei porque ando precisando ouvir Adoniran. Mais uma? Aqui vai.

Lá no morro, quando a luz da Light pifa
Nós apela pra vela, que alumeia também
Quando tem -se não tem, não faz mal
A gente samba no escuro, que é muito mais legal





BREGA'S BANQUET 30 + CAPAS BIZARRAS 4

Pois é, encontrei uma capa que mata dois leporídeos com uma solitária paulada. Tenho a impressão de que é, no mundo, um dos primeiros exemplos de capa "conceitual" (morra de inveja, Pink Floyd): Bobby De Carlo, o cantor de "Tijolinho", no meio de uma obra -com carrinho de pedreiro e tudo-, segurando um... tijolinho. Genial, não?

Aqui vai o ponto culminante da letra (transcrição fonética):

Você é meu amorzinho
Você é meu amorzão
Você é o tijolinho
Que faltava na minha construção
É verdadji, é verdadji, é verdadjiiihhh-ih-ih-ih-ih...






5.3.02

AS MAIS BIZARRAS CAPAS DE DISCO 3

Quase coloquei a capa abaixo na seção "guava fashion". Esse cabelo bicolor da Gretchen é sensacional, vocês não acham?



GRANDES VERSOS DO CANCIONEIRO POPULAR 2

"Agora ficou fácil, todo mundo compreende
Aquele toque beatle: I wanna hold your hand."

O que um poeta capaz de escrever versos como esses está fazendo fora da Academia Brasileira de Letras? Belchior rules! Três vivas para o Nietzsche de Sobral!

O site do cara, aliás, merece ir para o panteão. Trecho da biografia, selecionado ao acaso: "Belchior, como um combatente sartreano, atentava aos jovens para a análise dos problemas que pediam análise em sua geração."

Vale por um manual de redação e estilo, né não?
GRANDES VERSOS DO CANCIONEIRO POPULAR 1

"Os meus gametas se agrupam em meu som."

Alguém me explica que diabo de ácido o Zé Ramalho tomou pra escrever um negócio desses?

FLAGRANTES DO SUBMUNDO BREGA 2

Na foto abaixo, Dr. Gori, o macaco loiro, desconsolado ao constatar que seu sanduíche de pastrami veio recheado de atum contaminado com mercúrio. A seu lado, o fiel assistente Garas emite um muxoxo. Tóquio, 1972.



AJUDA-TE A MIM MESMO

Muita gente está se divertindo com as idiotices escritas no último exame do Enem ("camada Diozoni", "fenômeno Euninho" e outras). Mas algumas são uma mina de ouro em potencial.

Vejam, por exemplo, o sujeito -ou "sujeita"- que escreveu "eu luto para atingir meus obstáculos". Ora, essa frase é digna de um Lair Ribeiro ou um Shinyashiki. É bem provável que, daqui a dez anos, o garoto do Enem esteja escrevendo livros de auto-ajuda, vendendo milhões de exemplares para seres ainda menos alfabetizados e enchendo o rabo de grana. E nós continuaremos latindo no quintal pra economizar cachorro. Mierda.
PERGUNTAS QUE NÃO QUEREM CALAR

* A quem o Sepúlveda pertence?

* De quem o Tarso é genro?

* O que o José Carlos dos Reis "encina"?

(Putaquepariu. Depois dessa, meus dois leitores vão pedir o chapéu.)

4.3.02

GUAVA FASHION 3

Outra coisa: procuro um cretino abonado para financiar um novo projeto, que funcionará como meu passaporte definitivo para o mundo féchom.

Em breve, mais informações sobre "Jegue Hypado - A Rave".
GUAVA FASHION 2

Esperem só até o Herchcovitch e o Fause Haten começarem a ler este blog: tenho certeza de que eles vão chupar (ooops) minhas idéias na próxima São Paulo Bichion Week. Pouco depois, pochetes e botinhas brancas começarão a aparecer nas páginas da Vogue e a ser usadas pela Costanza Pascolato. Vocês vão ver.
GUAVA FASHION

Numa tentativa de diversificar as goiabices deste blog, vou começar a apresentar algumas dicas de moda. Como não estou a fim de competir com Erika Patolino e imbecis similares, nenhum dos meus posts tratará dos looks de Paris, Milão ou do raio que os parta. Muito mais interessante é chamar a atenção para a moda de vanguarda em Mongaguá, Nepomuceno e Ribeirão Pires: esse é o hype do puragoiaba.

Assim sendo, aqui vão duas dicas essencialmente práticas:

* Pochete, para os homens. Estudos psicanalíticos recentíssimos mostram que essa bolsinha atada à barriga manifesta uma espécie de "inveja do útero" latente em seus portadores. Mas não é isso o que nos interessa agora. Esteticamente, a pochete é insubstituível: ela foi concebida para realçar o principal atributo físico do homem-goiaba, que é a pancinha cervejeira. Prefira as pretinhas básicas, emborrachadas.

* Botas brancas, para as mulheres. De cano longo e salto 10, no mínimo. Use-as no verão e no inverno, com minissaia, vestido maria-mijona ou jeans enfiado no reguinho. Se quiser ousar, combine-as com bermuda de lycra. É luxo só.

3.3.02

AS MAIS BIZARRAS CAPAS DE DISCO 2

Aqui, a bizarrice está menos na capa do que na, hum, coisa-em-si. Chico Anysio fantasiado de Baiano Meloso por volta de 1972, Arnaud Rodrigues (à esquerda) com uma linda combinação chapéu-óculos-costeleta-bigode e um disco que "inclui o sucesso Vô Batê Pa Tu". Putaquepariu.

2.3.02

BREGA'S BANQUET 29

(Não se vá...)
Eu já não posso suportar esta minha vida de amargura
(Não se vá...)
Estou partindo porque sei que você já não mais me ama
(Não se vá...)
O seu ciúme é o culpado desta minha desventura
(Não se vá...)
O nosso amor não é mais o mesmo, é melhor que eu vá embora

Nãããããão se vááááááááá
Não me abandone, por favor, pois sem você vou ficar louco
É o ciúme que está nos separando pouco a pouco


Demorei para postar essa maravilha de Jane & Herondy aqui no brega's banquet. Merece foto, é claro: nada mais féchom do que a barbicha herondiana.


1.3.02

A ROSA-DE-NINGUÉM

Putz, estou precisando equilibrar a balança do puragoiaba. Lady Macbeth, por exemplo, já se assustou com o que ela chama de sobrecarga. É natural; hardcore brega é mesmo assustador.

Então, aproveito a ocasião para tentar retribuir o belo poema de Miguel Sanches Neto com que a Leonora me presenteou lá no Persona. Para ela, estes versos do Paul Celan -o original e a tradução em inglês, de Michael Hamburger (sic). Se você não é anglófilo nem germanófilo, paciência: daqui a pouco eu posto uma letra do Odair para você.

Psalm

Niemand knetet uns wieder aus Erde und Lehm,
niemand bespricht unsern Staub.
Niemand.

Gelobt seist du, Niemand.
Dir zulieb wollen
wir blühn.
Dir
entgegen.

Ein Nichts
waren wir, sind wir, werden
wir bleiben, blühend:
die Nichts-, die
Niemandsrose.

Mit
dem Griffel seelenhell,
dem Staubfaden himmelswüst,
der Krone rot
vom Purpurwort, das wir sangen
über, o über
dem Dorn.


Psalm

No one moulds us again out of earth and clay,
no one conjures our dust.
No one.

Praised be your name, no one.
For your sake
we shall flower.
Towards
you.

A nothing
we were, are, shall
remain, flowering:
the nothing-, the
no one's rose.

With
our pistil soul-bright,
with our stamen heaven-ravaged,
our corolla red
with the crimson word which we sang
over, O over
the thorn.




MINHA VIDA É UM LIVRO ABERTO

O Morfina, da Vanessa Marques, continua firme e forte na lista dos blogs que leio diariamente. Ontem, um dos posts dela dizia que somos complexos demais para ser resumidos em um livro ou um blog. Não é meu caso, como eu expliquei lá: toda a minha brilhante personalidade e os meus apaixonantes atributos físicos estão resumidos no livro cuja capa reproduzo neste post.

Fica a dica para as interessadas. Ah, pára, ô!

VÁ TOMANDO SUCOZINHO

O pornoforró foi, talvez, a principal trilha sonora das minhas férias. Digo "talvez" porque, como vocês sabem, eu me hospedei na casa do seu Valdisney, que alterna em sua "vitrola" discos de boleros e alguma das 25 gravações de Teixeirinha cantando "Coração de Luto" -a popular "churrasquinho de mãe" (sim, ele chora copiosamente a cada audição).

Mas, fora isso, só deu (ooops) pornoforró. Tenho de reconhecer o quanto aprendi ouvindo Genival Lacerda, Clemilda e Manhoso. Hoje eu sei que, para ir a Santos, a gente tem de passar no Cubatão e que na feira de Caruaru se vendem bolsas, bolsinhas e bolsetas. Quem sabe um dia isso me seja útil.
AS MAIS BIZARRAS CAPAS DE DISCO 1

Plagiando descaradamente meu caro Zeitgeist, vou iniciar aqui uma nova série, com capas de disco no melhor estilo goiabal. Na verdade, eu já a comecei ontem, com Costinha e sua capa neotropicalista (para mim, muito melhor que aquela clássica dos Secos & Molhados).

Mas não me restringirei ao kitsch nacional. Essa capa ridícula aí embaixo é de uma dupla country norte-americana ativa nas décadas de 50 e 60, os Louvin Brothers. Não é preciso dizer que "Satan Is Real" ficou mais célebre pelo invólucro do que pelo conteúdo. Arreda, cramulhão!




FLAGRANTES DO SUBMUNDO BREGA 1

Na foto abaixo, o inimputável Sérgio Mallandro, minutos depois de uma muitíssimo bem-sucedida lobotomia e algumas horas antes de gravar "Piu-Piu Au-Au" (lado B do single "Vem Fazer Glu-Glu"). São Paulo, estúdios do SBT, circa 1982.