30.3.03

SOLTANDO O POLICARPO QUARESMA

Muito já se falou sobre aquela coluna em que Danuza Leão anunciava, não sem uma certa solenidade, que deixaria de tomar Coca-Cola para não compactuar com esses americanos imperialistas, chatos, bobos e feios. Mas Danuza, meus caros, não passa de uma radical de butique: o verdadeiro militante antiimperialista sou eu. Saibam que não estou mais usando o Blogger para pôr no ar estas mal traçadas, e sim um programa chamado Obaluaê -funciona à vela, mas só às vezes, quando recebe o espírito do Pierre "Fatumbi" Verger. Também substituí o Outlook Express pelo Rápido Ubirajara, troquei o Word pelo carvão no papel de pão e queimei minhas calças jeans: como a Chiquita Bacana, visto-me com uma casca de banana nanica (nossa, que veadagem). Só falta terminar de ler o dicionário do Gonçalves Dias para eu começar a escrever este diário eletrônico -abaixo o uso da palavra weblog!- em tupi-guarani.
FIGUEIREDÃO REVISITED

Quem for a favor da guerra eu prendo e arrebento.

(Entre parênteses, sempre achei que havia algo de admirável naquela sinceridade eqüina do Figueiredo. Não é sensacional um sujeito ouvir uma criança perguntar "presidente, o que o senhor faria se ganhasse salário mínimo?" e responder "ah, minha filha, eu dava um tiro no coco"? Chega a ser comovente.)

26.3.03

NOTAS ALEATÓRIAS SOBRE ASSUNTOS IMPORTANTÍSSIMOS

1) Para meu desconsolo, perdi aquele programa de TV que reuniu o fino do brega deste país -desde meu pingüim cover de hoje, o grande Waldick Soriano, até o amigo do Charlie Brown, Benito Di Paula. Mas não perderia por nada a aparição do meu guru Baiano Meloso na cerimônia do Oscar. Senhores, em verdade vos digo: nada poderia ter sido mais decepcionante. Meloso não cantou de sarongue, não leu trechos de sua "Verdade Tropical", não deu uma só reboladinha -e, pior, não levou cachos de banana para atirar naquela platéia de impérialishtas. Lamentável.

2) Quando é que alguém vai fazer um gerador de entrevistas de poetas concretinos (mais uma missão para você, minha cara Daniela Abade)? Vejam só esta que o pós-tudo Augustão concedeu ao "Digestivo Cultural". Ele nem precisaria ter aberto a boca: eu já sabia que ele mencionaria Pound no mínimo três vezes, faria vários auto-elogios, tentaria transformar o João Cabral em integrante da "tchurma" e desceria o sarrafo no Gullar.

A única coisa curiosa é uma citação de Fernando Pessoa -"a soma de toda uma vida de sentimento e pensamento pode, por vezes, inserir-se no total de um poema de oito linhas"- que Augustão usa para justificar sua minúscula produção poética. Não é maravilhoso que toda a vida intelectual dos concretinos se resuma num poema complexo como "viva/vaia"? Bem, um dia reconhecerão que eu fiz a síntese definitiva do trabalho deles.
WHY DO THE WRONG PEOPLE TRAVEL?

Yes, nós temos goiabas. Voltei, quase a contragosto -vocês sabem, a vida em Long Beach é tão idílica que hesitei muito em retomar minha rotinazinha blogueira. Fartas porções de frango com areia e churros, pança desinibidamente exposta e caindo em camadas sobre a sunga, pele lindamente descascada, litros de Kaiser em lata (quente, como sói) e farras com a picape de um dos meus primos -a única em todo o litoral brasileiro cujo equipamento de som tocava "Don Giovanni" e "As Bodas de Fígaro" no talo. De quebra, Montaigne, Hugo de São Vítor e a revista Caras para os dias chuvosos. Dizem que há uma guerra em curso, mas ainda não consegui descobrir se é aquela guerra dos ovos narrada pelo dr. Lemuel Gulliver ou se o Baudelaire, finalmente, conseguiu umas armas químicas bacanas para bombardear os belgas.