"Blogare stanca", como diria o
Cesare Pavese se estivesse vivo, fosse blogueiro e morasse na Mooca. Em certas épocas, é duro espremer Hans e Fritz, meus dois neurônios germânicos, para escrever algo aqui. Mas o ambiente cultural da Botocúndia é naturalmente laxativo e propício à expressão de idéias sem serventia alguma. É só fazer um pouquinho de força que elas saem; algumas até viram teses, elegem políticos ou vendem cerveja.
Então, falemos de literatura.
Shakespeare disse, quase no final daquela peça-que-se-passa-na-Escócia-e-cujo-nome-o-pessoal-de-tchiatro-evita-dizer-porque-acha-que-dá-azar, que a vida era "uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, significando nada". Aí vem o
William Faulkner e escreve "O Som e a Fúria", romance cujo primeiro capítulo é narrado -ora, vejam só- por um idiota, Benjy (e a narrativa é tocante, de verdade. Não li tudo do Faulkner, mas acho que ele é como um vinho às avessas -quanto mais moço, melhor). Fico pensando se o Bardo tivesse escrito, simplesmente, que a vida é uma merda. Vocês imaginam a obra-prima que seria um romance narrado do ponto de vista do tolete?
Na verdade, eu não só consigo imaginar como já li alguns. Literatura brasileira contemporânea é, com as exceções de sempre, um caso para a Vigilância Sanitária. Se eu fosse o
Alfredo Bosi, renunciaria à Academia para gerenciar a
Desentupidora Rola Bosta. Presumo que seja um trabalho bem menos insalubre.