24.2.03

FRANGO, FAROFA & AREIA, HERE I GO

Moçada, este blog ficará em recesso até o fim de março. Estou precisando perder minha coloração amarelo-jaca e matar saudades do franguinho com areia de Long Beach. Enquanto isso, vocês ficarão sem goiabices, mas com essa bela foto da Audrey Hepburn, numa troca certamente mais que vantajosa. Au revoir!

22.2.03

SOBRE A GUERRA

"War, war, war! This war talk is spoiling the fun at every party this spring. I get so bored I could scream!"

(Scarlett O'Hara, em "Gone With the Wind" -em português, "Idos com o Vento". Por falar nisso, acho que vou trocar essa linda foto do Odair José por uma da Vivien Leigh. Fiddle-dee-dee!)

19.2.03

SUGESTÕES PARA O ROMANCE POLICIAL

Muita gente escreveu com ótimas sugestões para a minha história do "maníaco da MPB". Tanto o Rafa como a Maria acham imprescindível que Oswaldo Montenegro esteja entre as vítimas do matador. A Dani propôs a inclusão do João Bosco no enredo, o que daria um ótimo episódio: imaginem, por exemplo, o cara sofrendo uma trepanação enquanto canta "Papel Machê". Como ele já se contorce todo para cantar isso ("não vai desbotar, lilááás cor do maaar..."), o assassinato nem seria percebido. E o Nelson sugere que a Convenção de Imitadores do Ivan Lins seja invadida por integrantes da Facção Picolé de Chuchu, composta por clones do Orlando Morais, e logo depois pelos guerrilheiros da Frente Revolucionária Samba de Elevador, todos uniformizados como o Emílio Santiago e chamando os interlocutores de "amigão".

Enfim, as possibilidades são inúmeras. Cheguei a pensar em acrescentar à trama uma Conferência sobre Tropicália, Concretismo e Pós-Modernidade, sob os auspícios do Ministério da Cultura, evento que facilitaria muitíssimo o trabalho do matador ao reunir a nata da intelectualidade tapuia, de Arnaldo Picaretunes a Waly Salomão. Ça va sans dire: todos defendem que a detetive se alie ao maníaco, para o bem dos nossos ouvidos.

17.2.03

A MPB COMO CASO DE POLÍCIA

Não sei se vou desenvolver a idéia, mas ando pensando num romance policial que aproveite em seu enredo a gloriosa música popular brasileira e sua plêiade de figuras geniais. A personagem principal será uma detetive culta, charmosa e dura-na-queda, com idade em torno de 40 anos e que, fã de Debussy e Schönberg ("antes do dodecafonismo", esclareceria, entre goles de bourgogne), não suporta MPB. Ela é obrigada a largar seus romances de Thomas Mann para ir ao encalço de um sujeito que, em pouco menos de um mês, extirpou a língua de Baiano Meloso, explodiu a sede da gravadora Trama e empalou o sempre sorridente Nelsinho Motta com um banner dos Tribalistas.

Depois de seguir algumas pistas falsas, como supostas mensagens ocultas nas canções de Carlinhos Brown, a detetive descobre que o assassino compartilha seu amor por música erudita e fica dividida entre a repulsa pelo criminoso e a admiração por seu senso estético. O clímax será o cerco ao matador em plena Convenção Internacional dos Imitadores de Ivan Lins, que ele pretende levar pelos ares. Nossa heroína terá de suportar a pior tortura auditiva da sua vida e capturar o facínora em meio a 10 mil Ivan Lins lookalikes -inclusive Chick Corea e Daniel Azulay- martelando seus pianos Yamaha e cantando "na Nicarááágua, capital Manááágua". O que ela deve fazer? Prender o "maníaco da MPB" ou juntar-se a ele? Sugestões para o goiabamail.

14.2.03

ALGUMAS VERDADES SOBRE O IMPERIALISMO AMERICANO

Em São Paulo, o imperialismo americano provocou alagamentos em 11 pontos da cidade e um congestionamento de 157 km às 19h. "El Niño" é o aquecimento das águas do oceano Pacífico causado pelo imperialismo americano na altura da costa peruana. Evite deixar água parada em pneus ou vasos de plantas; eles podem se converter em focos do imperialismo americano. Os sintomas do imperialismo americano são fotofobia, câimbras e, em certos casos, prurido genital. Romário, mais uma vez, deixou de treinar com o time: "Tô com problemas no imperialismo americano, parceiro". "Ih, ele engasgou com um pedaço de imperialismo americano. Levante os braços. São Brás, são Brás, acuda o rapaz." "Quem é o imperialista filhadaputa que vai ao banheiro e não dá descarga?" "Não é aqui. Dirija-se ao guichê 95-B, seção Q, subseção XYZ, com as três vias do seu documento devidamente autenticadas. O primeiro imperialista americano que estiver livre vai atendê-lo." "Benhê, vamos transar?" "Ah, hoje não, morzinho. Esse imperialismo americano me deu uma dor de cabeça que você nem queira saber."

11.2.03

PEQUENA ANTOLOGIA GOIABAL, A VOLTA

François Villon (1431-1463?)

Frères humains qui après nous vivez,
N'ayez les coeurs contre nous endurcis,
Car, se pitié de nous pauvres avez,
Dieu en aura plus tôt de vous mercis.
Vous nous voyez ci attachés cinq, six:
Quand de la chair que trop avons nourrie,
Elle est piéça devorée et pourrie,
Et nous, les os, devenons cendre et poudre.
De notre mal personne ne s'en rie;
Mais priez Dieu que tous nous veuille absoudre!

Se frères vous clamons, pas n'en devez
Avoir dédain, quoique fûmes occis
Par justice. Toutefois, vous savez
Que tous hommes n'ont pas bon sens rassis;
Excusez-nous, puisque sommes transis,
Envers le fils de la Vierge Marie,
Que sa grâce ne soit pour nous tarie,
Nous préservant de l'infernale foudre.
Nous sommes morts, âme ne nous harie,
Mais priez Dieu que tous nous veuille absoudre!

La pluie nous a débués et lavés,
Et le soleil dessechés et noircis;
Pies, corbeaux, nous ont les yeux cavés,
Et arraché la barbe et les sourcils.
Jamais nul temps nous ne sommes assis;
Puis çà, puis là, comme le vent varie,
A son plaisir sans cesser nous charrie,
Plus becquetés d'oiseaux que dés à coudre.
Ne soyez donc de notre confrérie;
Mais priez Dieu que tous nous veuille absoudre!

Prince Jésus, qui sur tous a maitrie,
Garde qu'Enfer n'ait de nous seigneurie:
A lui n'ayons que faire ne que soudre.
Hommes, ici n'a point de moquerie;
Mais priez Dieu que tous nous veuille absoudre!


("L'Épitaphe de Villon en Forme de Ballade", também conhecido como "Ballade des Pendus", 1462. Desculpem, mas estou com preguiça de procurar uma boa tradução: quem quiser que vá atrás. Vale a pena: Villon foi o único "poeta marginal" digno tanto do primeiro termo quanto do segundo.)

8.2.03

PIADA & EXEGESE (3)

1. A piada

"Sabe o que o saci disse para a 'sacia'?"
"Não."
"Fica de três pra mim."

2. A exegese

* Simone de Beauvoir: "Essa piada é aviltante. Ela degrada a condição feminina. Como se não bastasse sua deficiência, a mulher-saci ainda é transformada em objeto, sempre pronta a servir aos desejos do macho, amo e senhor. A 'sacia' precisa se unir à mãe-d'água e à mula-sem-cabeça para fazer valer os direitos do sexo feminino no folclore. Morte aos sacis sexistas."

* Rubens Ewald Filho: "A piada, infelizmente, deixa muito a desejar. Parece roteiro de pornochanchada da década de 70. O texto não deixa claro, mas certamente o saci é David Cardoso, de cuecas vermelhas, e a 'sacia' é intertrepada, digo, interpretada por Aldine Müller ou Helena Ramos. O som da piada também é péssimo. Só falta aparecer o Paulo César Peréio dizendo 'porra'."

* Luiz Mott: "Essa piada é homofóbica: a palavra 'sacia' nem existe em português com esse significado. Só podem ser dois sacis adeptos do amor que, antigamente, não ousava dizer o nome. O saci, o curupira e o negrinho do pastoreio têm mais é que sair do armário e não se importar com a hipocrisia da sociedade."

* Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum: "Tinha que ser uma piada de sacizis, só pra sacanear com os pretis. Olhe, seu goiabis, o senhor vá pra putaquepariuzis."

* Nelson Rodrigues: "Amigos, toda a tragédia, toda a desgraça da existência dos sacis é exatamente esta: fazer muito sexo e nenhum amor. Nós somos esses sacis -pior que faltar uma perna, ou as duas, é ser um impotente do sentimento. E, porque o somos, porque nossa alma é manca, precisamos matar o amor. Muito melhor seria se esses sacis fizessem um pacto de morte, porque não há nada tão doce quanto morrer com o ser amado."

5.2.03

PIADA & EXEGESE (2)

1. A piada

"Meu bem, lá vem o guarda."
"Guarda."

2. A exegese

* Gerald Samthos: "A piada é ma-ra-vi-lho-sa, minimalista, um verdadeiro exercício à moda de Samuel Beckett. Vou encená-la como "Godot 2 - A Chegada". Esse será o único diálogo entre Estragon e Vladimir -dois mendigos gays- nas quatro horas de duração da peça. Haverá um terceiro personagem, o Guarda, que pode ser Godot, Deus, Nietzsche, Osama bin Laden, Hélio Oiticica ou o próprio Beckett. Mas tenho certeza de que o público subdesenvolvido do Brasil não vai entender lhufas."

* Sigmund Freud: "Scheisse. Se eu conhecesse essa piada, não precisaria ter escrito 'O Mal-Estar na Civilização'. Bastaria explicar que o 'guarda' é, na verdade, nosso superego."

* Noam Chomsky: "A piada é uma claríssima metáfora do imperialismo norte-americano, que se arroga o direito de agir como 'guarda' do mundo e oprimir todos os povos que não se ajustem à sua política externa. Só não vê quem não quer."

* Ary Toledo: "A piada é minha, viu, seu sem-vergonha? Eu contava lá no Sílvio Santos e no meu show 'Com a Corda Toda'. E quem usar sem pagar royalties tem a mãe na zona."

* Baiano Meloso: "Essa piada é linda, um eclipse oculto, uma coisa odara. A primeira vez que eu a ouvi foi na voz de Luiz Caldas; fiquei tão emocionado que chorei no colo de Bethânia. Faço questão de gravá-la no meu próximo CD, para o qual estou musicando um lindíssimo discurso de Antônio Carlos Magalhães."

4.2.03

PIADA & EXEGESE

Para provar, sem dar margem a contestações, que humor é coisa séria, inicio hoje uma nova seção do puragoiaba: "Anedota Comentada ou Piada & Exegese". Reproduziremos aqui piadas de domínio público, com comentários esclarecedores dos maiores intelectuais do Brasil e do mundo, vivos ou mortos. Os leitores que quiserem enriquecer a fortuna crítica da piada com suas opiniões também podem recorrer ao goiabamail.

1. A piada

O louquinho chamou o diretor do hospício para conversar: "Olhe, acho que eu já estou bom, não preciso ficar mais aqui com vocês. Até escrevi um romance de 500 páginas! Chama-se 'A Grande Cavalgada'". "Um romance? Mas que beleza!", disse o médico, surpreso. "De fato, acho que você já está em condições de ser liberado. Mas gostaria que você me emprestasse esse livro -estou curioso para lê-lo." O louquinho deixou o romance com o diretor e foi-se embora. O médico abriu "A Grande Cavalgada" e começou a ler. Eram 500 páginas de "pocotópocotópocotópocotó".

2. A exegese

* Néscio Pugnetari (copyright de FDR): "Bem, essa piada está equivocada. Evidentemente, não se trata de um 'louquinho', e sim de um romancista de vanguarda -cujo trabalho é, aliás, muito semelhante às "Galáxias" de Haroldo de Campos. Pode-se interpretar o diretor do hospício como uma das tantas figuras míopes do establishment literário brasileiro, essa gente que despreza as vanguardas e não reconhece a genialidade do concretismo. O 'louquinho' da história, assim como Sousândrade, Pedro Kilkerry, Oswald de Andrade e nós, está comendo as pedras da vitória. Difícil mesmo vai ser a hora de descomer".

* Michel Foucault: "Essa piada é mais uma prova da força criativa inerente aos comportamentos ditos loucos ou desviantes, tradicionalmente reprimida pela civilização ocidental. O discurso do louco, que ressoa indefinidamente no vazio, encontra sua perfeita expressão literária num 'pocotó' obsessivo como o fluxo da consciência, tanto mais forte quanto mais censurado".

* José Celso Martinez Corrêa: "'A Grande Cavalgada' é loucura, sim -a sagrada loucura do teatro! É Artaud baixando em seu "cavalo" no terreiro electrocandomblaiko! É o hospício transformado em ágora, com seu diretor convertido em Diónisos e despedaçado pelas bacantes! É... é uma orgya dionysíaca!!!"

* Aracy de Almeida: "Olha aqui, meu filho, tu não tem graça nenhuma contando piada. Tua anedota atravessa e desafina. Mas vou te dar quinhentas pratas, pelo tamanho da goiaba."

* Galvão Bueno: "É, amigo. Isso é puragoiaba. Não tem piada fácil. É o limite extremo do bom gosto!"
SOLUÇÃO PARA O ENIGMA

Eis que a Carol, rapidíssima no gatilho, já me enviou a resposta de um dos grandes enigmas da humanidade: Elke Maravilha tem uma linha de "cosméticos popular" que, segundo ela, vende como água. Todas as vezes em que se vê um traveco de unhas azuis, uma prostituta de batom vermelho-hemorragia ou um veado de glitter, é muito provável que eles estejam usando make-up by Elke. A respeito da minha ignorância, agora resolvida, a Carol ainda comentou: "Bem se vê que você não é mulher nem bicha". Folgo em saber -eu já estava achando que a exposição contínua e prolongada às músicas do ABBA ("supe-per troupe-per...") acabaria por me transformar nas duas coisas juntas. Afe!
BONITO, LINDO E JOIADO

E o grande Dudi Maia Rosa reproduziu o layout da minha pocilga lá no seu blog. Só pode ser por causa dessa foto da Grace Kelly. Estão temporariamente suspensos, portanto, os planos de substituí-la pelo retrato do Sr. Barriga ("pague-me o aluguel!").

3.2.03

GRANDES ENIGMAS DA HUMANIDADE (2)

E há tantas outras coisas que ninguém explica. Por exemplo: por que rigorosamente todos os sósias do Elvis Presley tentam se parecer com ele na fase Las Vegas -gordão, suarento e überbrega? Como o Nelson Ned fazia quando queria comprar aquelas revistinhas pornográficas que vêm embaladas em plástico preto e ficam na prateleira mais alta da banca? E, finalmente, uma questão teológica levantada pelo Rogério Prado Macedo (que reabriu há pouco tempo seu Watcher): Adão tinha umbigo?


GRANDES ENIGMAS DA HUMANIDADE

Do que Elke Maravilha vive? Falando sério, qual é o ganha-pão dessa mulher? Eu me lembro da Elke no corpo de jurados do Chacrinha, mas o homem da buzina morreu -se não me falha a memória- há quase 15 anos. Elke "some" da mídia por uns tempos e, de vez em quando, reaparece em eventos do tipo São Paulo Bichion Week (nada mais adequado, by the way). Mas, enquanto isso, como ela faz para pagar as contas? Será que ela é tão radicalmente esotérica que só se alimenta de luz? Se você tiver a resposta para esse intrigante mistério, recorra ao goiabamail.