30.6.04

Notas aleatórias sobre nomes

* Sempre achei que a palavra "busílis" fosse nome de gente (já escrevi isso por aqui, muitos posts atrás, e não mudei de idéia). Nome de desembargador, para ser mais exato: o doutor Busílis da Gama e Silva é grande, gordo, solene e tem no mínimo duas papadas. Usa "data venia" com mais freqüência que o Pelé ao dizer "entende?" e veste ternos escuros que dão um realce todo especial à sua caspa. Vale o mesmo para "clitóris" -que é nome de homem, fiquem vocês sabendo. Qual seria a profissão de Clitóris de Oliveira? Médico ginecologista seria óbvio demais. Eu prefiro vê-lo como maratonista: "O brasileiro Clitóris de Oliveira completou a prova em 2h23min45s". Não soaria estranho num meio com nomes como Maurren e Jadel. Também há Estafermo da Fonseca, funcionário público lotado há 37 anos na subseção 7-B da Secretaria dos Negócios Escusos. Nada supera, porém, Chocolício Sampaio, heterônimo e genial criação da mente maligna do Dante.

* O último desejo de Ruy Goiaba antes de morrer será reencarnar com nome de personagem do Groucho Marx. Rufus T. Firefly é meu preferido, mas J. Cheever Loophole e Wolf J. Flywheel também estão valendo. Esse desejo será, é claro, cancelado se houver à minha espera um paraíso em que Françoise Hardy cante baixinho no meu ouvido todas as noites. Mas sou pecador demais para acreditar nessa bela possibilidade e já estou pronto para encarar os óculos e o bigode gigante (o segundo, no mau sentido).

25.6.04

Borrachudos é fogo

"É inevitável (...) não escrever sobre Leonel Brizola".

O estilo é o homem. Quem senão Sarney José poderia nos brindar com uma frase de beleza assim barroca no início de seu artigo sobre o finado Briza? Quem mais arrostaria a inevitabilidade do não-escrever para lavrar a ferro e fogo seu testemunho nos anais (opa, epa) da história? E quem mais escreveria num estilo assim eivado de clichês, empolado a ponto de usar palavras como "arrostar" ou "eivado" e tão cafona quanto tingir o bigode?

Eu me esforço para atingir esse nível etéreo de goiabice, mas Sarneyzão é mesmo the real thing. Não importa: o wunderlivro será um passo decisivo para minha consagração como o primeiro acadêmico a tomar posse de fardão e chinela Rider. Prometo, aliás, substituir o discurso de posse por um pescotapa, bem dado, em Sarney; será, embora tardia, uma compensação por aquela vez em que deixei de passar a mão na bunda de Antônio Carlos Magalhães.

24.6.04

Esperando Godofredo

Vou lhes contar: como está difícil fazer o lançamento do wunderlivro com a pompa e a circunstância que a ocasião merece. Os problemas começaram na hora de contratar profissionais para a-a-a-animar a festa. Nossa reunião com a categoria dos mímicos mostrou-se infrutífera, já que eles entraram mudos e saíram calados. O representante do Sindicato dos Imitadores de Stevie Wonder fez que não nos viu. Os pirofagistas -será que esse termo existe?- não engoliram nossa proposta. Tentamos chamar os estatuístas, mas eles nem se mexeram. Mesmo nosso objetivo de promover uma festa folclórica, que valorizasse as tradições deste Brasilzão tão lindo de meu Deus, foi por água abaixo: a mula-sem-cabeça se disse impossibilitada de pensar no assunto, o curupira deu para trás e o saci saltou de banda. Mas nem tudo está perdido: ainda estamos esperando que João Gilberto, Syd Barrett, J.D. Salinger e Thomas Pynchon digam "sim" ao nosso convite.

22.6.04

E ficaremos para sempre sem saber

Afinal, o que eram as perdas internacionais?

Briza, o Velho Caudilho, era da mesma estirpe de O-Djeito-É-Djânio. Fará imensa falta como comic relief -sim, o histrionismo na política já teve melhores dias. Ninguém mais fica perpleeeexo.

21.6.04

Começos e fins

Dawn points, and another day
Prepares for heat and silence. Out at sea the dawn wind
Wrinkles and slides. I am here
Or there, or elsewhere. In my beginning.


(De "East Coker", o segundo dos "Quatro Quartetos" de T.S. Eliot.)

19.6.04

Who wants yesterday's papers?

Eu, sobretudo quando não tenho assunto. Decidi, contudo, escrever este post para que certos leitores injustos parem de me acusar de não tratar o grande estadista que é o Efelentífimo com o respeito que ele merece. Asseguro a vocês que achei o máximo ver o supremo mandatário e a primeira-dama vestidos de Jeca Tatu e boneca Emília na festa junina lá da Granja do Torto. Só dondocas preconceituosas, que prefeririam viver na corte de Luís XIV, não vêem a beleza do folclore popular finalmente instalado nas altas esferas do poder. O Brasil é isso: alegria, descontração, dentes pintados de preto ou faltando de verdade, bicho-de-pé.

Mas, para realmente combater o preconceito sem tréguas onde quer que ele se instale, conviria ao casal presidencial tornar essa iniciativa mais freqüente. Aliás, por que restringi-la apenas às festas juninas? Que espécie de discriminação é essa? Eu quero ver o presidente vestido de boi-bumbá no Maranhão. De baiana numa das alas do Carnaval carioca. Pintado de preto, com gorrinho vermelho e cachimbo, pulando num pé só na rampa do Planalto, para combater o imperialismo do Ralouim. De Judas no Sábado de Aleluia. Agora, só vou me convencer mesmo de que estamos num país de Primeiro Mundo quando, numa festa em homenagem à comunidade BDSM, o Efelentífimo aparecer com roupa de couro e tachas e a primeira-dama vestida de dominatrix. Por que não, se pisar em gente é coisa que eles já fazem todo dia? Ai, que loucura.

18.6.04

Vendidos ao sistema

"Segunda-feira, 5/7/2004, às 19h. Livro: WUNDERBLOGS.COM. Editora: Barracuda. Autor: vários. Apresentação: Ivan Lessa, aquele, aka Edélsio Tavares. Local: Livraria Cultura, Shopping Villa-Lobos - av. das Nações Unidas, 4.777 - São Paulo, SP."

Vocês se lembram daquele texto em que eu recomendava que os leitores fugissem de livros de blogueiros? Dizia que eram todos analfabetos e disléxicos? Que achavam que escrever livros lhes dava um status superior ao de escrever na internet, coitados? Pois é, eis aí a confirmação que vocês queriam -fora o fato, não mencionado na época, mas sobejamente conhecido, de alguns serem reacionários, enjoadinhos, ostensiva ou sub-repticiamente pirobos e não amarem este Brasilzão tão lindo de meu Deus.

Quer saber? Bananas, eu digo. Não precisa ler, é só comprar. A edição, fornida e sobranceira, dá um excelente calço de mesa ou peso para papéis. Se você, porém, quiser se aventurar a lê-la, já sabe que vai encontrar os ótimos textos de Alexandre, César, Daniel, Dante, Fabio, Felipe, Juliana, Marcelo, Mozart e Radamanto -além de algumas páginas, dedicadas a um certo Goiaba, ótimas para forrar a gaiola do seu canário (limpeza esfincteriana, porém, não recomendo; para esse fim, as folhas são meio duras, nada absorventes. Continue fiel ao papel Primavera).

Quem estiver em São Paulo e não for ao lançamento é goiaba ou mulher do padre. Haverá, como informou o Radamanto, pirofagia, malabares, contorcionismo, posts ao vivo, concurso da camiseta molhada, spanking, capoeira (outra prática BDSM, como sabemos) e uma apresentação folclórica de bumba-meu-boi. Se eu aparecer, possivelmente será de tanga -e, sim, posarei descalço para fotos, como não? Ajude o Goiabinha a pôr gasolina no seu Dodjão 74.

Foto de divulgação do autor



(Cortesia da Daniela, única mulher que me faz ficar de tanga, descalço e nessa pose comprometedora. Hummm, está bem, não é a única, mas banner assim gostosinho só ela fez até agora.)

16.6.04

Cotas para Malachi Mulligan

"Our worthy acquaintance, Mr Malachi Mulligan, now appeared in the doorway as the students were finishing their apologue accompanied with a friend whom he had just rencountered, a young gentleman, his name Alex Baldin, who had late come to town, it being his intention to buy a colour or a cornetcy in the fencibles and list for the wars. Mr Mulligan was civil enough to express some relish of it all the more as it jumped with a project of his own for the cure of the very evil that had been touched on. Whereat he handed round to the company a set of pasteboard cards which he had printed that day at Mr Quinnell's bearing a legend printed in fair italics: Mr Malachi Mulligan, Fertiliser and Incubator, Lambay Island. His project (...) was to withdraw from the round of idle pleasures such as form the chief business of sir Fopling Popinjay and sir Milksop Quidnunc in town and to devote himself for the noblest task for which our bodily organism has been framed. Well, let us hear of it, good my friend, said Mr Dixon. I make no doubt it smacks of wenching. Come, be seated, both. 'Tis as cheap sitting as standing. Mr Mulligan accepted of the invitation and, expatiating on his design, told his hearers that he had been led into this thought by a consideration of the causes of sterility, both the inhibitory and the prohibitory, whether the inhibition in its turn were due to conjugal vexations or to a parsimony of the balance as well as whether the prohibition proceeded from defects congenital or from proclivities acquired. It grieved him plaguily, he said, to see the nuptial couch defrauded of its dearest pledges: and to reflect upon so many agreeable females with rich jointures, a prey for the vilest bonzes, who hid their flambeau under a bushel in a uncongenial cloister or lose their womanly bloom in the embraces of some unaccountable muskin when they might multiply the inlets of happiness, sacrificing the inestimable jewel of their sex when a hundred pretty fellows were at hand to caress, this, he assured them, made his heart weep. To curb this inconvenient (which he concluded due to a suppression of latent heat) having advised with certain counsellors of worth and inspected into this matter, he had resolved to purchase in fee simple for ever the freehold of Lambay island from its holder, lord Talbot de Malahide, a Tory gentleman of note much in favour with our ascendancy party. He proposed to set up there a national fertilising farm to be named Omphalos with an obelisk hewn and erected after the fashion of Egypt and to offer his dutiful yeoman services for the fecundation of any female of what grade of life soever who should there direct to him with the desire of fulfilling the functions of her natural. Money was no object, he said, nor would he take a penny for his pains. The poorest kitchenwench no less than the opulent lady of fashion, if so be their constructions and their tempers were warm persuaders for their petitions, would find in him their man. For his nutriment he shewed how he would feed himself exclusively upon a diet of savoury tubercles and fish and coneys there, the flesh of these latter prolific rodents being highly recommended for his purpose, both broiled and stewed with a blade of mace and a pod or two of capsicum chillies."

(No centenário do Bloomsday, sempre um pretexto para encher a cara de Guinness, eis aí a prova de que ninguém era mais fornido, sobranceiro e merecedor de cotas do que Buck Mulligan. Essa história da ilha de fertilização daria um ótimo roteiro de pornochanchada; pode-se até imaginar David Cardoso nela.)

15.6.04

Vagas para homens chamados jumento

Medição escrupulosa e científica do tamanho da tora: eis a única solução aceitável para a "questão das cotas". Só ela pode provar quem é negão de verdade, como John C. Holmes era e Rocco Siffredi é. Vou à UnB de trena na mão e braguilha aberta; eles que ousem me impedir de entrar lá, pela porta da frente (ai) ou pela dos fundos (ui). E quem ousa dizer que não haverá vantagens na substituição dos cursinhos pré-vestibulares por seminários de "penis enlargement"? Todos aqueles e-mails que você costuma jogar fora, achando que são spams, ser-lhe-ão utilíssimos.

Ora, direis, e as mulheres? Simples. As universidades púbicas (aquele lugar cheio de pentelhos no qual só entra quem tiver completado o ensino bundamental e o ensino mérdio) trocarão a placa de "vagas para moças de fino trato" por sua versão moderna, "vagas para mulheres de tromba". Quem estudou numa púbica sabe que não há diferença alguma entre elas e a finada "Rudolf", a revista do séquiço bizarro -mas, em vez de assumir, os caras ficam falando em Cau Marques. Se bem que aquela barbona suja, hummm...

13.6.04

"O Mágico de Oz" Remix Reloaded 2004

Neil Tennant, dos Pet Shop Boys, como Dorothy. Elton John como o Leão Covarde. Morrissey, cantando "Heaven Knows I'm Miserable Now", como o Homem de Lata. Boy George recuperando seu visual circa 1984 para fazer o Espantalho. Cher como a Bruxa Boa do Norte. Michael Jackson como a Bruxa Má do Oeste ("who's bad?"). Little Richard como o Mágico, já que Liberace morreu antes de poder interpretar o papel. Karl Lagerfeld e Walter Mercado como tio Henry e tia Em. George Michael como Totó.

12.6.04

Quero mamar nessa teta

A família wunderblogger cresceu, mas quem ganha o presente é você. Adrian, Colorina, Bruno, Guilherme, Mercuccio e Renan já estão no meio de nós. É uma coisa assim tipo early Titãs, com umas dez pessoas no vocal (e este que vos escreve tocando órgão). E não pararemos por aqui: depois da Wunderbrás, teremos a Embrablog, com dinheiro público muitíssimo bem empregado no nosso bolso. Anarcoliberalismo, só no fiofó dos outros, que é refresco. Locupletar-nos-emos todos. Nous aurons de l'or.

P.S.: O Blogauti acaba de ser incorporado à Liga da Justiça. E há também o único mingau capaz de alimentar as almas. Enjoy.

9.6.04

Une affaire de femmes

Quando a Mulher Moderna e Independente do Século 21 chegou em casa, vinda do trabalho, teve a desagradável surpresa de saber que "Saia Justa" e "Sex and the City" estavam passando ao mesmo tempo em dois canais da TV a cabo. Nenhum problema: sempre é possível ver um e gravar o outro, enquanto a Mulher Moderna e Independente do Século 21 não tem a coleção completa da série em DVD. Nossa heroína opta pelo programa de debates, até que, zapeando durante o intervalo, descobre -oh, céus- que há um show inédito da Madonna (ou da Björk) sendo exibido em outro canal.

A vida é mesmo injusta, pensa a Mulher Moderna e Independente do Século 21. Como se não bastasse ter de ser bem-sucedida profissional e sexualmente (coisa difícil, já que os homens têm medo, em negrito e sublinhado, e se sentem perdidos diante das Mulheres Modernas e Independentes do Século 21), ela ainda é obrigada a tomar decisões existenciais assim difíceis. Morrer de curiosidade para saber o que acontece entre Carrie e Mr. Big, deixar de gravar o novo show da Madonna -que é tu-do- ou ficar sem saber o que Fernanda Iângui tem a dizer sobre os fatos da semana? E a decisão tem de ser rápida; consultar a "Nova", a "Marie Claire" ou aquele livro da Lya Luftal toma tempo. Diante disso, o que a Mulher Moderna e Independente etc. (cansei) deve fazer?

a) Liga para o Amigo Gay que a Entende como Nenhum Outro Homem, pessoa fundamental na vida da Mulher Moderna e Independente etc. Mesmo correndo o risco de o Amigo Gay etc., que está vendo um filme do Pereio em outro canal, responder algo como "porra, não me encha o saco! É a vigésima vez que você me liga hoje com esse tipo de pergunta. Vá lavar roupa, mona".

b) Pensa em como Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda agiriam. A atitude dependerá da personagem preferida em "Sex and the City": ela pode ligar para uma amiga e pedir que grave um dos programas, desistir da TV e chamar um garoto de programa ou se divertir com sua coleção de vibradores. Ou as três coisas juntas.

c) Recorre ao esoterismo de butique para se decidir: astrologia, numerologia, cartas, videntes. Algumas Mulheres Modernas e Independentes etc. exercem esse tipo bastante peculiar de agnosticismo que é acreditar em tudo, exceto religiões caretas e não-féchom. Outras preferem se definir como "espiritualistas".

d) Entra em seu blogue e escreve um post sobre o assunto, dividindo sua angústia e seu desespero com outras Mulheres Modernas, Independentes etc. Suas leitoras a-mam o que ela escreve e estão certas de que aquilo é literatura. Ela também acha; até já pensou em criar sua própria imitação de Bridget Jones.

e) Abre uma garrafa de vinho, com ou sem aditivos. Enche a cara. Depois entra em seu blogue e escreve um post sobre o assunto enquanto brinca com um dos vibradores. Ai, que loucura.

3.6.04

Para ler a Turma da Mônica

Breve ensaio de hermenêutica antiimperialista

* Mônica - Representação mal disfarçada do imperialismo americano e de sua falta de pudor em resolver conflitos mediante o uso da força, sempre que provocado. A mensagem de que os Euá têm o poder e o direito de impor sua política ao mundo -todos os outros personagens- está até nas cores: o vestidinho vermelho de Mônica, o branco dos dentões e o azul do coelhinho Sansão remetem, de imediato, à bandeira do Grande Irmão do Norte.

* Cebolinha - O personagem simboliza, de modo nada abonador, o blasileilo das glandes cidades: submisso, careca e dislálico, tlocando os erres pelos eles e os pés pelas mãos. Apanha dos Euá sem reclamar e está sempre tentando viver de expedientes -os planos infalíveis- que invariavelmente dão com os burros n'água.

* Magali - Representante das elite brasileira e de sua voracidade incontrolável. Egoísta e incapaz de se satisfazer com tudo o que come, ainda rouba o lanche dos amiguinhos -e engole montes de comida sem engordar, tamanha é a sua ganância predatória. Não se tem notícia de nenhuma tirinha em que Magali tenha deixado de comer seu bolo de chocolate para doá-lo ao Fome Zero.

* Chico Bento - Visão romântica, idealizadora e profundamente conformista do brasileiro habitante do campo. Não passa de uma atualização do Jeca Tatu, de chapéu de palha e pé no chão, palatável para os pequenos leitores de classe média e alta. Contenta-se, de vez em quando, em roubar goiabas de uma árvore do Nhô Lau, em vez de se filiar ao MST e reivindicar o pomar todo, ocupando-o ao lado de outros trabalhadores despossuídos.

* Capitão Feio - Óbvio símbolo dos países comunistas no tempo da Guerra Fria, a quem o mundo ocidental dito livre atribuía toda espécie de sujeira. O personagem passou a aparecer menos depois da queda do Muro de Berlim, mas seu isolamento no planeta Sujeira ainda pode ser entendido como o do Gran Comandante em sua ilha. Tudo isso explica a atração que o Capitão Feio exerce sobre Cascão (ver tópico mais abaixo), o qual, porém, sempre termina ao lado da turma -ou seja, o conflito ideológico jamais deixa de ser resolvido em favor da velha ordem capitalista.

* Bugu - O cachorrinho amarelo louco por um flash é uma mistura, avant la lettre, de Vera Loyola com Chiquinho Scarpa. Bugu resume a ilha de Caras, o "Big Brother Brasil", o sofá da Hebe Camargo e a gravata-borboleta de Amaury Júnior, esses subprodutos tóxicos da civilização burguesa, num só personagem. Adeus à inocência rousseauniana das conversas de Bidu com a pedra. Longa vida ao microfone dourado de Atayde Patreze.

* O Louco - Representação, diluída para o consumo das crianças, dos artistas tidos como loucos e suicidados pela sociedade: Van Gogh, Rimbaud, Artaud, Jão Lero, Raulzito e o Beijoqueiro. Nas histórias da turma, o Louco perde todo o seu poder de revolucionar sociedades e desestruturar consciências para se tornar apenas um bom pretexto para as risadas dos leitores, tal qual acontece com os gênios transgressores na vida real.

* Cascão - Único personagem com potencial revolucionário em toda a turma. Simboliza a revolta contra os hábitos da burguesia, começando pelo de tomar banho. A consciência histórica de Cascão faz com que ele traga na pele a sujeira de incontáveis eras*. Especula-se que sua música-tema seja, na verdade, a Internacional Comunista tocada ao contrário, razão pela qual o senador Suplício às vezes canta "se a água é fria eu tenho medo, se a água é quente eu nem quero saber..." em seus discursos na tribuna do Senado.

* Citação de uma tirinha antiga e antológica de Pig-Pen, personagem de "Peanuts" no qual Cascão teria sido inspirado. Charlie Brown pergunta: "Afinal, quando é que você vai tomar banho?". Pig-Pen responde: "Trago em mim a sujeira e a poeira de inúmeras eras. Quem sou eu para perturbar o curso da história?".

1.6.04

Grandes momentos do kitsch

Et si tu n'existais pas
Dis-moi pourquoi j'existerais
Pour traîner dans un monde sans toi
Sans espoir et sans regret
Et si tu n'existais pas
J'essayerais d'inventer l'amour
Comme un peintre qui voit sous ses doigts
Naître les couleurs du jour
Et qui n'en revient pas

Et si tu n'existais pas
Dis-moi pour qui j'existerais
Des passantes endormies dans mes bras
Que je n'aimerais jamais
Et si tu n'existais pas
Je ne serais qu'un point de plus
Dans ce monde qui vient et qui va
Je me sentirais perdu
J'aurais besoin de toi

Et si tu n'existais pas
Dis-moi comment j'existerais
Je pourrais faire semblant d'être moi
Mais je ne serais pas vrai
Et si tu n'existais pas
Je crois que je l'aurais trouvé
Le secret de la vie, le pourquoi
Simplement pour te créer
Et pour te regarder

Et si tu n'existais pas
Dis-moi pourquoi j'existerais...


(Sim, sim, "Et Si Tu N'Existais Pas", de 1975, o grande sucesso de Joe Dassin. Presença segura em qualquer coletânea com a torre Eiffel na capa e algum nome do tipo "Chansons d'Amour". Está, é claro, no meu top five de músicas-para-cantar-no-chuveiro.)