29.4.05

Come dancing with Mr. Guavaman

Vamos sacudir o esqueleto com a Ode ao Comentarista Chato, aka Cântico de Louvor ao Santo Filtro de Comentários: "Keep a-Knockin'", não com seu autor, a rainha Little Richard, mas com os sensacionais Sonics, para quem mais de dois acordes eram pura frescura. Cliquem na nota lá embaixo e sigam a bolinha, crianças:

Keep a-knockin' but you can't come in
Keep a-knockin' but you can't come in
Keep a-knockin' but you can't come in
Come back tomorrow night and try it again

You say you love me but you can't come in
You say you love me but you can't come in, woooooh
You say you love me but you can't come in
Come back tomorrow night and try it again
Wooooooooooow


(Repita duas vezes, com gritos esparsos e solinhos toscos de sax a cada duas estrofes. Para casos mais sérios de stalking, recomendo alternar com "na casa do Senhor não existe Satanás". Xô, Satanás.)

28.4.05

Literatura em uma única lição

Dizem que o caso, apócrifo talvez, mas bem inventado, aconteceu com Dustin Hoffman e aquele velhinho inglês chamado Larry -por extenso, sir Laurence Olivier. O segundo já estava no set de "Maratona da Morte" ("Marathon Man", de John Schlesinger, 1976) quando o primeiro chegou para as filmagens com cara de acabado. Olivier quis saber o porquê e Hoffman, method actor, disse que passara a noite em claro para interpretar cenas em que seu personagem, no script, também não dormira. Comentário de sir Laurence: "You should try acting, my boy. It's much easier".

(Leitores, por favor, não sejam pascácios a ponto de me perguntar o que isso tem a ver com literatura. Basta mudar as circunstâncias e trocar um ou outro verbo. Admito, porém, que a metáfora ficará melhor se vocês conseguirem imaginar um mix do Dustin Hoffman de "Rain Man" com o de "Perdidos na Noite" -de autógrafos.)

27.4.05

Décio Pignatari, lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá

Tenho um amigo que vive trocando os nomes e fisionomias de grandes vultos da cultura botocúndica e internacional. É um caso perdido. Ele costuma confundir, por exemplo, Mário Ferreira dos Santos com Adhemar Ferreira da Silva e já me perguntou se o Jello Biafra não era o cara que cantava "voar, voar, subir, subir". Mas há pelo menos um caso de justiça poética nessas confusões: até hoje, meu amigo acredita que Décio Pignatari é aquele jurado do Show de Calouros. Fico imaginando o concretista na bancada do programa do Patrão, entre Pedro de Lara e Sônia Lima, com sua boina, seu mau humor e suas citações extemporâneas de Saussure: impossível conceber sucessor mais indigno de Aracy de Almeida.

Muito melhor imaginar Décio Piccinini poetando. Dificilmente não sairia algo mais interessante que "poesia pois é poesia" ou aquele anúncio metalingüístico do Disenfórmio (remédio para caganeira, lamentavelmente sem efeito nos casos de concretismo crônico).

26.4.05

Teste psicotécnico goiabal

Descreva em até dez palavras o que você vê na foto abaixo.

Image hosted by Photobucket.com

Minhas interpretações são duas, uma ensaística ("Crise da filosofia platônica: Morrissey acariciando um bípede não-implume") e outra poética ("Peru da festa e bichinha: é uma piada do Costinha").

Agora é com vocês.

25.4.05

Rhymin' Guava Soluções Integradas

Você, amigo poeta, fica encalacrado com as rimas na hora de escrever aquele epigrama, aquele epicédio, aquele rondó, aquela sextina, aquele soneto em alexandrinos, aquele gazal, aquele virelai, aquele rap, aquela marchinha de Carnaval? Não tema: com Rhymin' Guava Soluções Integradas não há poblema. Nossos especialistas -parnasianos, sim, os últimos leitores de Hermes Fontes, mas com um adequado toque de modernidade concretina- têm sempre na ponta da língua a rima, toante ou consoante, preciosa, rica ou paupérrima, de que você precisa para arrematar sua obra com chave de ouro. Se você, leitor amigo, deseja dizer algo lindamente, não com flores, mas com poemas, também localizamos no vasto acervo da literatura universal o tema desejado, qualquer que seja ele, desde gatos até a rebimboca da parafuseta. Se você não tem vergonha de escrever "trepa, Haroldo, siri tá no Pound" nem de rimar "neocon" com "Cro-Magnon", ligue djá e seja mais um dos nossos milhares de clientes satisfeitos.

22.4.05

As cousas belas da América Latina

Image hosted by Photobucket.com

Tivesse eu uma empresa de turismo, organizaria tours pela basta cabeleira do colombiano Carlos Valderrama. Muito mais divertido do que jogar gente-de-bermudinha no meio da selva: os turistas seriam apresentados a um ecossistema completo, com mais espécimes que a mata atlântica. Conheceriam simpaticíssimos piolhos, lêndeas hospitaleiras, quiçá um ou outro papelote de coca (very good stuff). Valderrama, misto de Biro-Biro, Urso do Cabelo Duro e Variedades dos Harlem Globetrotters, a maior atração turística da América Latina, permanece tristemente inexplorado. Como se sabe, não há mais nada para ver no continente. Havia o bumbo da Mercedes Sosa, mas sabe-se lá onde ela o enfiou.

21.4.05

O Odorico Paraguaçu de Leipzig

Leio sobre Bach enquanto ouço a excelente interpretação do Antonio Meneses para as seis suítes para violoncelo (ei, você aí, largue este blogue e vá ouvir também). Em carta a um amigo, o compositor reclamou do bom funcionamento da saúde pública em Leipzig lá pelo século 18. Com menas gente morrendo, diminuíam as encomendas de música para funerais; sacanagem, porque ele tinha um porrilhão de filhos para criar. Mais ou menos como Odorico Paraguaçu se lamentando por não ter nenhum defunto para inaugurar sua grande obra, o cemitério de Sucupira. Mas Bach era aquele da Paixão Segundo São Mateus e tinha créditos com o Grande Cabeção (que, conforme a lenda, apontou para ele e disse "esse é o cara" -em alemão, que é muito mais solene). Estava podendo. Além disso, a troca parecia boa: menos gente, mais músicas de Bach. Sim, bom demais para este vale-de-lágrimas.

20.4.05

Microliteratura para microcéfalos

É eu, ué.

Tem, mas acabou.

Foi sem querer querendo.

Falta um minuto para daqui a pouco.

Ordem e progresso: abaixa as carça e faz sucesso.

Nota de rodapé: "Esta é uma obra aberta, plurívoca e interativa. Os leitores que assim o desejarem podem acrescentar um 'ou não' ao final de cada um destes contos. Ou não. All rights reserved".

(GOIABA, Ruy, "Cinq Très Petits Contes". Bibliothèque de la Pléiade, 2005, quatro volumes, 1.250 páginas. Estudos críticos de Harold Freak le Bloom Bloom, Jacques Derrida ou Desce, Néscio Pugnetari e grande elenco, mais Nélida Piñon de brinde no pôster central. Em breve, também num biscoito chinês perto de você.)

19.4.05

E o alemão chegou na frente

Chupa, Galvão Bueno.

(Entre parênteses, Bento-que-Bento-é-o-frade é gente que faz: aquele pé na bunda do Leonildo Bofe foi coisa mui linda de ver.)

Vamos abrir a roda, enlarguecer

Sei que já era assim em inglês. Mas aquela frasezinha na página de entrada do Turko ficou ainda mais sinistra vertida para o português: "Participe do Orkut para ampliar o diâmetro do seu círculo social". Count me out: meu círculo não é social e eu não estou nem um pouco interessado em ampliar seu diâmetro. Esses gringos acham que brasileiro, além de macaquito, é tudo Sarajane.

18.4.05

O filho do homem é senhor do sábado

Jesus Carta é filho do todo-poderoso Mino, única divindade reconhecida pela "Carta Capital" (conta-se que o divino Mino diz "pois não?", com aquele chiquérrimo sotaque genovês, toda vez que alguém solta um "ai, meu Deus" na redação). Jesus Carta, aos 16 anos, nunca transformou água em vinho e se deixa tentar todo dia pelo Tinhoso, sobretudo aos sábados. Em compensação, exerce sua cidadania votando e acha que já passou da hora de o papado ser ocupado por alguém do PSTU. Isso explica a aparente reviravolta editorial da revista na semana passada, com uma capa que perguntava quem Ele -Jesus Carta- escolheria para papa. Ou vocês pensavam que Ele era referência Àquele? Gente ingênua.

15.4.05

Como queríamos demonstrar

Sobre a goiabice do mundo não-virtual. Ainda na África, o Efê -sempre esse homem fatal- pede perdão pela escravidão, mas faz questão de frisar: "Não tenho nenhuma responsabilidade pelo que aconteceu no século 18, nos séculos 16 e 17". Bom saber disso. Eu já estava achando que até o "Caramuru" do Santa Rita Durão era culpa dele -quanta injustiça. Por outro lado, é bem suspeito o fato de Efê não ter mencionado o século 19: aí tem. De todo modo, sabemos que quem tem pelo menos 400 anos de idade e dorme em caixão é o Jové Dirfeu (certo, Santo?), não o Grande Timoneiro.

Em verdade, só mais isto vos digo: a concorrência do Efê com este blogue é deslealíssima. Estou pensando em me queixar ao bispo.

O pirocão do Emanoel

Emanoel Araújo, secretário de Cultura da cidade de São Paulo até o fim de semana passado, encheu-se do prefeito Zé Careca e pediu demissão numa carta à Trolha. (Que boa idéia: farei o mesmo quando pedir as contas ao senhor Burns. Vamos todos mandar nossas cartinhas de demissão à Trolha, pessoal?) Queixou-se de uma série de coisas, entre as quais a ereção (epa, opa) de uma torre de 125 metros ao lado do Masp (ou acima, não entendi bem), descrita na carta como "pirocão". E se assinou como "escultor, curador etc. e filho de Ogum". Pergunto: a) Filhos costumam ter orgulho dos pais, é um bonito sentimento. Mas ser filho de Ogum Araújo é coisa de citar em currículo? De pôr no cartão de visita? b) Por que vocês, três ou quatro leitores, ainda perdem tempo vindo aqui se o índice de goiabice do mundo dito real é muito maior?

(A coluna de Mônica Bergamo conta que, no projeto inicial, o "pirocão" era cilíndrico, vermelho e -noooffa!- com uma ponta transparente. Após o piti do Emanoel, querem fazê-lo retangular e metálico. Que bobagem. Bastava cobri-lo com uma megacamisinha no Dia Mundial de Combate à Aids: teríamos um museu com benga, mas que faz séquiço seguro, um belo exemplo para o mundo.)

14.4.05

Algumas dúvidas sobre o desarmamento

Dizem que meu voto é uma arma. Posso me desarmar? Sempre me torço de remorso ao pensar em quanta gente morre a cada vez que elejo um imbecil. Também já escutei por aí que a imprensa é a arma do cidadão. Dessa já me desarmei faz tempo: nada melhor que não ler jornais e revistas, sobretudo quando se trabalha nisso (sou -mal- pago para fazê-los, lê-los é outra história). E as notas fiscais, nossa arma contra a sonegação -posso me livrar delas? E facas de cortar pão, garrafas de cerveja, cabos de vassoura? Tudo isso pode ser usado como arma. Ah, é só arma de fogo? Mas as outras também não são perigosas? Por que não entregá-las? Peido, por exemplo: é arma química? Será proibido? O governo fiscalizará minha emissão de gases? Ganho indenização se levar a flatulência, num bonito tupperware, à delegacia mais próxima? Posso trocar minha arma por uma criança pobre? E se ela, a criança, já vier armada? E andar de cirquinho armado, posso? Se não puder, o governo paga minha operação de séquiço? Nesse caso, devo ir à Polícia Federal e botar o pau na mesa? Céus, quantas dúvidas.

13.4.05

Ah, como era grande!

Image hosted by Photobucket.com

Em visita à África, o Efelentífimo presidente da República, enrolado numa cortina e visivelmente de ressaca (à esquerda), participa de cerimônia tradicional comandada pelo rei Motumbo I (à direita). Embora naquelas circunstâncias seu círculo íntimo não tivesse dono, nosso querido presidente, dado a improvisações, não seguiu o conselho do corpo diplomático para que mantivesse a bunda bem encostada na parede durante o evento. O título do post refere-se à solitária declaração do Efelentífimo na entrevista coletiva após a cerimônia. (A foto é de Ricardo Stuckert/ABr.)

(A imagem também serve para reciclar uma piada velhíssima. Conta-se que o rei Motumbo ofereceu ao Efelentífimo os serviços de seu tradutor e intérprete, Nabundha. O Efê gostou tanto do trabalho do gajo que levou Nabundha por toda a sua viagem à África. Ficou até indeciso antes da volta ao Brasil: não sabia se levava Nabundha ou se deixava Nabundha. Agora riam, por favor.)

12.4.05

Bob Esponja calça de couro quadrada

Stephen Hillenburg, criador de Bob Esponja, declarou que o seu personagem "não é gay nem heterossexual". Mutatis mutandis, é o mesmo que Cauby Peixoto costuma dizer sobre si próprio ("não sou homem nem sou bicha; sou um artista, e artista não tem sexo"). Além disso, há aquele negócio da calça rasgada nos fundilhos. De todo modo, qual o problema se Bob Esponja prefere seu donut bem tostadinho? O Gato Félix, aquele que usa o rabo para resolver seus problemas e se envolve com o Master Cylinder, é gay há uns cem anos e ninguém o incomoda por isso. Gente preconceituosa, credo.

11.4.05

Chinese happy people cutting heads

Espero ouvir o REM e o Dalai Lama, juntos, cantando essa música no próximo Tibetan Freedom Concert. Freedom para quê, afinal? Logo vi que um sujeito que anda por aí de tênis da Nike e pano cor-de-laranja comprado na José Paulino não era digno de crédito.

(Entre parênteses, tenho uma tese. O homem que se apresenta como Dalai Lama é um impostor; o verdadeiro é o pai do Dante, que evita a todo custo os holofotes e prefere sambar no Carnaval de Piquaquá do Sul sem ser importunado. Mirem-se no exemplo.)

9.4.05

Música para ninguém cantar junto

I'm Lawrence from Euphoria
I'll share your tent
Pay your rent
It's worth every single cent
I'm Lawrence from Euphoria
You'll rise from the deep
Come in your sleep
No more will you weep
I'm Lawrence from Euphoria

There's Vivian from Oblivion
She does it for free
For my friends and me
She's Vivian, I'm Lawrence
Lawrence from Euphoria

There's Ellie Mae from Californ-i-a
She does it all right
But her lips are tight
She tucks me into bed at night
She's Vivian's twin sister, Ellie Mae
And I'm Lawrence from Euphoria


("Lawrence of Euphoria", de Skip Spence -nascido em 1946, morto em 1999, ex-baterista do Jefferson Airplane, ex-guitarrista do Moby Grape, "diagnosed schizophrenic", Syd-Barrett-canadense e autor de "Oar", de 1969, um dos discos de roque menos ouvidos. Ou seja, the ultimate cult figure. Se der, depois ponho o MP3 aqui.)

8.4.05

Wunderblogs.com, o filme

Claro, vocês esperavam o quê? É um passo lógico na expansão do nosso Eixo do Mal. Película genuinamente nacional, 100% botocúndica, mas feita como nos bons tempos: sem roteiro, sem grana do Unibanco e com aquele som gravado do fundo do barril. Em compensação, não teremos alusões aos ânus de chumbo nem gente usando o modelito short-revólver-Havaianas, muito menos Carlinhos Brown ou Seu Jorge na trilha sonora. Já é alguma coisa.

A escalação de elenco está bem adiantada. É possível que tenhamos Antônio Fagundes, o dono do mundo, como Alexandre Soares Silva. Tony Ramos & seus pêlos como Daniel Pellizzari. Pedro Cardoso como FDR. Júlia Lemmertz & Alexandre Borges como Miss Veen & Marcelo De Polli. José Wilker, vestido de Antônio Conselheiro, como Felipe Ortiz, the Mad Monk. Osmar "Tião Galinha" Prado como o mago dos palíndromos César Miranda. Matheus Nachtergaele como o Flagelo de Sodoma. Eri Johnson, de camisa da seleção alemã, como mozart. Narjara Turetta como Dante. O Trio Los Angeles como Ruy Goiaba. Na ausência de Walter Hugo Khouri, Neville d'Almeida ("Rio Babilônia, uo-ou, uou, uou") na direção. Paulo César Pereio e Jece Valadão como santos padroeiros. Aldine Müller, Monique Lafond e Helena Ramos numa cena de orgia ortodoxa, com direito a spanking e lambidas no carpete (ai, que loucura). E Mário Gomes e sua cenoura como special guest stars. Só pode ser um sucesso, certo?

7.4.05

Invasão corintiana em Roma

Habituados há séculos a ser invadidos (epa, opa) por gente como os hunos e os Doces Bárbaros, agora os romanos se vêem às voltas com invasores de um grau inimaginável de barbárie. Quem acompanha os jornais já sabe que, depois da morte do papa, Roma foi tomada por hordas de corintianos -ou de poloneses, que são uma espécie de corintianos do Leste Europeu; dá na mesma- deixando seu habitual rastro de lixo, devastação e pagode. O chefe da Defesa Civil de Roma, evidentemente palmeirense, já mandou fechar os acessos à cidade. Os comandantes da invasão gambática, porém, dizem que vão lotar a praça São Pedro (no mínimo, pau a pau com a torcida adversária), vestir uma camisa de Carlitos Tevez no Santo Padre e dar a volta olímpica levando o seu esquife, aos gritos de "ôôôôô, curintiano, maloqueiro e sofredô". Contamos com a eficiência dos cassetetes da polícia para evitar essa terrível blasfêmia -e, claro, ver corintiano apanhando é sempre divertido.

5.4.05

Pequena antologia goiabal

Saul Bellow (1915-2005)

"For a long time, perhaps from the middle of the nineteenth century, writers have not been satisfied to regard themselves simply as writers. (...) They have found it necessary to take a position, not merely to write novels. In bed last night I was reading a collection of articles by Stendhal. One of them amused me very much, touched me. Stendhal was saying how lucky writers were in the age of Louis XIV not to have anyone take them very seriously. Their obscurity was very valuable. Corneille had been dead for several days before anyone at court considered the fact important enough to mention. In the nineteenth century, says Stendhal, there would have been several public orations, Corneille's funeral covered by all the papers. There are great advantages in not being taken too seriously. Some writers are excessively serious about themselves. (...) There is such a thing as overcapitalizing the A in artist. Certain writers and musicians understand this. Stravinsky says the composer should practice his trade exactly as a shoemaker does. Mozart and Haydn accepted commissions -wrote to order. In the nineteenth century, the artist loftily waited for Inspiration. Once you elevate yourself to the rank of a cultural institution, you're in for a lot of trouble. Then there is a minor modern disorder -the disease of people who live by an image of themselves created by papers, television, Broadway, Sardi's, gossip, or the public need for celebrities. Even buffoons, prizefighters, and movie stars have caught the bug. I avoid these 'images'. I have a longing, not for downright obscurity -I'm too egotistical for that- but for peace, and freedom from meddling."

(Trecho da entrevista de Bellow, romancista e ensaísta morto hoje nos EUA, à "Paris Review", em 1966. O site da revista tem a íntegra e mais um sem-número de entrevistas bacanas. Passeie por lá.)

4.4.05

Papa aqui, papa acolá

Esse negócio de chamar os candidatos a papa de "papáveis" é uma falta de respeito, né não? Só falta começarem a dizer que o cardeal Fulano é "fofinho", o cardeal Sicrano é "jeitoso" e o cardeal Beltrano é "sapeca". Pura esculhambação dessa mídia cheia de são-paulinos ateus, safados e sem-vergonhas. A não ser que o Vaticano esteja, enfim, admitindo a possibilidade de um João 24, para trazer a militância gay de volta ao seio da igreja (epa, opa). Sei não. Prefiro cantar com Chesterton: "Ortodoxia-a, eu quero uma pra viver".

2.4.05

Outra das virtudes teologais

Conhecidos e desconhecidos, mes semblables, mes frères, criticam acerbamente a hipocrisia, não obstante fazerem bom e saudável uso dela em suas relações cotidianas. Bobagem. Se aplicarmos a fórmula de La Rochefoucauld -homenagem que o vício presta à virtude-, veremos que ela pressupõe não só a certeza de que existem vícios e virtudes como a capacidade de distinguir claramente entre uns e outras. É, portanto, qualidade rara em muitos ambientes. Hipocrisia às vezes dá náuseas porque é uma das condições da civilização, aquele troço que provoca um mal-estar danado, como dizia o charlatão vienense. (Condição necessária, mas não suficiente: do contrário, bastaria os brasileiros serem como são -especialistas em sorrisinhos pela frente e cuteladas pelas costas- para que algo parecido com civilização vingasse por aqui.) Quanto a "sinceridade", "espontaneidade" e outras palavras bonitas, fico com a sabedoria de Daniel Pellizzari: "(...) A espontaneidade não consigo imaginar para que serviria, na literatura ou fora dela. Constranger os convivas, talvez". Lição preciosa, que custo a aprender: deve ser por isso que os convites para jantar têm escasseado por aqui.

P.S.: Quem se incomodar com o "charlatão vienense" pode ler "cheirador do Império Austro-Húngaro" ou "tarado da Morávia".

1.4.05

Celulite: venha conferir

Sou um fã confesso da falta de pontuação e das subversões sintáticas nas faixas e placas espalhadas por este Bananão tão bonito de meu Deus. Elas transformam o que seria simples anúncio de serviços em coisa muito mais divertida. Casos clássicos e fartamente divulgados são o "família muda vende tudo", graças ao qual muita gente aprendeu a linguagem de sinais para fazer negócios, e o "corto cabelo e pinto", que espantou de uma barbearia inúmeros fregueses temerosos de virar eunucos.

Há pouco tempo, uma clínica estética no meu bairro resolveu dar sua contribuição a esse bestialógico com o brilhante enunciado que está no título deste post. Pergunto: será uma revolucionária técnica para desenvolver a celulite em quem não tem? Um curso básico para ensinar aos homens a diferença entre celulite e estrias? Ou uma senhora impressionantemente celulitosa que satisfaz as perversões dos clientes sentando-se neles? Ai, que loucura.

Seja o que for, eu é que não vou conferir. Vocês iriam?