30.11.04

RAÍZES DO BRASIL

Aqui está um exclusivo flagrante fotográfico feito por Gilberto Freyre em 1500, segundos antes de as três raças felizes que deram origem à brava gente brasileira caírem na fodelança, sob os coqueiros que dão coco e à merencória luz da lua -e eles cresceram e se multiplicaram. Da esquerda para a direita, Ziriguidum, Telecoteco e Forrobodó, não necessariamente nessa ordem.

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(Foto extraída do site Charges.com.)

29.11.04

The Gospel According to St. Linux

Depois dizem que a Bíblia não é moderna: segundo o Êxodo, depois de receber de Deus duas tábuas da lei, Moisés deu um piti -por causa daquela história da idolatria ao bezerro de ouro- e quebrou as duas. O Senhor imediatamente providenciou novas tábuas, o que prova que Deus não apenas salva como faz backup. Nessa perspectiva, o dilúvio não passa de um grande control-alt-del. Aliás, o Grande Cabeção (copyright do Dante) anda precisando fazer isso de novo, porque esta porcaria de mundo não pára de travar. Em verdade vos digo: o nome de Bill Gates é legião.

27.11.04

Semana do presidente reloaded

Gentes de esquerda que lêem este blogue -na talvez generosa suposição de que saibam ler-, faço uma pergunta aos mais velhos de vocês (na verdade, já feita em um post da minha amiga Silvia). Que diferença essencial há entre a antiga "Semana do Presidente", em que Silvio Santos, por meio da narração do Lombardi, dedicava-se a bajular João "tiro-no-coco" Figueiredo, e os recentes documentários nos quais dois cineastas empregam o melhor de seu talento em puxar o saco do Efelentífimo? Vejo apenas duas: a ausência de pretensões artísticas da parte do Patrão e o charmoso cabelo penteado-de-ladinho do João Moreira Salles. (Aliás, a julgar por Marcinho VP e Nelson Freire, o filho-de-banqueiro está fazendo uma série de documentários temáticos sobre barbudinhos. Espero que ele chegue logo ao Kenny Rogers.)

O que quero saber é se os blogueiros que põem sua independência e seu espírito crítico a serviço do governo também têm direito a verba do Estado. Supondo que tenham, pensei em fazer como o Eduardo Coutinho e suprimir do puragoiaba aquelas passagens em que sugiro, muito sutilmente, que o Efelentífimo é um pau-d'água stalinista. Mas sei que não adiantaria: o Bananão está cheio de blogueiros independentes e críticos que receberiam esse subsídio muito antes de mim. Triste vida esta em que a gente paga ao Grande Ogro para não receber nada de volta, nem mesmo uma mamadinha nas garçonetes (subsidiadas pelo BNDES) da Hooters.

26.11.04

Sopa de letrinhas

O Ministério da Saúde usa em suas campanhas de prevenção da Aids a sigla HSH, que significa "homens que fazem séquiço com homens" (assim como MSM, vocês adivinharam, é "mulheres que fazem séquiço com mulheres". Isso pode dar margem a mal-entendidos: Fulano diz que, hummm, curte MSM, Sicrano pergunta se é o Mídia Sem Máscara e o primeiro tem de explicar que não, esse é outro tipo de perversão). Parece uma classificação estritamente objetiva e, dependendo do caso, mais exata que "homossexual". Não para a bicharada militante, que entende a sigla como uma manifestação de homofobia, outra tentativa de ocultar o amor-que-não-ousa-dizer-o-nome. Se o governo, qualquer governo, tivesse algum senso de humor, faria uma contraproposta como "OK, então vamos trocar HSH e MSM por QR e CV -queima-rosca e cola-velcro. Soa melhor para vocês?". Seria, é claro, imediatamente processado com base naquele artigo do Código Penal que pune o senso de humor com até cinco anos de reclusão.

Militantes de qualquer coisa são, por definição, um pé 54 nas gônadas. Dá até vontade de mandar esse pessoal não tomar no cu.

25.11.04

Ruy Goiaba, blogue é literatura?

O leitor pode escolher uma das seguintes respostas:

a) "Sim, qualquer analfabeto sabe disso."

b) "Não, blogue é religião."

c) "Não, blogue é a orelha perdida do Van Gogue."

d) "Não, blogue é a soma do quadrado dos catetos."

e) "Não, blogue é o que está aqui atrás da minha Zorba. Pega no meu blogue e diz ailóviu, beibe."

24.11.04

Um hino para a Wunderlândia

We are the Village Green Preservation Society
God save Donald Duck, vaudeville and variety
We are the Desperate Dan Appreciation Society
God save strawberry jam and all the different varieties

Preserving the old ways from being abused
Protecting the new ways for me and for you
What more can we do?

We are the Draught Beer Preservation Society
God save Mrs. Mopp and good Ol' Mother Riley
We are the Custard Pie Appreciation Consortium
God save the George Cross and all those who were awarded them

We are the Sherlock Holmes English Speaking Vernacular
Help save Fu Manchu, Moriarty and Dracula
We are the Office Block Persecution Affinity
God save little shops, China cups and virginity
We are the Skyscraper Condemnation Affiliate
God save Tudor houses, antique tables and billiards

Preserving the old ways from being abused
Protecting the new ways for me and for you
What more can we do?

God save the Village Green


Atualização, 25/11: graças ao auxílio luxuoso da Colorina, este blogue passa a ter trilha sonora. Não é preciso pedir cinco notas ao maestro Zezinho: basta clicar na nota solitária aí embaixo para ouvir "The Village Green Preservation Society", com os Kinks.

23.11.04

Edemar, Edemar, tão bonitinho

O dono do Banco Santos mora numa casa construída por Ruy à Beira de um Ohtake de Nervos e montou uma coleção de quadros avaliada em até US$ 30 milhões -mas, ao que parece, não possui nem uma Caloi Ceci em seu nome. Tem, isso sim, amigos sensitivos e clarividentes, como Zé Ribamar Sarney, que devido a um mau pressentimento tirou todo o seu dinheiro que estava no banco. Por coincidência, bem na véspera da intervenção do governo.

Sarney, aliás, é um polímata, um ser cujos múltiplos talentos são tristemente ignorados. Além de poeta e defensor da liberdade, como bem diz a Academia, o ex-presidente é um Walter Mercado maranhense. E também poderia ser, ele mesmo, banqueiro. Imaginem um banco em que não sejam necessários documentos para abrir sua conta; tudo é garantido pelo fio do bigode. Faria o maior sucesso neste país em que otários nascem como capim.

19.11.04

Hardcore economists

A principal notícia dos jornais de hoje é a demissão do economista Carlos Lessa da presidência do BNDES e sua substituição por Guido Mantega, que trabalhou com Marlon Brando n'"O Último Tango em Paris". Mas sinto uma antipatia invencível pelas notícias principais. Prefiro as irrelevantes, como esta: celebridades célebres fizeram um abaixo-assinado em apoio ao economista que levou um pé na bunda. Contém as assinaturas do Fóssil Stalinista, do Compositor Fanho -ou seja, os suspeitos de sempre- e do Frejat. Não sei se o Efelentífimo o leu antes de demitir Lessa. Se leu, dou os parabéns: também demitiria imediatamente qualquer sujeito que tivesse o apoio do Frejat. Roqueiro metendo o bedelho em economia é como a Maria da Conceição Tavares querendo ser vocalista do Sepultura. (O que, pensando bem, não seria má idéia. Afinal, Conceição Tamanco é "roots bloody roots", thrash metal na veia.)

17.11.04

Quero ser Ortega y Gasset

"Farei o mais leal esforço para que a todos os senhores, mesmo sem prévio adestramento, fique claro quanto diga. Sempre acreditei que a clareza é a cortesia do filósofo e, ainda, esta nossa disciplina coloca sua honra, hoje mais do que nunca, em estar aberta e porosa a todas as mentes, diferentemente das ciências particulares, que cada dia com maior rigor põem entre o tesouro de suas descobertas e a curiosidade dos profanos o dragão tremebundo de sua terminologia hermética. Penso que o filósofo tem que extremar para si mesmo o rigor metódico quando investiga e persegue suas verdades, mas que ao emiti-las e enunciá-las deve fugir do cínico uso com que alguns homens de ciência se comprazem, como Hércules de feira, em ostentar ante o público os bíceps de seu tecnicismo." "Um livro só é bom na medida em que nos traz um diálogo latente, em que sentimos que o autor sabe imaginar concretamente seu leitor e este sente como se uma mão ectoplásmica saísse das linhas para tocá-lo -ou então, cortesmente, dar-lhe um soco." "A palavra é um sacramento de administração muito delicada." "Ser da esquerda, assim como ser da direita, é uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser um imbecil: na verdade, ambas são uma forma de hemiplegia moral." "As revoluções, tão incontinentes na sua pressa, hipocritamente generosa, de proclamar direitos têm sempre violado, pisado e rasgado o direito fundamental do homem, que é a própria definição de sua substância: o direito à continuidade. A única diferença radical entre a história humana e a 'história natural' é que aquela nunca pode começar de novo. Kohler e outros demonstraram como o chimpanzé e o orangotango não se diferenciam do homem por aquilo que, a rigor, chamamos de inteligência, mas porque têm muito menos memória do que nós. Os animais se defrontam a cada manhã com o fato de terem esquecido quase tudo o que viveram no dia anterior, e seu intelecto tem que trabalhar sobre um material mínimo de experiências. Da mesma forma, o tigre de hoje é idêntico ao de seis mil anos atrás, porque cada tigre tem que começar de novo a ser tigre, como se nunca tivesse existido outro. O homem, ao contrário, devido a seu poder de lembrar, acumula seu próprio passado, toma posse dele e o aproveita. Nunca é um primeiro homem: desde o início, já existe a partir de um certo nível de passado acumulado. Este é o tesouro único do homem, seu privilégio e sua marca. E, de todo esse tesouro, a maior riqueza não consiste no que parece certo e digno de ser conservado: o mais importante é a memória dos erros, que nos permite não cometer os mesmos. O verdadeiro tesouro do homem é o tesouro de seus erros, a longa experiência de vida decantada gota a gota durante milênios; Nietzsche define o homem superior como o ser 'da mais longa memória'. Romper a continuidade com o passado, querer começar de novo, é aspirar a plagiar o orangotango."

(A primeira frase está em "Que É Filosofia?"; as seguintes, no "Prólogo para Franceses" de "A Rebelião das Massas". Às vezes me dá vontade de fechar este blogue e montar outro só de trechos do Ortegón, à semelhança do que fizeram com o Chesterton. Quem dera eu tivesse pelo menos metade do talento do filósofo careca.)

16.11.04

Faça aqui sua confissão vergonhosa

Sim, eu gosto de Paul McCartney cantando "Maybe I'm Amazed".

Não só. Toco air piano quando escuto a música. E grito junto naquele trecho do "maybe you're the only woman who can eeever heeelp meee". Pior, só quando me meto a cantar "Subterranean Homesick Blues", do Bob Dylan, pelo nariz. Se as pessoas conhecessem a vida musical umas das outras, não se dariam bom-dia na rua, já dizia o tarado de pijama. Se vocês também quiserem confessar algum guilty pleasure, recorram aos comentários. Mas não espantem os cavalos na rua, que este é um blogue de família. :)

Canção para dias chuvosos

Para mudar a paisagem cinzenta, segue este e.e. cummings.

if i have made, my lady, intricate
imperfect various things chiefly which wrong
your eyes (frailer than most deep dreams are frail)
songs less firm than your body's whitest song
upon my mind -if i have failed to snare
the glance too shy- if through my singing slips
the very skillful strangeness of your smile
the keen primeval silence of your hair

-let the world say "his most wise music stole
nothing from death"-
you only will create
(who are so perfectly alive) my shame:
lady through whose profound and fragile lips
the sweet small clumsy feet of April came

into the ragged meadow of my soul.

15.11.04

Mamãe, olha eu no Grobo

Em mais uma prova da decadência da imprensa brasileira, fui citado -é verdade que na honrosíssima companhia de Claudia Letti e FDR- pela Elis Monteiro em reportagem no caderno de informática d'O Globo (é preciso estar cadastrado no site do jornal para lê-la). Dearest, agradeço muitíssimo pela atenção, mas faço dois minúsculos reparos. Não "admiti" que o blogue (assim mesmo) me ajudou a ganhar visibilidade: pelo contrário, disse que a invisibilidade profissional tinha suas vantagens. E não sou "papai" dos Wunderblogs: fui convidado pelos verdadeiros pais da criança, Marcelo De Polli e Juliana Lemos, que pariram Mateus e o embalam diariamente. Também sou jornalista e sei que, na edição, essas coisas acontecem desde que Genésio foi crucificado. Seria injusto, porém, se não dissesse que fiquei contente. Obrigado, Elis.

Atualização, 16/11: Com a permissão da Elis Monteiro, coloco aqui a íntegra das perguntas dela e das minhas respostas.

1) Seu blog, o puragoiaba, acabou de completar três anos. Pelo que pude perceber em minhas visitas, você curte muito poesia, tem um talento nato pra escrever e uma ironia refinada (coisas de coleguinha :-). O que vc busca com o seu blog? Visibilidade profissional, desabafo, exercício da escrita, ou seja, como vc se classificaria "enquanto" blogueiro?

Muitíssimo obrigado pelos elogios. Gostaria de dizer que montei o blogue com o único e exclusivo fim de pegar mulher, mas isso passou a ser desnecessário desde que substituí meu desodorante Avanço por essência de feromônio -agora elas se atiram aos meus pés, rasgam minha roupa, coisa de louco. :) Falando sério -o que, aliás, é difícil para mim-, a única intenção do puragoiaba (tudo junto, em caixa-baixa) é servir de exercício de escrita, sobretudo humorística. Como não se trata de um blogue confessional, não o uso para desabafar. E acho que uma certa invisibilidade profissional tem suas vantagens.

2) Várias editoras pequenas surgiram depois do fenômeno dos blogs, mas parece que a relação entre blogs e literatura amadureceu, parece que houve uma "peneirada". Você concorda?

Não sei dizer, Elis. Penso, em primeiro lugar, que o surgimento de editoras pequenas é, em geral, anterior ou simultâneo à explosão dos blogues no Brasil -não uma conseqüência dela. Essas duas coisas podem, talvez, fazer parte do mesmo fenômeno: mais gente interessada em dar a ver suas produções e se organizando para isso, seja por meios mais tradicionais e dispendiosos, como a edição de livros, seja a custo zero ou perto disso, por intermédio dos blogues.

Também acho arriscado dizer que a relação entre literatura e blogues amadureceu ou que houve uma "peneirada". Se por isso você entende uma seleção dos blogueiros que têm condições de fazer literatura -ou coisa parecida-, acho que esse é um processo natural, não? Como diria o barbudão Darwin, os melhores sobrevivem, nos blogues ou fora deles. De outra parte, pode ser que a tal relação entre literatura e blogues esteja só começando. Orson Welles gostava de citar uma frase do Chesterton, algo como "ninguém sabe se o mundo é muito velho ou muito jovem". Penso que o mundo dos blogues ainda é jovem.

3) Você faz parte dos Wunderblogs? Vocês achavam que podia rolar um blog? Acredita que obras desse tipo (coletivas) sejam mais complicadas ou mais simples de criar?

Sim, faço -mas essa pergunta requer correções. Os Wunderblogs são um portal, comandado pelo casal Marcelo De Polli (dono do blogue Aqua Permanens) e Juliana Lemos (dona do Miss Veen). Num dado momento, Marcelo e Juliana começaram a convidar blogues que gostavam de ler para fazer parte do portal. Hoje, são 25; eram 11 na época em que nosso livro começou a ser editado. Esses 25 blogueiros dividem entre si as despesas (baixas) com a hospedagem.

Portanto, não se trata de achar que podia "rolar um blogue": eu, que entrei no portal em maio de 2003, já tinha um blogue desde novembro de 2001. Também acho que o portal não pode ser classificado como "obra coletiva": ele é um agrupamento de gente cujas opiniões são, às vezes, radicalmente dessemelhantes (o único traço de união seguro é o fato de todos escrevermos, modéstia às favas, bem). O livro, sim, é uma obra coletiva. Mas me arrisco a dizer que nenhum de nós cogitava lançar uma coletânea de posts em livro até que o Freddy Bilyk, dono da Barracuda, propusesse isso. Foi só uma questão de selecionar e organizar os textos para a parte que me cabia na obra.

4) Os Wunderblogs são a transposição dos posts para o papel (blog de papel). Você acha que perde muito em conteúdo o autor que transforma um blog num livro, já que ele perde ferramentas como links e até uma certa temporariedade (o blog está em constante movimento, o livro é eterno)?

Dependendo da seleção que o autor faz, não. Eu mesmo procurei escolher para o livro textos que não dependessem de links nem estivessem ligados aos "acontecimentos" a ponto de ser muito perecíveis. Para mim, uma das vantagens do blogue é a possibilidade de reescrevê-lo continuamente. Mas, pelo menos enquanto a tecnologia não resolver isso, nada será tão agradavelmente portátil quanto um livro. Levar o laptop para ler na banheira não dá pé. E eu nem tenho um laptop -imagine arrastar meu PC para o banheiro. :)

5) As editoras têm recebido muitos originais de blogueiros, mas, pelo menos pelo que me dizem, a maioria é de autores que usam o blog como divulgação/teste para o leitor. Como você se encaixa? Você já pensava em ser escritor, já trabalhava com isso?

Olhe, sou um sujeito muito interessado em literatura desde a adolescência, que é, como todos sabemos, a idade mais propícia para contrair esse tipo de doença. :) E escrevo, com alguma regularidade, poesia, mas nunca quis usar o blogue como meio de escoamento dessa produção. Acho que meus versos se sentem mais à vontade na minha gaveta. De vez em quando dou uma arejada, para que respirem. (Às vezes é divertido irritar o leitor, mas não chegaria ao ponto de pôr meus poemas no blogue. Para tudo há limite, ora. :))

Como eu disse, o que quero no puragoiaba é apenas fazer humor -algo que seja divertido para mim e, se possível, para quem me lê. Procuro fazer com que as veleidades literárias fiquem fora disso, embora leitores e amigos como a Meg vivam me dizendo o contrário. O máximo a que aspiro é ser um Zé Vasconcellos ("ih... ih... esqueci") meio metido a besta, que leu algum Ortega y Gasset.

6) Você costuma navegar pelos blogs? Conhece bons escritores que apareceram na internet?

Ultimamente, minha vida extrablogue me obriga a navegar bem menos do que gostaria. Mas certamente conheço. Estou num portal que congrega gente que já lançou livros solo (em alguns casos, antes mesmo de virar "blogueiro"), como Alexandre Soares Silva, Daniel Pellizzari e Fabio Danesi Rossi. É coberto de vergonha que admito não ter lido, ainda, os livros de alguns dos meus colegas, como o Pellizzari. Mas posso dizer que é gente muito inteligente, culta e promissora. O mínimo que espero é que eles não me decepcionem. :)

7) Você acha que o blogueiro é bom em produzir literatura?

É impossível generalizar: alguns são, outros não. Simples. Acho até que no Brasil há muitos escritores péssimos em produzir literatura. Se tanto o papel como os blogues aceitam tudo, vamos em frente.

8) Segundo a Meg, "o lançamento dos Wunderblogs foi um acontecimento que marcou uma nova etapa na trajetória, na destinação do blog como meio de disseminação de idéias". Você acha que houve mesmo uma revolução na forma de escrever? Acha que os blogs podem ter contribuído para mudar a forma como se escreve/lê?

Revolução não, imagine. Sou rigorosamente contra a banalização desse termo -como conservador, acho que revolução de verdade tem que ter rei decapitado, família do czar fuzilada, essas coisas. :)

O que acho é que pode estar se cristalizando a idéia de que blogues não têm de ser diarinhos -podem ser escritos por gente alfabetizada, com coisas eventualmente interessantes a dizer. O blogue é apenas um instrumento, que na minha opinião pode servir até para a divulgação de tratados teológicos (embora eu ainda não tenha visto nenhum por aí). Essa mudança de percepção é muito boa -e aí, sim, penso que os Wunderblogs contribuíram para que se percebesse que blogues podem e devem ser bem escritos. É por aí que entendo a avaliação da Meg, com toda a generosidade que lhe é característica.

14.11.04

Eu sou brasileiro e não limpo a bunda

Hoje, acordei angustiado e com vontade de pedir ao mundo desculpas pela eleição do Efelentífimo. Consultei, porém, os oráculos e eles me asseguraram que o mundo está cagando e andando -no que faz muito bem. Deitada desde sempre em berço esplêndido, é natural que a Botocúndia ainda não saiba andar. Poucas fraldas Pampers e muita saúva, os males do Brasil são.

12.11.04

Que país é esse?

No jornalismo brasileiro, Sérgio Dávila é uma espécie de Leonel Brizola reloaded, que substituiu as "perdas internacionais" pelo "neoconservadorismo da era Bush". Essas palavras explicam rigorosamente tudo o que acontece nos Euá since the puritans got a shock when they landed on Plymouth Rock, como dizia o Cole Porter. Agora há pouco, por exemplo, nosso herói assegurou que "Os Incríveis", novo filme de animação da Pixar, é uma metáfora dos imperialistas impedidos de usar seus superpoderes pela comunidade internacional, coitadinhos. Também prova que a refilmagem de "Alfie", com Jude Law no papel que foi de Michael Caine nos anos 60, vai mal nas bilheterias porque o público -isto é, os eleitores- não quer ver "um cara que sai transando por aí" (saber se o filme é bom ou não, de fato, é absolutamente secundário).

Porém, apesar de toda a sua competência, Dávila omite coisas essenciais. Ele não diz que toda a indústria norte-americana de filmes X-rated faliu, assim como as revistas pornográficas: ninguém mais no país quer ver gente que sai transando por aí. E o desemprego no mercado de prostituição já atingiu níveis alarmantes. Os bushistas tentam contra-argumentar com o altíssimo faturamento das indústrias siderúrgica e têxtil, que multiplicaram por cem a produção de cintos de castidade e lençóis com buraquinho no meio. Mas não adianta. Que país é esse em que uma pessoa não pode apertar a mão de outra sem autorização da Food and Drug Administration, sob risco de engravidar? Em que ninguém fuma com medo de pegar Aids? É tudo culpa desse feladaputa do Arbusto. Plymouth Rock should land on him.

11.11.04

Antologia de pichações

"Os russos comem criancinhas, os americanos vendem. Nada funciona."

Essa pichação, do tempo da Guerra Fria, estava num muro perto da minha casa, 20 anos atrás. Gosto dessa mistura de Malthus com Schopenhauer: há mais filosofia nos muros da cidade do que supõe nossa vã literatura. Se você também se lembra de alguma pichação antológica, partilhe essa lembrança conosco nos comentários.

9.11.04

O que aprendi com Jorge Dáblio Arbusto

Os Euá têm plantação de fundamentalista cristão transgênico. Todos nascem com cara de corn flakes, já cantando "God Bless America" e com vontade de bater, com sua Bíblia, em qualquer pessoa que use uma toalha na cabeça. Depois da colheita, em intervalos regulares de quatro anos, são armazenados em celeiros repletos de cabines de votação, que nos Euá estão por toda parte -em lavanderias, lojas de roupas para noivas, chiqueiros e até vasos sanitários, para que os bêbados conversadores-de-privada não deixem de votar enquanto vomitam. Os fundamentalistas cristãos transgênicos são resistentes a herbicidas e a opiniões de comentaristas políticos brasileiros. Numa palavra: morféticos!

(Só não atinei, ainda, com o que eles fazem entre as eleições. Talvez sejam comidos pelos marines no café da manhã. Afe!)

Free your ass and your mind will follow

Só em Noviorque isso de fundamentalista cristão transgênico não pega. Lá todo mundo dá a bunda e, portanto, é gente boa. (Ninguém me contou, eu vi num episódio de "Sex and the City".)

8.11.04

Trilha sonora para a segunda-feira

I, I love the colourful clothes she wears
And the way the sunlight plays upon her hair
I hear the sound of a gentle word
On the wind that lifts her perfume through the air

I'm picking up good vibrations
She's giving me the excitations
(Oooh, bop-bop, good vibrations, bop-bop, excitations)
(Good, good, good! Good vibrations...)
(Good, good, good! Good vibrations...)


(I don't know where, but she sends me there.)

6.11.04

Os aniversariantes do dia

Há gente interessante que aniversaria em 6 de novembro. Tanto intelectualmente, como o romancista Robert Musil e a poeta Sophia de Mello Breyner Andresen, quanto fisicamente (Rebecca Romijn-Stamos e Daniella Cicarelli dispensam apresentações). Tem também a mãe do Forrest Gump, mas, claro, ninguém é perfeito.

Somando tudo, este é um bom dia para o puragoiaba fazer três anos. Como sempre, os sanduíches de mortadela e a sidra (de excelente safra, diga-se) são virtuais, mas sinceros. E a casa, que procura servir bem para servir sempre, agradece pela preferência.

5.11.04

Kledir, gênio da raça

Meus amiguinhos colonizados não gostam de emepebê, meleca prapular brasiguaia. É gente insensível, incapaz de se enlevar com as letras de Kledir Ramil, gênio da brasilidade e irmão siamês do Kleiton. Vejam, entre inúmeros trechos citáveis, esta passagem de "Deu pra Ti": "Quando eu ando assim, meio down/ Vou pra Porto e bah, trilegal/ Coisas de magia, sei lá/ Paralelo 30, quê-quê!".

Já escrevi isso há tempos, mas reitero aqui: "coisas de magia, sei lá" é o melhor e mais expressivo verso em português nos últimos 50 anos. Notem ainda a preocupação com a inclusão social dos portadores de síndrome de Down e os significados esotéricos do "quê-quê!", logo após a menção mística ao paralelo 30. A canção também fala em "saudade do Fogaça", atual prefeito eleito -e olhem que foi escrita anos antes dos governos petelhos. Entendo-a como uma alusão GLS, à luz de outras canções da dupla, como a imortal marchinha "não quero nem saber se o pato é macho/ eu quero é ovo". É uma tradição gaúcha, dignamente continuada por Humberto Gessinger e seu "há um muro de Berlim dentro de mim" (presume-se que o muro tenha entrado por algum lugar).

Diga blé para quem não gosta do Kledir. Gentalha, gentalha.

4.11.04

Le silence éternel de ces espaces infinis

Ninguém fez nenhuma pergunta sobre minha ausência. A verdade, que não tem o menor interesse, é que passei os últimos dias firmemente agarrado ao meu cobertor de segurança, esperando pela Grande Abóbora -em vão. Não sei que conclusão tirar disso. Talvez as hortas que abastecem o Ceasa, perto de onde moro, não sejam as mais sinceras da cidade. Talvez eu seja um pecador: apesar de rezar cinco vezes por dia na direção do Supremo Vegetal, Ele sabe que sou sócio-fundador das Testemunhas de Jennifer Connelly e não me perdoa pela dupla militância. Há quem diga que a Grande Abóbora é grande porque é transgênica. Alguns crêem que ela desce à Terra ao som de Baiano Meloso, impávida que nem Muhammad Aliii-i-i-i. Outros, por sua vez, asseguram que ela já pôs em prática seu plano de dominação mundial: Jorge Arbusto, Zé Careca, os garis do Rio e a seleção holandesa seriam seus tentáculos mais visíveis. Não sei mais em que acreditar.

Sei que, durante a vigília, um saci apareceu. Começou a discursar sobre ética, cidadania e as tradições folclóricas da nossa gente. Levou um tiro na bunda -good clean fun, eu recomendo. Se você estiver preparado, uma força maior o levará a Charles Bronson.