30.11.01

NOT TO BE

"If it be now, 'tis not to come; if it be not to come, it will be now; if it be not now, yet it will come: the readiness is all: since no man has aught of what he leaves, what is't to leave betimes?"

Pois é, meus caros. Tudo está contido em Hamlet.

E hoje não tem brega's banquet. Só quando as nuvens negras se dissiparem. Hasta!

Assombrado com a minha sombra magra,
Pensava no Destino e tinha medo


O clima hoje é Augusto dos Anjos, com maiúscula em "Destino" e tudo. Saiam de perto, please.

E George Harrison foi ao encontro do seu sweet lord.
Para ele, o verso final da "Waste Land": "Shantih shantih shantih". Segundo o Eliot, "the peace that passes understanding".

29.11.01

BREGA'S BANQUET 9

Boa tarde, Teresa Cristina
Que linda tarde de primavera, não acha?
Eu comprei pra você uns bombons
Pois rosas são tão perecíveis
E os bombons, além de bons,
Cá para nós, são bem mais comíveis
Pois rosas, só quando em "botons"
Por isso eu optei pelos bombons...


Vocês jamais saberão o que é transcriação até ouvirem o que Ivon Curi fez com "Les Bonbons", do Jacques Brel. Na boa: Ivon é fortíssimo candidato a Zeus no panteão brega do puragoiaba. Sua peruca e sua interpretação de "Retrato de Maria", sozinhas, já o credenciariam a esse posto. Mais detalhes nos próximos posts.

“Mais il y devroit avoir quelque coërction des loix, contre les escrivains ineptes et inutiles, comme il y a contre les vagabons et faineants. On banniroit des mains de nostre peuple, et moy, et cent autres. Ce n'est pas moquerie. L'escrivallerie semble estre quelque symptome d'un siecle desbordé.”

Tradução, um tanto nas coxas: “Deveria haver alguma lei contra os escritores ineptos e inúteis, como há contra os vagabundos e preguiçosos. Pelas mãos de nosso povo seríamos banidos eu e cem outros. Não é brincadeira. A escrevinhação parece ser um sintoma da desordem do século.”

E isso foi o Montaigne quem escreveu, moçada -há quase cinco séculos. Não foi nenhum blogueiro.

Muito menos aqueles que se vêem como novos Robespierres.

28.11.01

CONTRA O POP 4

Já que a elegância vocabular dos posts de hoje é incontestável, segue mais um "pau no cu". Desta vez, para Tolkien e aquela bobajada de "Lord of the Rings".

Para mim, o único e legítimo senhor dos anéis é este cara aqui.
BREGA'S BANQUET 8

Branca e radiante vai a noooivaaa
Logo a seguir, o noivo amaaadooo
Quando se unirem os corações
Vão destruir as ilusões

Aos pés do altar está chorando
Todos dirão que é de alegria
Dentro, sua alma está gritando
Aaaaaavee Mariiiiiiiaaa...


"A Noiva", com Cauby Peixoto e a diva Ângela Maria. Confesso que, na última vez em que vi esses dois juntos, não consegui descobrir quem era quem.



Dois pedaços de poemas. Antigos, porém atualíssimos.

Humanity i love you because you
are perpetually putting the secret of
life in your pants and forgetting
it's there and sitting down

on it


(e.e.cummings, "humanity i love you")

*****

The best lack all conviction, while the worst
Are full of passionate intensity.


(William Butler Yeats, "The Second Coming")




You keep all your smart modern writers
Give me William Shakespeare
You keep all your smart modern painters
I'll take Rembrandt, Titian, Da Vinci and Gainsborough


Ray Davies, dos Kinks, em "20th Century Man".

O melhor do pop é sempre uma espécie de haraquiri.

CONTRA O POP 3

Por falar nisso, subscrevo integralmente o que Leonora Espanca escreveu hoje. Na internet, é possível "transformar" Shakespeare em J.G. de Araújo Jorge e García Márquez no velho "Acendedor" da Seicho-No-Ie, em uma operação de antialquimia -pela qual se obtém, em vez de ouro, bosta.

Sim, aqui no puragoiaba você pode encontrar tudo isso. Mas a Dante o que é de Dante, a Odair o que é de Odair. É claro que o autor da "Divina Comédia" jamais escreveria algo brilhante como "Eu Vou Tirar Você Desse Lugar".




CONTRA O POP 2

Este puragoiaba tem por princípio desprezar os livros que "todo mundo" esteja lendo, os CDs que "todo mundo" esteja ouvindo e os filmes que "todo mundo" esteja vendo.

Também condenamos, contudo, a atitude oposta -a adoração daquela banda islandesa ou daquele filme do Cazaquistão que ninguém mais viu/ouviu e cujo valor está exatamente em não terem sido vistos/ouvidos.

"A plague o'er both your houses", como diria o velho Guilherme Balançalança.


CONTRA O POP 1

Pau no cu do Harry Potter.

Metaforicamente, é claro.

26.11.01

BREGA'S BANQUET 7

Voar, voar, eu sou assim
Brilho do farol -e, além do mais, amar no fim
Simplesmente sol
Rock do bom ou, quem sabe, jazz
Som sobre som, bem mais, bem maaaaaais...


Como esquecer Biafra e seu "Sonho de Ícaro"? Brega com fortíssimas doses de surrealismo GLS. Highlights dessa letra, na minha opinião:

* Aquele trecho que menciona um "fauno lunar".
* A imortal frase "dentro do bombom há um licor a mais".

Ah, sim: o rapaz mudou de nome. De uns tempos a esta parte, tem assinado "Byafra". Parecia impossível, mas ele conseguiu ficar ainda mais vyadho.

O ministro-Nosferatu Zé Serra está dormindo no ponto. Como é que ele ainda não se aproveitou da popularidade do patrono deste blog, Odair José?

Não sei se vocês já ouviram Odair cantando ao vivo "Pare de Tomar a Pílula" -cujo nome original é "Uma Vida Só". Antes de cantar, ele faz a seguinte introdução:

"Para que uma criança nasça, é preciso que o homem e a mulher façam sexo. Mas, para que isso aconteça, é preciso que ela... (suspense) pare de tomar a pílula! (a platéia vem abaixo)"

Planejamento familiar é isso aí, moçada. O resto é conversa.



Vocês querem saber o que é música experimental? Mas experimental mesmo? De pôr Arnaldo Antunes, Tom Zé e Walter Franco no chinelo?

Então, tomem. Seguindo este link, vocês obterão letra e MP3 de “Tumbalacatumba”, com Valentino Guzzo _also known as Vovó Mafalda.

Porque, no puragoiaba, o fundo do poço tem sempre um alçapão.
Mais uma trindade. Esta dispensa explicações:

* Cauby Peixoto
* Agnaldo Timóteo
* Agnaldo Rayol

Por incrível que pareça, eu não havia citado Agnaldo Rayooooooooool (com vibrato, por favor) em nenhum dos meus posts. Mas é evidente que ele está no panteão.

E Cauby está lançando sua biografia, rapaziada! A Folha traz reportagem com foto (simplesmente um luxo) e boa crítica do Pedro Alexandre Sanches -que, modéstia à parte, corrobora minha tese. Cauby é o inconsciente coletivo do Brasil.
Pois é, pessoal, não é só neste puragoiaba que os extremos se tocam. Quero comentar a coisa mais chocante que vi neste final de semana -uma foto publicada numa dessas revistas semanais ditas grandes. Na verdade, foi um choque em duas etapas:

a) Narcisa Tamborindeguy estava lendo um livro.
b) Esse livro era "As Flores do Mal", do Baudelaire.

Bem, acho que há uma explicação. Narcisa foi a uma dessas megastores que vendem de livros a bonecos Pokémon e achou "As Flores do Mal" na seção de paisagismo. Ela está louca para começar a ler o volume 2, que trata das flores "do bem".

23.11.01

E chega por hoje. Para vocês todos, paz, amor e Nílton César.

"Férias na Índia", pioneira do estilo world brega, é uma das favoritas deste blog. E o site em homenagem ao cara dispensa comentários. O horror, mistah Kurtz.
Uma das minhas leituras preferidas (no que vai, creio, uma ponta de sadismo) é a "anticoluna social" Top of the Pops, que se dedica bravamente a malhar os chamados top bloggers. Mas eis que, de repente, eu também estou lá -e ameaçadíssimo de virar vidraça.

Seu Jeca Brahma, quer saber? Deus me livre de virar Top Blog. Tenho horror a reuniões de blogueiros, relatos exibicionistas e descrições detalhadas de experiências transcendentais como, digamos, cortar as unhas dos pés.

Mas, se essa tragédia acontecer, já sei que o castigo virá pelas mãos de vocês. Paciência. Os goiabas merecem.
Mais uma Santíssima Trindade, desta vez não-brega? Fácil.

O pai é Charlie Parker, o filho é Miles Davis.

E o Espírito Santo só pode ser John Coltrane.
THE FATHER, THE SON & THE HOLY GHOST

Há algum tempo, Patsy Dee pôs na sua bolha de sabão um post polêmico, em que elevava Madonna, Lauryn Hill e Bjork à categoria de Santíssima Trindade.

Eu discordo -mas, em vez de discutir com a Patsy, vou propor santíssimas trindades alternativas. Afinal, pelo menos em nossos blogs, somos todos papas: podemos ter nossas trindades, nossos dogmas e até distribuir excomunhões à vontade. Assim sendo, aqui vai a primeira delas:

* Cláudia Barroso
* Edith Veiga
* Núbia Lafayette

Explicações? Vamos lá. Cláudia Barroso é uma espécie de Waldick Soriano de saias. Talvez seu maior sucesso tenha sido "O Homem que Eu Amo", de 1975:

O homem que eu amo... é proibido
O homem que eu amo... é casado
O homem que eu amo é combatido
Por isso nosso amor é criticaaaado


Edith Veiga teve seu primeiro sucesso nos anos 60, com o bolero "Faz-Me Rir". Mas a música que, para mim, justifica sua inclusão na trindade é "Tudo Acabado", também dos anos 70:

E digo mais: um inocente não deve sofrer
Nunca pedi seu auxílio
Nem tampouco meu filho lhe pediu pra nascer


Por fim, Núbia Lafayette é a versão feminina do "metralha", o sensacional Nelson Gonçalves. Seu título mais representativo é "Esta Noite Eu Queria que o Mundo Acabasse".

A história dos puteiros do Brasil teria sido outra sem a trilha sonora dessas três deusas. Mas, pensando bem, todas devem algo a Dalva de Oliveira e sua "luz difusa do abajur lilás".




BREGA'S BANQUET 6

Amor perfeito existia entre nós dois
Sem esperar que depois fosse tudo se acabar
Mas neste mundo em que o perfeito não tem vida
Não merecemos, querida, viver juntos e amar
Nosso Senhor para sempre te levou
Nem ao menos me deixou o fruto do nosso amor
Aquele filho seria a nossa alegria
Eu senti naquele dia ser um pai, ser um senhor
No hospital, na sala de cirurgia
Pela vidraça eu via você sofrendo a sorrir
E seu sorriso aos poucos se desfazendo
Então eu te vi morrendo sem poder me despedir


A pedidos, "O Fruto do Nosso Amor". Amado Batista rocks.




CLUBE DAS GOIABAS IRRITADIÇAS

Acabo de descobrir que este bloguinho está listado no Yahoo!, com a seguinte descrição: "Todo o mau-humor de um goiaba".

Tá errado, seu. Primeiro, mau humor não tem hífen. Depois, quem é mal-humorado (com hífen) aqui? Hein? Hein? *dando socos na mesa* Olha que você leva uma bifa virtual!
OS ACONTECIMENTOS ME ENTEDIAM

Mais duas coisas que você não vai encontrar no puragoiaba: opiniões sobre a "Casa dos Artistas" e considerações sobre o "affaire" Soninha x TV Cultura. Nada contra, é claro. Há muitos blogs, mais ou menos interessantes, tratando desses assuntos. E esse é o exato motivo pelo qual não farei isso.

Na minha modesta opinião, o melhor livro do Drummond saiu no início dos anos 50 e se chama "Claro Enigma" (é o que contém aquela maravilha "dante-camoniana", "A Máquina do Mundo"). A epígrafe desse livro é uma frase do Paul Valéry -que, traduzida do francês, está no título deste post. Vale como uma espécie de carta de intenções.

22.11.01

Última blogada do dia. Para vocês todos, paz, amor e Nelson Ned.

Porque "tudo passa, tudo paaaaassará". Ou, como diria o George Harrison, "all things must pass".
A balança do puragoiaba precisa ser reequilibrada. Então, aqui vai:

"D'où vient qu'un boiteux ne nous irrite pas, et qu'un esprit boiteux nous irrite? C'est à cause qu'un boiteux reconnaît que nous allons droit, et qu'un esprit boiteux dit que c'est nous qui boitons."

Tradução, mesmo claudicante, para que vocês não me acusem de ser um pretensioso goiaba francófilo: "Por que um coxo não nos irrita e um espírito coxo nos irrita? Porque um coxo reconhece que nós andamos direito, e um espírito coxo diz que somos nós que mancamos".

Blaise Pascal, moçada -aquele parceiro de Marino Pinto e Zé da Zilda. Quem conhece "Aos Pés da Cruz" (com Orlando Silva, melhor que a versão do João Gilberto) sabe do que se trata.
Será que eu posso mandar abraços virtuais ("pro papai, pra mamãe e pra você, Xuxa")? Se sim, lá vão dois: para o Iberê, dono do Pic-Céu, e para a Flávia Durante, comandante do Blah Blah Blog. Ambos elogiaram esta bananada de goiaba (e, cá entre nós, Iberê, 'cê exagerou um pouquinho, não?).

Gracias, chicos! Fiquei feliz. Melhor que isso, só se eu ganhasse as maracas do Alípio Martins. Autografadas.
BREGA'S BANQUET 5

Aonde a vaca vai, o boi vai atrás
Aonde a vaca vai, o boi vai atrás
Aonde a vaca vai, o boi vai atrás

Um amor que é tão grande nunca mais se desfaz
Com a bicharada grande, o boi já fica demais
É que a conta do hotel está ficando pra trás

Aonde a vaca vai...


Essa verdade eterna foi enunciada por João da Praia, em seu clássico pós-dadaísta "O Boi Vai Atrás". Juro que a letra é assim mesmo. Tristan Tzara, morra de inveja!


De passagem: subscrevo totalmente o que o Zeitgeist diz dessa Fernanda Iângui. E o título da Folha Online é adequadíssimo ao, ahn, conteúdo. "Temática gay" é mesmo de fornicar.
MOZART E AQUELE LUGAR ONDE O SOL NÃO BATE

Quem assistiu ao filme "Amadeus" -de Milos Forman, baseado numa peça de Peter Shaffer- talvez tenha uma idéia equivocada da vida do Mozart. Segundo os especialistas, toda aquela inimizade do Salieri é mais mito do que realidade.

Não obstante (putz, que mania de "não obstante"), o velho Wolfgang era mesmo da pá virada. Ele batizou uma de suas obras, K 231, como -vejam que meigo- "Lamba Meu Cu". Consta que o nome era mais extenso: "Lamba Meu Cu Até Ele Ficar Bem Limpinho". O editor musical (ou a viúva do Mozart; há versões divergentes) mudou o título da obra para "Prazer Inexcedível".

Fala a verdade: isso é que é copidesque, né não?

Claro que essa coletânea é só um pedacinho de um universo vasto e largamente inexplorado. Um dia -tenho fé- deixarei de ser uma tecnocapivara e colocarei arquivos sonoros à disposição de vocês.

Para citar apenas um exemplo: quem nunca ouviu Moacyr Franco, acompanhado pela orquestra do maestro Pachequinho, cantando "Meu Querido Lindo" não faz idéia de até onde o hardcore brega pode chegar. Aguardem.



Uma dica para os caríssimos leitores goiabais: se vocês estiverem a fim de ouvir algumas das coisas hediondas que estou postando no "brega's banquet", procurem uma coletânea de três CDs chamada "Toque Popular". Tem na Usina do Som e na Rádio UOL -e o conteúdo faz plena justiça ao título (só acho que eles se esqueceram de acrescentar o adjetivo "retal" ao "toque").

O volume 2 inclui "Eu Te Amo, Meu Brasil", com Os Incríveis. Tem também, entre muitas outras coisas, o inacreditável Paulo de Paula (sic) e seu clássico "Quarto de Mansão". Como diria o Christian Fittipaldi, "eu rrrrecomendo".
BREGA'S BANQUET 4

As praias do Brasil ensolaradas (lá-lá-lá-lá)
O chão onde o país se elevou (lá-lá-lá-lá)
A mão de Deus abençoou
Mulher que nasce aqui tem muito mais amor (...)

Eu te amo, meu Brasil, eu te amo
Meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil...


Sim, senhores, Dom e Ravel! Talvez a maior atrocidade do governo Médici... putaquepariu!

É claro que o link acima está no espírito de Agamenon Mendes Pedreira e sua "figuraça da semana". Que os deuses da música me perdoem.





O primeiro post do dia é um beijo, via blog, para a Patsy Dee, timoneira do bolha de sabão. Além de pop "do bem" (artigo que, como vocês sabem, Ruy Goiaba não oferece em sua lojinha), a moça fala de "mulherismo" e de Marcel Proust. Dê uma espiada.

Ah! Outra das virtudes da Patsy é gostar de Jacques Brel -aquele francês que, na verdade, era belga. Normalmente, este blog só exibe letras de música que se adaptem ao espírito "brega's banquet". Mas abro uma exceção aqui.

Avec des cathédrales pour uniques montagnes
Et de noirs clochers comme mâts de cocagne
Où des diables en pierre décrochent les nuages
Avec le fil des jours pour unique voyage
Et des chemins de pluie pour unique bonsoir
Avec le vent d'ouest -écoutez-le vouloir
Le plat pays qui est le mien


Bonito, não? É um trecho de "Le Plat Pays", homenagem do Brel à Bélgica. Pra você, Patsy.




21.11.01

BREGA'S BANQUET 3

Para fechar o dia -que começou, lembrem-se, com Brahms. Tentei uma espécie de transcrição fonética.

Ontem rrrretornei à areeeeiaa
Branca e ardente e em vão te esperei
Ouvi teu riso, que era um guizo
Que a onda mansa trouxe aos meus pés

E eu chamei
Chame-ei
Aline, estou aqui


O original, em francês, já era cafonérrimo. Mas o Timóteo consegue piorar. C'est incroyable.



CRIME, CASTIGO & MUITA ANCHOVA

Um pouquinho de trash cinematográfico.

Alguém aí se lembra de "Loverboy - O Garoto de Programa" (ah, como eu gosto desses filmes com subtítulos imbecis em português...)? É um filme do final dos anos 80, que o SBT já reprisou umas quinhentas vezes. O personagem principal, interpretado (?) por Patrick Dempsey, era um entregador de pizza que faturava uma grana como michê. A senha para essa segunda atividade era "pizza com muita anchova". Quando a mulher pedia para caprichar nas anchovas, o loverboy já chegava preparado para a ralação.

Pois bem. Fuçando no Internet Movie Database, descobri que Dempsey, nos anos seguintes, tentou limpar sua barra com papéis sérios. Entre outras coisas, ele participou de uma adaptação de "Crime e Castigo", do Dostoiévski, para a TV... no papel de Raskolnikov!

Fico imaginando como terá sido essa "adaptação": Raskolnikoy (Raskolnikov + Loverboy), estudante-fodido-e-mal-pago-e-garoto-de-programa, bate à porta do apartamento da velhota usurária e anuncia que está trazendo "pizza com muita anchova". A velhota, que há anos não sabe o que é uma boa ralação e está louquinha para ver a água do samovar ferver, abre a porta, ansiosa. Catapimba! Raskolnikoy dá-lhe uma machadada na moleira.

Bom, se a adaptação não era assim, tanto melhor. Usarei a idéia no meu segundo roteiro cinematográfico. Depois, é claro, d'"A Ilha das Mulheres de Vagina Dentada".
BREGA'S BANQUET 2

O que é que vocês querem?
Eu quero gozar
Mas o que é que vocês querem?
Eu quero gozar... a vida com você

Vamos gozar a viiiida
Vamos gozar a vida


Alípio Martins, ladies and gentlemen! O Roy Orbison da ilha de Marajó!

Se quiser mais, dê um pulinho na Usina do Som, que abriga uma coletânea do tipo "greatest hits". Não tem "Quero Gozar", mas tem o clássico "Tire a Calcinha". Ouçam e me digam: o cara tem ou não tem voz de xoxota?





Com tudo isso, vocês acreditam que, enquanto eu ouvia uma das sonatas (a primeira, opus 78), senti uma vontade irresistível de escutar "Mambolê" com o Trio Los Angeles ("Aprendam esta nova dança...")?

Civilização não é mesmo para nós, baby. A gente se esforça, faz o que pode. Mas é só o superego se distrair um instantinho e pimba -Agnaldo Timóteo, nosso id, irrompe e toma conta da casa.
Grande arte propõe outra geometria, como diria o Drummond. É uma das raríssimas coisas que salvam o mundo de ser uma merda irremediável.

Que bom que existam, por exemplo, as sonatas para violino e piano do Brahms. Aquele alemão barbudo sabia das coisas.

20.11.01

E chega por hoje. "A mis soledades voy", como diria o Lope de Vega. Beijos & abraços.
FRASE DO DIA

"Não consigo acreditar que quem gosta de rock seja animal vertebrado."

Paulo Francis, você faz falta. Mas, aqui entre nós, às vezes é divertido ser invertebrado.
O NOME DE GENÉSIO É PODEROSO

Há quem considere arbitrários os nomes que os seres humanos dão às coisas e a si mesmos. Eu já acho que, muitas vezes, um nome é um destino.

Imagine, por exemplo, se Jesus não se chamasse Jesus, e sim Genésio. Seriam possíveis cultos religiosos com pedidos de "palmas para Genésio"? Você botaria fé em adesivos de carro com os dizeres "Genésio está chegando"?

Não, né? Pois é. É por isso que eu me chamo Goiaba.

BREGA'S BANQUET

Eu já nem me lembro quanto tempo faz
Mas eu não esqueço que te amei demais
E nem mesmo o tempo conseguiu fazer esquecer você
Não...


"Lembranças", com a Kátia -aquela moça cega que comparecia assiduamente aos programas do Chacrinha no fim dos anos 70. Alguém aí se lembra dela (com trocadilho)? Tentei pôr um link, mas, até agora, não encontrei nenhum site que a mencionasse.

Decididamente, este país não tem memória.


Bem, o primeiro post do dia só pode ser uma retribuição à gentileza de Leonora Espanca, dona do Persona, outro dos meus blogs preferidos. A moça escreve fantasticamente, é mais antipop do que eu -e postou um legítimo Amado Batista hoje, o que é tão diferente da linha habitual do blog dela que só posso tomar como homenagem. Ganhei o dia, Leonora! Merci mille fois.

19.11.01

IS SEX NECESSARY?

Gente, juro que minha intenção inicial não era criticar outros blogs. Mas um deles, muito visitado por voyeurs virtuais, me forneceu um pretexto irresistível. Confiram esta pérola:

"Hoje eu li uma notícia sobre os afrescos eróticos de Pompéia que foram restaurados e estão expostos. Esses afrescos são muito interessantes e atualíssimos, e isso me fez pensar que tudo o que se relaciona com sexo não é moderno. O sexo faz parte da vida de todos nós desde que o mundo é mundo."

Aaaaah, não diga! E eu que pensava que o sexo tivesse sido inventado na década de 60! Na Inglaterra vitoriana, por exemplo, ninguém trepava, não é mesmo? Como é que a espécie humana conseguiu se reproduzir nos milhares de anos anteriores à "revolução sexual"? Mistério...

O mais engraçado é que a continuação desse post critica quem gosta de alardear o que (supostamente) faz na cama e se considera "moderno" só por isso.

Realmente, certos macacos nunca olham para o próprio rabo.
AUTOBIOGRAFIA NÃO-AUTORIZADA

Conforme o prometido alguns parágrafos atrás (isto é, abaixo), segue um breve relato da vida de Ruy Goiaba. Obviamente, não há um pingo de verdade no que você lerá a seguir.

* Minha primeira paixão foi o futebol. No início dos anos 80, achei que tivesse algum futuro em times que aceitavam jogadores como Nílton Batata, Rubens Feijão e Ernâni Banana. O que seria mais adequado para acompanhá-los do que um Ruy Goiaba? Cedo descobri, contudo, que eu era o maior perna-de-pau do Ocidente. Desisti do ludopédio.

* Tentei a música. Custa-me confessar, mas eu fiz parte da primeira formação do Menudo -que na época, poucos sabem, era um sexteto (Charlie, Ricky, Robby, Ray, Roy e Ruy). Durou pouquíssimo. O empresário me despediu dizendo, sem muita delicadeza, que minha barriga cervejeira não combinava com o visual do grupo. Mas a história verdadeira é outra: eu fui o único da banda a passar no teste da farinha, o que implodiu minhas possibilidades de sucesso no mundo artístico.

* Como tantos outros fracassados, acabei fazendo jornalismo. Concorri à eleição de "jornalista do século 20" da revista "Imprensa", mas aqueles calhordas retiraram meu nome da lista antes da votação final. Nenhum problema. Outro goiaba deve ter ganho. Aliás, se você ainda não notou, o jornalismo brasileiro é o reino da bananada de goiaba.

Acho que foi Balzac quem disse que, se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la. Tarde demais...





Dois projetos nunca levados a cabo por Ruy Goiaba, mas que talvez o façam milionário um dia:

* Uma dupla pornossertaneja, Punheta & Siririca.
* Um filme sobre a ilha das mulheres de vagina dentada.

Alguém se habilita a me financiar?
Outras coisas que você não vai encontrar aqui: briguinhas ou tapinhas nas costas entre donos de blogs.

Não obstante (vixe! Começar a semana com um "não obstante" é fogos. Sorry), dou-me o direito de indicar alguns blogs de que gosto. Se você, leitor, estiver a fim de coisas pop que não vai encontrar por aqui, vá ao Zeitgeist. Adverte-se ali que o navegador encontrará "eletropop com humor, às vezes". Não se preocupe: o cara é inteligente e espirituoso mesmo quando está mal-humorado. Take a look.

Ah, sim: concordo com o que o gajo diz sobre a "Vanity Fair". E, mais ainda, sobre a (argh) "Veja".
Segunda-feira melancólica.

"My nights were sour/ Spent with Schopenhauer..."
(Gershwin & Gershwin, "Isn't It a Pity?")

17.11.01

"Plaisante fantasie: plusieurs choses, que je ne voudroy dire au particulier, je les dis au public. Et, sur mes plus secretes sciences ou pensées, renvoye à une boutique de libraire mes amis plus feaux."

Michel de Montaigne, rapaziada. A data de validade do que ele diz sobre a vaidade humana não vencerá tão cedo.
Vários dias sem blogar, fazendo coisas mais úteis -ou, se inúteis, mais interessantes.

13.11.01

Ah, e mais uma coisa, para fechar o dia: Cauby Peixoto rocks.

Se você pegasse todos os personagens do Almodóvar e batesse num liquidificador (metaforicamente, of course), o resultado seria um Cauby "hispanohablante".

E, se você quer saber, o "muito péssimo" é geralmente bem melhor que coisas vendidas como "modernas" ou de "bom gosto" -e que não passam de merda embalada para quem tem todos os dentes, estudou em colégios caros e acha de bom-tom ser socialmente sensível, desde que o menino pobre e sujo não encoste no vidro do carro.

Em outras palavras -e para citar apenas um exemplo-, prefiro Odair José a Marisa Monte e sua eterna cara de cool.

Com absoluta sinceridade.

Um blog esquizofrênico, que vai sem escalas de Shakespeare, Cecília Meireles e Giuseppe Ungaretti a Agnaldo Timóteo e Odair José? Sim, mas há algum método nessa esquizofrenia, que pode ser resumido numa frase curta e, principalmente, grossa: foda-se o pop. Aqui você não vai ler posts sobre os Strokes, essa recentíssima reinvenção da roda pelas "cabeças pensantes" da imprensa roqueira. Muito menos considerações sobre os livros do Nick Hornby ou da Helen Fielding.

Tenho bons amigos que gostam dessas coisas, tratam delas em seus blogs etc. Só que a conversa do puragoiaba é outra. Quando não falarmos de "alta cultura" (definição que reconheço ser muitíssimo discutível), seremos decididamente, resolutamente, "trash". Não haverá meio-termo.

Porque meio-termo e mediocridade -no sentido etimológico desse termo, ou seja, coisa de qualidade média, comum- são, na minha opinião, elementos importantíssimos desse tipo de pop, se não definidores dele. O que é mediano pode, sim, ser gostoso de ouvir e de ler. Mas, em princípio, não interessa ao puragoiaba. Aqui só entra o que é bom (segundo os critérios bastante contestáveis deste escriba) ou muito ruim. Melhor: muito péssimo.

Enquanto espero que alguém apareça, posso fazer planos para este bloguinho. Estou pensando em postar a autobiografia não-autorizada de Ruy Goiaba. Também acho conveniente fazer uma lista das coisas que você NÃO vai encontrar por aqui.

Já posso adiantar uma delas. Hoje, você não lerá aqui comentários inteligentíssimos sobre a queda do avião em NY ou a tomada de Cabul pela Aliança do Norte. Em compensação, terá um link para essa encarnação do inconsciente coletivo brazuca. Fala a verdade: não é o máximo esse blazer amarelo-ovo?

12.11.01

Fim de semana sem blogar, longe do computador. Ainda bem.

Continuo falando sozinho, já que nenhum mecanismo de busca aponta o caminho para o puragoiaba. Claro, ninguém está perdendo grande coisa. Mas quem sabe algum público me estimule a escrever coisas menos desinteressantes.

8.11.01

Cito, no último post da noite, um dos ídolos deste blog, um dos Doze Olímpicos do hardcore brega.
Porque a vida não é só Cecília Meireles...

Olha
A primeira vez que eu estive aqui
Foi pra me distrair
Eu vim em busca do amor

Olha
Foi então que eu lhe conheci
Naquela noite fria
Em seus braços meus problemas esqueci


(Odair José, "Eu Vou Tirar Você Desse Lugar")


Adilson Ramos é apenas a primeira indicação de Ruy Goiaba para quem queira se iniciar no universo do hardcore brega. Se você seguiu o link (bem-feito!) e nem sabe por onde começar, este cronista do submundo musical sugere a audição de "Não Seja Ingrata, Mulher" e "24 Horas de Amor".


Nem sei se os restos mortais da Transamazônica passam perto de Altamira ou Ji-Paraná.

Que se fueda. Geografia nunca foi o forte das goiabas.

(Espanhol, como se vê, também não.)
Só agora me dou conta de que puragoiaba, junto, parece nome de cidade -daquelas lá na putaquepariu (também junto). Pertinho de Altamira ou Ji-Paraná, seguindo pelo que sobrou da Transamazônica, você vê a tabuleta, cheia de ferrugem e com buracos de bala: Puragoiaba, 700 km.
Começo a achar que blogar é algo muito semelhante a falar sozinho. E tão estúpido quanto. Pelo menos até agora, não tenho como saber se alguém me lê. Só sei que quem não me lê não perde absolutamente nada.

Sim, goiabas também ficam deprimidos. Ah, e a concordância é essa mesma. Ruy Goiaba é fruta, mas é espada.

7.11.01

Tá bom, Shakespeare não faz a sua cabeça. Então tente este site aqui. Atenção especial para as fotos. Puro requinte.

Sim, isso é hardcore brega, senhores!
Testando inclusão de link. Brush up your Shakespeare...

Aliás, essa intenção já está no cabeçalho (palavra horrorosa, credo) deste bloguinho. "A different kind of failure" é um trecho de um verso do T.S. Eliot. Pretensioso, né? Pois é, mas eu tento compensar com o título, obviamente goiabão.

Pensei em fazer ao contrário. Digamos, chamar o blog de "Waste Land" e botar uma frase de padaria do tipo "servimos bem para servir sempre". Por enquanto, ficamos assim.
Se você ficou assustado com a Cecília Meireles de ontem, desencane -e, se gostou, não vá se acostumando mal. O puragoiaba oscilará do luxo ao lixo, com evidente predominância do segundo. Aguardem minha teoria sobre Agnaldo Timóteo e o inconsciente coletivo dos brasileiros.

6.11.01

Um pouco de Cecília Meireles, para encerrar a noite.
Porque amanhã Cecília faz cem anos. E porque nem só de goiaba vive o homem.

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verás, só de cinza franzida,
mortas intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos,
ao longe o vento vai falando em mim.

E por perder-me é que me vão lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.


("4º Motivo da Rosa". Salvo engano meu, do livro "Mar Absoluto", 1945)

Também sei: falta colocar um e-mail para o caso de aquela expectativa absurda do primeiro post se concretizar. Você já percebeu que eu não sei tocar nem três acordes, não?
Sim, sei que o visual é pré-fabricado, pobrezinho, sem charme etc. Aviso desde já que sou uma tecnoanta e não consigo, pelo menos por enquanto, fazer melhor. Que alguém como eu possa ter um blog talvez seja a tradução virtual daquele velho "do-it-yourself" dos punks. Mas quem disse que isso é bom?


Boa noite, ladies and gentlemen (na expectativa absurdamente otimista de que alguém esteja lendo o que escrevo). Bem-vindos ao puragoiaba. Aqui vocês não correrão, nunca, o risco de encontrar algo interessante.