O Chesterton dos trópicos escreveu, faz pouco tempo, um post sobre clichês. Eu acho que esse costume de seguir o caminho mental mais curto ou juntar bloquinhos de idéias feitas pode, às vezes, ter resultados interessantes. Lembro-me de ter lido, há alguns anos, uma reportagem sobre o dramaturgo francês Bernard-Marie Koltès segundo a qual procurar seus textos era uma "tarefa impossível" no Brasil. Imediatamente pensei em algo semelhante ao que acontece em "O Anjo Exterminador", do Buñuel: o sujeito vai à livraria em busca de um livro do Koltès e não consegue passar pela porta escancarada. Ou entra e vê o livro numa prateleira, mas é incapaz de estender seu braço para alcançá-lo. Viram como os chavões também podem ser um atalho para o surreal?
29.6.03
O EFEITO BUÑUEL
O Chesterton dos trópicos escreveu, faz pouco tempo, um post sobre clichês. Eu acho que esse costume de seguir o caminho mental mais curto ou juntar bloquinhos de idéias feitas pode, às vezes, ter resultados interessantes. Lembro-me de ter lido, há alguns anos, uma reportagem sobre o dramaturgo francês Bernard-Marie Koltès segundo a qual procurar seus textos era uma "tarefa impossível" no Brasil. Imediatamente pensei em algo semelhante ao que acontece em "O Anjo Exterminador", do Buñuel: o sujeito vai à livraria em busca de um livro do Koltès e não consegue passar pela porta escancarada. Ou entra e vê o livro numa prateleira, mas é incapaz de estender seu braço para alcançá-lo. Viram como os chavões também podem ser um atalho para o surreal?
O Chesterton dos trópicos escreveu, faz pouco tempo, um post sobre clichês. Eu acho que esse costume de seguir o caminho mental mais curto ou juntar bloquinhos de idéias feitas pode, às vezes, ter resultados interessantes. Lembro-me de ter lido, há alguns anos, uma reportagem sobre o dramaturgo francês Bernard-Marie Koltès segundo a qual procurar seus textos era uma "tarefa impossível" no Brasil. Imediatamente pensei em algo semelhante ao que acontece em "O Anjo Exterminador", do Buñuel: o sujeito vai à livraria em busca de um livro do Koltès e não consegue passar pela porta escancarada. Ou entra e vê o livro numa prateleira, mas é incapaz de estender seu braço para alcançá-lo. Viram como os chavões também podem ser um atalho para o surreal?
27.6.03
O M'LHOR DO SARCASMO À LUSITANA
Ei, vocês: parem de perder tempo por aqui e vão já ler o excelente blog português Gato Fedorento. A página, cujo nome é inspirado na obra de Phoebe Buffay, é escrita por quatro gajos cheios de opiniões, "nenhuma das quais devidamente fundamentada". Não resisto a reproduzir trechos dos textos mais recentes de um deles, Miguel Góis: "A questão que, neste momento, interessa lançar para a praça pública é: quantos consumidores estariam interessados em comer uma sopa confeccionada com base numa receita da Claudia Schiffer? Provavelmente o mesmo número de homens que estariam interessados em assistir à sua avó a fazer strip-tease, em cima da mesa da sala de jantar, despindo languidamente a bata, as meias de descanso e as socas (por esta ordem). Atenção: eu aprecio muito a Claudia Schiffer; e também não desgosto da minha avó. Mas cada uma na respectiva divisão da casa".
Ei, vocês: parem de perder tempo por aqui e vão já ler o excelente blog português Gato Fedorento. A página, cujo nome é inspirado na obra de Phoebe Buffay, é escrita por quatro gajos cheios de opiniões, "nenhuma das quais devidamente fundamentada". Não resisto a reproduzir trechos dos textos mais recentes de um deles, Miguel Góis: "A questão que, neste momento, interessa lançar para a praça pública é: quantos consumidores estariam interessados em comer uma sopa confeccionada com base numa receita da Claudia Schiffer? Provavelmente o mesmo número de homens que estariam interessados em assistir à sua avó a fazer strip-tease, em cima da mesa da sala de jantar, despindo languidamente a bata, as meias de descanso e as socas (por esta ordem). Atenção: eu aprecio muito a Claudia Schiffer; e também não desgosto da minha avó. Mas cada uma na respectiva divisão da casa".
THE ROLLING OLAVOS
Ninguém nunca discutiu o assunto a fundo, mas é chegada a hora de fazê-lo: há evidências contundentes de que os Rolling Stones são, há quase 40 anos, discípulos do polêmico Olavo de Carvalho. Uma leitura atenta das letras escritas pelo bocudo Mick Jagger pode comprovar isso. É evidente que "(I Can't Get No) Satisfaction", por exemplo, trata da apeirokalia, a falta de experiência das coisas belas, num mundo corrompido e sem valores espirituais. "Waiting on a Friend", por sua vez, fala das consolações que a amizade oferece a um epicurista arrependido, ansioso por fugir do jardim das aflições. Por fim, "Sympathy for the Devil" não deixa dúvidas: ali se diz, com todas as letras, que a Revolução Russa foi obra do Tinhoso. Mas, por enquanto, não passa de especulação a história de que Jagger e Olavão dividirão o palco na próxima turnê mundial dos roqueiros geriátricos. Hey, hey, hey, that's what I say.
Ninguém nunca discutiu o assunto a fundo, mas é chegada a hora de fazê-lo: há evidências contundentes de que os Rolling Stones são, há quase 40 anos, discípulos do polêmico Olavo de Carvalho. Uma leitura atenta das letras escritas pelo bocudo Mick Jagger pode comprovar isso. É evidente que "(I Can't Get No) Satisfaction", por exemplo, trata da apeirokalia, a falta de experiência das coisas belas, num mundo corrompido e sem valores espirituais. "Waiting on a Friend", por sua vez, fala das consolações que a amizade oferece a um epicurista arrependido, ansioso por fugir do jardim das aflições. Por fim, "Sympathy for the Devil" não deixa dúvidas: ali se diz, com todas as letras, que a Revolução Russa foi obra do Tinhoso. Mas, por enquanto, não passa de especulação a história de que Jagger e Olavão dividirão o palco na próxima turnê mundial dos roqueiros geriátricos. Hey, hey, hey, that's what I say.
26.6.03
FEIJOADA SINTÉTICA
Há um boteco perto de onde eu moro que anuncia em uma faixa: aos sábados, servimos a tradicional "feijoada". Assim mesmo, entre aspas. O que isso significa? Que não é bem feijoada, mas alguma outra coisa indefinível? Pode-se supor que o feijão seja, de fato, feijão e a carne pertença a qualquer tipo de animal, menos o porco. Mas seria mais interessante se o boteco anunciasse que, aos sábados, serve a tradicional falsa feijoada (na linha da falsa tartaruga do Lewis Carroll). Melhor ainda se saboreássemos ali a deliciosa feijoada sintética. Vou até patentear essa expressão -quem sabe o grupo de tecnopagode Feijoada Sintética faça sucesso.
Há um boteco perto de onde eu moro que anuncia em uma faixa: aos sábados, servimos a tradicional "feijoada". Assim mesmo, entre aspas. O que isso significa? Que não é bem feijoada, mas alguma outra coisa indefinível? Pode-se supor que o feijão seja, de fato, feijão e a carne pertença a qualquer tipo de animal, menos o porco. Mas seria mais interessante se o boteco anunciasse que, aos sábados, serve a tradicional falsa feijoada (na linha da falsa tartaruga do Lewis Carroll). Melhor ainda se saboreássemos ali a deliciosa feijoada sintética. Vou até patentear essa expressão -quem sabe o grupo de tecnopagode Feijoada Sintética faça sucesso.
25.6.03
BALANÇANDO A LANÇA
Já vi filisteus dizendo que a grandeza de Shakespeare vem do fato de ele ser um "dramaturgo popular", um sujeito que escrevia para divertir o povo (desculpem pelas repetidas menções de "povo" e "popular"; já estou me sentindo um candidato a vereador em Putaquepariu-Mirim, cidade próxima a Putaquepariu-Açu). É injusto, porque implica transformar Balançalança numa espécie de Miguel Falabella elizabetano -e a grandeza do bardo está em ele ser, sim, um mestre do humor, mas ir muito além disso.
Vejam, por exemplo, a história da "vã filosofia" de Horácio em "Hamlet" (que, no original, não tem nada de "vã": "There are more things in heaven and earth, Horatio,/ Than are dreamt of in your philosophy"). O fato de o príncipe se referir aos tempos em que o amigo fora estudante em Wittenberg, alguns momentos antes, costuma passar batido. Ora, Wittenberg era um centro de difusão de cultura humanista no tempo de Shakespeare. Quem sabe disso entende o "there are more things in heaven and earth" como uma contestação ao racionalismo de que Horácio era seguidor; quem não sabe vê apenas Hamlet dizendo "Horácio, és uma besta". Mas ambos, quem sabe e quem não sabe, podem gostar da peça, apreendê-la em diferentes níveis. Esse é o barato do bardo.
De todo modo, se vocês, queridos leitores ogros, procuram sexo e violência, Balançalança também dá (epa!) aquilo que vocês querem. "Tito Andrônico", por exemplo, seria um "Massacre da Serra Elétrica", se eletricidade houvesse no final do século 16. E fuquefuque, bem, aí é que as citações abundam (epa de novo). Podemos ficar, por exemplo, com Iago dizendo ao pai da Desdêmona "your daughter and the moor [Otelo] are now making the beast with two backs". Ou com as sacanagens ditas por Mercúcio, amigo de Romeu. Ou ainda com a conversa entre Hamlet e Ofélia sobre "country matters", que põe no chinelo todos os roteiristas de pornochanchada. Esta eu reproduzo aqui:
HAMLET
Lady, shall I lie in your lap?
(Lying down at OPHELIA's feet.)
OPHELIA
No, my lord.
HAMLET
I mean, my head upon your lap?
OPHELIA
Ay, my lord.
HAMLET
Do you think I meant country* matters?
OPHELIA
I think nothing, my lord.
HAMLET
That's a fair thought to lie between maids' legs.
Mas a minha passagem preferida é um trecho de "Noite de Reis" em que o bardo tarado conseguiu introduzir (mais uma vez: epa) a palavra "cunt" -xoxeta**- numa das falas de Malvólio, que crê reconhecer numa carta a letra da nobre a quem serve: "By my life, this is my lady’s hand. These be her C’s, her U’s, and [‘n] her T’s; and thus makes she her great P’s". Que Ary Toledo, que nada.
* Soa como "cunt-ree matters". Só para deixar mais claro.
** Xoxeta é marca registrada da Goiaba's Enterprises. Use e abuse, mas cite a fonte, s'il vous plaît. Cuidado, recheio quente.
Já vi filisteus dizendo que a grandeza de Shakespeare vem do fato de ele ser um "dramaturgo popular", um sujeito que escrevia para divertir o povo (desculpem pelas repetidas menções de "povo" e "popular"; já estou me sentindo um candidato a vereador em Putaquepariu-Mirim, cidade próxima a Putaquepariu-Açu). É injusto, porque implica transformar Balançalança numa espécie de Miguel Falabella elizabetano -e a grandeza do bardo está em ele ser, sim, um mestre do humor, mas ir muito além disso.
Vejam, por exemplo, a história da "vã filosofia" de Horácio em "Hamlet" (que, no original, não tem nada de "vã": "There are more things in heaven and earth, Horatio,/ Than are dreamt of in your philosophy"). O fato de o príncipe se referir aos tempos em que o amigo fora estudante em Wittenberg, alguns momentos antes, costuma passar batido. Ora, Wittenberg era um centro de difusão de cultura humanista no tempo de Shakespeare. Quem sabe disso entende o "there are more things in heaven and earth" como uma contestação ao racionalismo de que Horácio era seguidor; quem não sabe vê apenas Hamlet dizendo "Horácio, és uma besta". Mas ambos, quem sabe e quem não sabe, podem gostar da peça, apreendê-la em diferentes níveis. Esse é o barato do bardo.
De todo modo, se vocês, queridos leitores ogros, procuram sexo e violência, Balançalança também dá (epa!) aquilo que vocês querem. "Tito Andrônico", por exemplo, seria um "Massacre da Serra Elétrica", se eletricidade houvesse no final do século 16. E fuquefuque, bem, aí é que as citações abundam (epa de novo). Podemos ficar, por exemplo, com Iago dizendo ao pai da Desdêmona "your daughter and the moor [Otelo] are now making the beast with two backs". Ou com as sacanagens ditas por Mercúcio, amigo de Romeu. Ou ainda com a conversa entre Hamlet e Ofélia sobre "country matters", que põe no chinelo todos os roteiristas de pornochanchada. Esta eu reproduzo aqui:
HAMLET
Lady, shall I lie in your lap?
(Lying down at OPHELIA's feet.)
OPHELIA
No, my lord.
HAMLET
I mean, my head upon your lap?
OPHELIA
Ay, my lord.
HAMLET
Do you think I meant country* matters?
OPHELIA
I think nothing, my lord.
HAMLET
That's a fair thought to lie between maids' legs.
Mas a minha passagem preferida é um trecho de "Noite de Reis" em que o bardo tarado conseguiu introduzir (mais uma vez: epa) a palavra "cunt" -xoxeta**- numa das falas de Malvólio, que crê reconhecer numa carta a letra da nobre a quem serve: "By my life, this is my lady’s hand. These be her C’s, her U’s, and [‘n] her T’s; and thus makes she her great P’s". Que Ary Toledo, que nada.
* Soa como "cunt-ree matters". Só para deixar mais claro.
** Xoxeta é marca registrada da Goiaba's Enterprises. Use e abuse, mas cite a fonte, s'il vous plaît. Cuidado, recheio quente.
24.6.03
RUY E SEU NOTÓRIO BOM HUMOR
Sou um ouvinte assíduo da Cultura FM de São Paulo, a única em cuja programação predomina a música clássica. Mas é claro que eles tinham de pôr uma azeitoninha estragada nessa bela empada: "O Sabor da Crônica", textos de Rodolfo Konder semelhantes àqueles surtos "literários" de Armando Nojeira. Mudo correndo de estação quando Konder começa a ler suas crônicas, mas hoje, contra a vontade, captei uma linda frase: "Onde encontrar um oboé na solidão do poder?". Como nosso cronista foi secretário da Cultura desta cidade, cabe a pergunta: "Já procurou no seu cu?".
Sou um ouvinte assíduo da Cultura FM de São Paulo, a única em cuja programação predomina a música clássica. Mas é claro que eles tinham de pôr uma azeitoninha estragada nessa bela empada: "O Sabor da Crônica", textos de Rodolfo Konder semelhantes àqueles surtos "literários" de Armando Nojeira. Mudo correndo de estação quando Konder começa a ler suas crônicas, mas hoje, contra a vontade, captei uma linda frase: "Onde encontrar um oboé na solidão do poder?". Como nosso cronista foi secretário da Cultura desta cidade, cabe a pergunta: "Já procurou no seu cu?".
19.6.03
A CLÁUSULA SEINFELD
Devo me penitenciar: este blog tem oferecido demonstrações inequívocas de preconceito contra os carecas. Ora, não é justo que seja assim. Os carecas são pessoas sensíveis, sofridas, cujas contribuições para o patrimônio cultural da humanidade são valiosíssimas (pensem no que seria o mundo sem a série "Kojak" ou os discursos do Esperidião Amin). Não merecem ser tratados como ponto de referência em estádios lotados nem receber nomes desairosos como Pouca-Telha, Joelho ou Zé Serra. Doravante, toda referência que possa ser considerada discriminatória em relação aos carecas será acompanhada, neste blog, de uma remissão à chamada cláusula Seinfeld: "Não que isso seja um problema!".
Devo me penitenciar: este blog tem oferecido demonstrações inequívocas de preconceito contra os carecas. Ora, não é justo que seja assim. Os carecas são pessoas sensíveis, sofridas, cujas contribuições para o patrimônio cultural da humanidade são valiosíssimas (pensem no que seria o mundo sem a série "Kojak" ou os discursos do Esperidião Amin). Não merecem ser tratados como ponto de referência em estádios lotados nem receber nomes desairosos como Pouca-Telha, Joelho ou Zé Serra. Doravante, toda referência que possa ser considerada discriminatória em relação aos carecas será acompanhada, neste blog, de uma remissão à chamada cláusula Seinfeld: "Não que isso seja um problema!".
18.6.03
OU, OU, OU, FEELINGS
Por falar em Meloso, ídolo e referência absoluta deste blog, uma notinha publicada há pouco pelo Ancelmo Gois informa que esse gênio da MPB regravou "Feelings". É, aquela mesma, do Morris Albert. E, pior, José Pouca-Telha Serra ouviu e gostou. Gente, isso é ou não é um atestado de puro horror auditivo? Melhor seria fazer o contrário -por exemplo, averiguar o que o alfagamabetizado Carlinhos Brown tem a dizer sobre a redução dos juros.
Por falar em Meloso, ídolo e referência absoluta deste blog, uma notinha publicada há pouco pelo Ancelmo Gois informa que esse gênio da MPB regravou "Feelings". É, aquela mesma, do Morris Albert. E, pior, José Pouca-Telha Serra ouviu e gostou. Gente, isso é ou não é um atestado de puro horror auditivo? Melhor seria fazer o contrário -por exemplo, averiguar o que o alfagamabetizado Carlinhos Brown tem a dizer sobre a redução dos juros.
UMA PAISAGEM DE CENTAUROS
Às vezes penso que a principal razão para o tropicalismo de Baiano Meloso & comparsas ter crescido firme e forte como erva daninha é o fato de sermos um país capaz de dissolver todas as contradições em Carnaval, batuque e borogodó generalizados. Por exemplo, aqui circulam à vontade, sem ser objeto de estudo da ciência, seres simultaneamente "anarcocapitalistas" e ultracatólicos. Muito mais comuns são criaturas que ostentam cabeças cristãs sobre quatro patas marxistas ou o torso do doutor Sigmund unido às ancas do velho Karl. Esse segundo ser mitológico, no estrangeiro, seria incompreensível para quem tivesse lido mais que as orelhas de "O Mal-Estar na Civilização" (exceto para os surrealistas, que, como sabemos, eram todos analfabetos). Aqui, passa batido. Mas confesso que, para mim, essa profusão de centauros dá um colorido todo especial à paisagem. É delicioso viver num lugar em que o axioma "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa" não vigora. No Brasil, uma coisa pode ser tudo, menos ela mesma. E futebol é bola na rede.
Às vezes penso que a principal razão para o tropicalismo de Baiano Meloso & comparsas ter crescido firme e forte como erva daninha é o fato de sermos um país capaz de dissolver todas as contradições em Carnaval, batuque e borogodó generalizados. Por exemplo, aqui circulam à vontade, sem ser objeto de estudo da ciência, seres simultaneamente "anarcocapitalistas" e ultracatólicos. Muito mais comuns são criaturas que ostentam cabeças cristãs sobre quatro patas marxistas ou o torso do doutor Sigmund unido às ancas do velho Karl. Esse segundo ser mitológico, no estrangeiro, seria incompreensível para quem tivesse lido mais que as orelhas de "O Mal-Estar na Civilização" (exceto para os surrealistas, que, como sabemos, eram todos analfabetos). Aqui, passa batido. Mas confesso que, para mim, essa profusão de centauros dá um colorido todo especial à paisagem. É delicioso viver num lugar em que o axioma "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa" não vigora. No Brasil, uma coisa pode ser tudo, menos ela mesma. E futebol é bola na rede.
17.6.03
SEDE NÃO É NADA, "NORDESTINIDAD" É TUDO
A Goiaba's Enterprises tem três projetos para aproveitar a onda Nordeste is cool e, quem sabe, conseguir subsídio do governo. Quero saber qual desses projetos é o mais viável, na opinião de vocês. 1) A rave "Jegue Hypado", que levará astros do tecno para três dias de great fun, sem água nem comida, no sertão piauiense. Apresentações conjuntas de Clemilda e Prodigy, Sandro Becker e Chemical Brothers e por aí vai. 2) A banda Rapadura Elétrica, intrigante mistura de forró universotário e psicodelia sessentista, cabelinhos empastados à britpop e sandálias de couro cru, pífanos de Caruaru e samples dos White Stripes. 3) Uma tese de mestrado, "A importância da farinha com LSD na alimentação do nordestino e sua influência na obra de Zé Ramalho [autor do imortal verso 'os meus gametas se agrupam em meu som']". Tenho para mim que a tese será o mais divertido desses três. O que vocês acham?
A Goiaba's Enterprises tem três projetos para aproveitar a onda Nordeste is cool e, quem sabe, conseguir subsídio do governo. Quero saber qual desses projetos é o mais viável, na opinião de vocês. 1) A rave "Jegue Hypado", que levará astros do tecno para três dias de great fun, sem água nem comida, no sertão piauiense. Apresentações conjuntas de Clemilda e Prodigy, Sandro Becker e Chemical Brothers e por aí vai. 2) A banda Rapadura Elétrica, intrigante mistura de forró universotário e psicodelia sessentista, cabelinhos empastados à britpop e sandálias de couro cru, pífanos de Caruaru e samples dos White Stripes. 3) Uma tese de mestrado, "A importância da farinha com LSD na alimentação do nordestino e sua influência na obra de Zé Ramalho [autor do imortal verso 'os meus gametas se agrupam em meu som']". Tenho para mim que a tese será o mais divertido desses três. O que vocês acham?
A SIGHT FOR SORE EYES
Puxa, agora é que eu não mudo mais de "pingüim cover" -acho que vou deixar essa moça Jennifer Connelly aí por um bom tempo. Ela deve ser a atriz que mais me fez assistir a filmes meia-boca ou francamente ruins. Defendo, aliás, a tese de que os diretores do segundo tipo de película merecem sempre nota cinco -zero pelo filme e dez por tê-la no elenco. Eventuais interessados em juntar-se aos cultos das Testemunhas de Jennifer Connelly, seita fundada pelo bispo Goiaba, podem se manifestar nos comentários.
Puxa, agora é que eu não mudo mais de "pingüim cover" -acho que vou deixar essa moça Jennifer Connelly aí por um bom tempo. Ela deve ser a atriz que mais me fez assistir a filmes meia-boca ou francamente ruins. Defendo, aliás, a tese de que os diretores do segundo tipo de película merecem sempre nota cinco -zero pelo filme e dez por tê-la no elenco. Eventuais interessados em juntar-se aos cultos das Testemunhas de Jennifer Connelly, seita fundada pelo bispo Goiaba, podem se manifestar nos comentários.
16.6.03
DIVERSÕES JOYCIANAS
Hoje é o Bloomsday. Bom dia para tirar a máscara de Hannibal Lecter do meu fofo velhinho serial killer, Philadelpho Philomeno, e levá-lo, sobranceiro e fornido, para passear perto do Finnegan's Pub. Com sorte, ele estará por lá bem no momento em que Haroldão, o Papai Noel concretista, estiver lendo trechos do "Finnegans Wake" em coreano. Concretinismo nenhum resiste a um ataque de Philadelpho e seu fraldão geriátrico usado.
Hoje é o Bloomsday. Bom dia para tirar a máscara de Hannibal Lecter do meu fofo velhinho serial killer, Philadelpho Philomeno, e levá-lo, sobranceiro e fornido, para passear perto do Finnegan's Pub. Com sorte, ele estará por lá bem no momento em que Haroldão, o Papai Noel concretista, estiver lendo trechos do "Finnegans Wake" em coreano. Concretinismo nenhum resiste a um ataque de Philadelpho e seu fraldão geriátrico usado.
PERGUNTAS PERIGOSÍSSIMAS
Há uma série de indagações cruciais para a existência da humanidade que nunca foram respondidas, o que me faz supor que "forças terríveis" (pronuncie-se com a entonação do Jânio Quadros) estejam impedindo as pessoas de ter acesso à verdade. Como o puragoiaba é um blog desassombrado e acredita que a pena pode mais que a espada*, vou repetir essas perguntas até que alguém suficientemente corajoso e perspicaz me explique de quem o Tarso é genro, a quem o Sepúlveda pertence, para quem o conde D'Eu e, sobretudo, o que é que o José Carlos dos Reis encina.
* Sei que haverá objeções como esta: "Que pena? Tu escreve em computador, rapá!". Ah, não estraguem o romantismo da coisa.
Há uma série de indagações cruciais para a existência da humanidade que nunca foram respondidas, o que me faz supor que "forças terríveis" (pronuncie-se com a entonação do Jânio Quadros) estejam impedindo as pessoas de ter acesso à verdade. Como o puragoiaba é um blog desassombrado e acredita que a pena pode mais que a espada*, vou repetir essas perguntas até que alguém suficientemente corajoso e perspicaz me explique de quem o Tarso é genro, a quem o Sepúlveda pertence, para quem o conde D'Eu e, sobretudo, o que é que o José Carlos dos Reis encina.
* Sei que haverá objeções como esta: "Que pena? Tu escreve em computador, rapá!". Ah, não estraguem o romantismo da coisa.
14.6.03
SOMOS TODOS DERCYS
Guilherme Balançalança dizia que o mundo é um palco. Cartola, por sua vez, argumentava que é um moinho, que tritura nossos sonhos tão mesquinhos, reduz as ilusões a pó etc. Já a dona Maricota, que também leu McLuhan, acha que o mundo é uma aldeia global (plim-plim). Eu tendo a concordar com as chanchadas da Atlântida, segundo as quais este mundo é um pandeiro. Por afinidade eletiva e porque a gente vive levando no couro, mas isso não vem ao caso: é do "all the world's a stage" que quero falar.
Se este planetinha é mesmo um palco, há quem ache que a peça aqui encenada é péssima -longa e tediosa em muitos pontos, curta demais em outros e sempre incompreensível, o que presume um Ser Supremo feito à imagem e semelhança do Gerald Thomas. Isso é injusto, dizem os defensores do Grande Diretor. Primeiro, dá um trabalho cão ensaiar um elenco de 6 bilhões de pessoas. Depois -e sobretudo-, elas têm liberdade para criar o próprio texto e incluir "cacos" à vontade. Let's face it: somos 6 bilhões de Dercys Gonçalves. As possibilidades de sucesso são remotíssimas -ou, traduzido para o derciês, "esta merda só pode dar errado, porra".
Guilherme Balançalança dizia que o mundo é um palco. Cartola, por sua vez, argumentava que é um moinho, que tritura nossos sonhos tão mesquinhos, reduz as ilusões a pó etc. Já a dona Maricota, que também leu McLuhan, acha que o mundo é uma aldeia global (plim-plim). Eu tendo a concordar com as chanchadas da Atlântida, segundo as quais este mundo é um pandeiro. Por afinidade eletiva e porque a gente vive levando no couro, mas isso não vem ao caso: é do "all the world's a stage" que quero falar.
Se este planetinha é mesmo um palco, há quem ache que a peça aqui encenada é péssima -longa e tediosa em muitos pontos, curta demais em outros e sempre incompreensível, o que presume um Ser Supremo feito à imagem e semelhança do Gerald Thomas. Isso é injusto, dizem os defensores do Grande Diretor. Primeiro, dá um trabalho cão ensaiar um elenco de 6 bilhões de pessoas. Depois -e sobretudo-, elas têm liberdade para criar o próprio texto e incluir "cacos" à vontade. Let's face it: somos 6 bilhões de Dercys Gonçalves. As possibilidades de sucesso são remotíssimas -ou, traduzido para o derciês, "esta merda só pode dar errado, porra".
13.6.03
AQUELE SENTIMENTO QUE É NOME DE PAÇOCA
Love is a many-splendored thing, diziam William Holden e Jennifer Jones em "Suplício de uma Saudade" . Já o Alexandre considera que "amar outra pessoa é ir deixando um pouco de se amar", é um adultério contra nós mesmos. E está certo. É dessa fonte que vem o perpétuo ridículo das relações amorosas: estar apaixonado é, no fundo, ser o corno de si próprio. Quem ama vive numa música do Waldick Soriano -e acha isso ótimo. Só os cafonas são felizes.
Love is a many-splendored thing, diziam William Holden e Jennifer Jones em "Suplício de uma Saudade" . Já o Alexandre considera que "amar outra pessoa é ir deixando um pouco de se amar", é um adultério contra nós mesmos. E está certo. É dessa fonte que vem o perpétuo ridículo das relações amorosas: estar apaixonado é, no fundo, ser o corno de si próprio. Quem ama vive numa música do Waldick Soriano -e acha isso ótimo. Só os cafonas são felizes.
10.6.03
NOTAS ALEATORIAMENTE DESINTERESSANTES
1) Resolvi embelezar meu blog com a Audrey Hepburn fazendo cara de Holly Golightly. Depois de o Enio dizer que a foto do Chiquinho Scarpa provocava um "efeito tridimensional no cerebelo", eu a suprimi -vai que o puragoiaba, à semelhança de certos desenhos japoneses, começa a provocar convulsões em quem o lê. Deusmelivre. Sim, queridos leitores, eu me preocupo com a saúde de vocês. 2) Até hoje há quem se queixe do conteúdo de "Lolita", da relação entre Humbert Humbert e a ninfeta etc. Isso não é nada. Barra-pesada são as sugestões de homossexualismo e pedofilia na mal explicada amizade de Bozo com o Garoto Juca, que põem qualquer Nabokov (opa!) no bolso. 3) Toda a literatura brasileira contemporânea não chega aos pés de Maurício de Sousa. Basta mencionar as aparições do Capitão Feio e o terrível dilema moral que elas suscitavam em Cascão: ser leal à turma ou se deixar atrair pelo lado negro, sujo e fedegoso da força? Quem era fã do Capitão Feio tem a obrigação moral de desprezar os livros do Marcelo Mirisola. Não nos contentamos com tão pouco, ora.
1) Resolvi embelezar meu blog com a Audrey Hepburn fazendo cara de Holly Golightly. Depois de o Enio dizer que a foto do Chiquinho Scarpa provocava um "efeito tridimensional no cerebelo", eu a suprimi -vai que o puragoiaba, à semelhança de certos desenhos japoneses, começa a provocar convulsões em quem o lê. Deusmelivre. Sim, queridos leitores, eu me preocupo com a saúde de vocês. 2) Até hoje há quem se queixe do conteúdo de "Lolita", da relação entre Humbert Humbert e a ninfeta etc. Isso não é nada. Barra-pesada são as sugestões de homossexualismo e pedofilia na mal explicada amizade de Bozo com o Garoto Juca, que põem qualquer Nabokov (opa!) no bolso. 3) Toda a literatura brasileira contemporânea não chega aos pés de Maurício de Sousa. Basta mencionar as aparições do Capitão Feio e o terrível dilema moral que elas suscitavam em Cascão: ser leal à turma ou se deixar atrair pelo lado negro, sujo e fedegoso da força? Quem era fã do Capitão Feio tem a obrigação moral de desprezar os livros do Marcelo Mirisola. Não nos contentamos com tão pouco, ora.
9.6.03
INTERESSE ANTROPOLÓGICO
Chiquinho Scarpa é uma perene fonte de inspiração para este blog, um sujeito que nasceu para ser "pingüim cover" desta pocilga. Há pouco tempo, um amigo meu foi convidado a ir ao Leopolldo -lugar chiquérrimo desde o nome, com esse L dobrado, e que tem uma biblioteca com livros comprados a metro, presumivelmente paraguaios, misturados com garrafas de uísque escocês. Pedi ao amigo que me avisasse no caso de encontrar o conde Chiquinho, a Hebe ou o Otávio Mesquita -puro interesse antropológico, argumentei. Nenhum deles estava lá, o que lamentei muitíssimo. Perdi uma ótima chance de usar meus coquetéis merdotov.
Chiquinho Scarpa é uma perene fonte de inspiração para este blog, um sujeito que nasceu para ser "pingüim cover" desta pocilga. Há pouco tempo, um amigo meu foi convidado a ir ao Leopolldo -lugar chiquérrimo desde o nome, com esse L dobrado, e que tem uma biblioteca com livros comprados a metro, presumivelmente paraguaios, misturados com garrafas de uísque escocês. Pedi ao amigo que me avisasse no caso de encontrar o conde Chiquinho, a Hebe ou o Otávio Mesquita -puro interesse antropológico, argumentei. Nenhum deles estava lá, o que lamentei muitíssimo. Perdi uma ótima chance de usar meus coquetéis merdotov.
7.6.03
FREAK LE BLOOM BLOOM
O que eu mais aprecio em Harold Bloom não são as coisas que ele escreve, mas seu talento para sair com cara de depressão profunda em todas as fotos. Seu semblante parece dizer "a literatura está morrendo. Que merda. Vou encher a cara de uísque com cianureto". Apesar disso, esse crítico literário tem virado uma espécie de figura pop, a ponto de ter seus livros lidos até por personagens da novela "Mulheres Destrambelhadas". Estou pensando em aproveitar a Bloommania e oferecer uma música com o título deste post (sugerido por uma musa inspirada, a leitora Maria Flávia) para a Gretchen gravar. Aposto que o cara vai gostar de ser citado por uma personagem bunduda do Goethe.
O que eu mais aprecio em Harold Bloom não são as coisas que ele escreve, mas seu talento para sair com cara de depressão profunda em todas as fotos. Seu semblante parece dizer "a literatura está morrendo. Que merda. Vou encher a cara de uísque com cianureto". Apesar disso, esse crítico literário tem virado uma espécie de figura pop, a ponto de ter seus livros lidos até por personagens da novela "Mulheres Destrambelhadas". Estou pensando em aproveitar a Bloommania e oferecer uma música com o título deste post (sugerido por uma musa inspirada, a leitora Maria Flávia) para a Gretchen gravar. Aposto que o cara vai gostar de ser citado por uma personagem bunduda do Goethe.
6.6.03
TRISTE DO PAÍS QUE NÃO SABE BATUCAR
É bonito ver um presidente mantendo uma secular tradição, digna dos maiores estadistas. Eu mesmo já vi uma foto, pouquíssimo divulgada pela imprensa desde o fim da Segunda Guerra, que mostra Churchill, Roosevelt e Stálin se divertindo num batuque arretado em um dos intervalos da conferência de Ialta (o Guia Genial dos Povos, dizem, mandava bem nos atabaques). Há também relatos sobre animadas sessões de percussão com Thomas Jefferson e outros "founding fathers", Otto von Bismarck tocando seu bumbo durante a guerra franco-prussiana e Charles De Gaulle comunicando-se por tambor com o pessoal da Resistência na França ocupada. Em verdade vos digo: é pelo batuque que se reconhecem os grandes líderes. Brasil, esquentai vossos pandeiros.
É bonito ver um presidente mantendo uma secular tradição, digna dos maiores estadistas. Eu mesmo já vi uma foto, pouquíssimo divulgada pela imprensa desde o fim da Segunda Guerra, que mostra Churchill, Roosevelt e Stálin se divertindo num batuque arretado em um dos intervalos da conferência de Ialta (o Guia Genial dos Povos, dizem, mandava bem nos atabaques). Há também relatos sobre animadas sessões de percussão com Thomas Jefferson e outros "founding fathers", Otto von Bismarck tocando seu bumbo durante a guerra franco-prussiana e Charles De Gaulle comunicando-se por tambor com o pessoal da Resistência na França ocupada. Em verdade vos digo: é pelo batuque que se reconhecem os grandes líderes. Brasil, esquentai vossos pandeiros.
5.6.03
ZIRIGUIDUM, TELECOTECO, FORROBODÓ
1) Vampará com esse negócio de dar ouvidos ao pirobo francês André Gide e achar que é com os bons sentimentos que se faz a má literatura. Nananinanão. Como diria a dona Maricota, que leu Plataristóteles num número das "Seleções do Reader's Digest", o Belo, o Bem e o É-Simples-Mas-É-De-Coração têm de andar sempre juntos. Moral é estética. Doravante, responderei com um murro nos dentes a qualquer filisteu que vier para cima de mim com a conversa de que Baudelaire e sua pocilga são melhores que as canções do padre Zezinho. 2) Este país tem de estar muito cego para não perceber que a matriz recarregada, a Falha de S.Paulo, as pamonhas de Piracicaba e o Lacraia são os pontas-de-lança da dominação de corações e mentes pelo baticum infernal do bloco Filhos de Gramscy. 3) Hebe Camargo agora é professora honoris causa . Eu, se fosse ela, recusaria um título que me equiparasse a Marilena Chaui e Maria Rita Kehl. Hebe, gracinha, você não tem a menor idéia do antro em que está se metendo. Run, loira, run!
1) Vampará com esse negócio de dar ouvidos ao pirobo francês André Gide e achar que é com os bons sentimentos que se faz a má literatura. Nananinanão. Como diria a dona Maricota, que leu Plataristóteles num número das "Seleções do Reader's Digest", o Belo, o Bem e o É-Simples-Mas-É-De-Coração têm de andar sempre juntos. Moral é estética. Doravante, responderei com um murro nos dentes a qualquer filisteu que vier para cima de mim com a conversa de que Baudelaire e sua pocilga são melhores que as canções do padre Zezinho. 2) Este país tem de estar muito cego para não perceber que a matriz recarregada, a Falha de S.Paulo, as pamonhas de Piracicaba e o Lacraia são os pontas-de-lança da dominação de corações e mentes pelo baticum infernal do bloco Filhos de Gramscy. 3) Hebe Camargo agora é professora honoris causa . Eu, se fosse ela, recusaria um título que me equiparasse a Marilena Chaui e Maria Rita Kehl. Hebe, gracinha, você não tem a menor idéia do antro em que está se metendo. Run, loira, run!
4.6.03
SAVE THE JOURNALISTS
Os jornalistas são uma espécie em extinção. Como vocês devem saber, nas redações do eixo Rio-São Paulo eles têm sido substituídos por focas (o bicho, não o repórter em início de carreira). Elas fazem tudo o que um jornalista faz, não pedem aumento na cota de sardinhas e equilibram uma bola colorida no focinho enquanto trabalham. Sim, a mudança traz inegáveis vantagens para os leitores -mas ora, seus insensíveis, pensem no desamparo dos jornalistas, sem um Jurassic Park para abrigá-los e sem um Greenpeace para defendê-los. Para evitar isso, proponho transformar os sobreviventes da categoria em atração zoológica. Os grupos de estudantes que visitam um jornal vão se divertir com as jaulas e, espero, desrespeitar a plaquinha que diz "não dê comida aos jornalistas". De minha parte, acho que será no mínimo interessante fazer como os chimpanzés (nossos semelhantes, nossos irmãos) e sacudir meus balangandãs na frente de senhôras.
PS 1: Sim, jornalistas se reproduzem em cativeiro. E como.
PS 2: Comparações com hienas são improcedentes. Uma vez eu disse a um colega de trabalho que éramos como elas -bichos que comem cocô, fazem sexo uma vez por ano e vivem rindo. Meu colega ponderou: "Pois é, as hienas fazem sexo uma vez por ano".
Os jornalistas são uma espécie em extinção. Como vocês devem saber, nas redações do eixo Rio-São Paulo eles têm sido substituídos por focas (o bicho, não o repórter em início de carreira). Elas fazem tudo o que um jornalista faz, não pedem aumento na cota de sardinhas e equilibram uma bola colorida no focinho enquanto trabalham. Sim, a mudança traz inegáveis vantagens para os leitores -mas ora, seus insensíveis, pensem no desamparo dos jornalistas, sem um Jurassic Park para abrigá-los e sem um Greenpeace para defendê-los. Para evitar isso, proponho transformar os sobreviventes da categoria em atração zoológica. Os grupos de estudantes que visitam um jornal vão se divertir com as jaulas e, espero, desrespeitar a plaquinha que diz "não dê comida aos jornalistas". De minha parte, acho que será no mínimo interessante fazer como os chimpanzés (nossos semelhantes, nossos irmãos) e sacudir meus balangandãs na frente de senhôras.
PS 1: Sim, jornalistas se reproduzem em cativeiro. E como.
PS 2: Comparações com hienas são improcedentes. Uma vez eu disse a um colega de trabalho que éramos como elas -bichos que comem cocô, fazem sexo uma vez por ano e vivem rindo. Meu colega ponderou: "Pois é, as hienas fazem sexo uma vez por ano".
3.6.03
ADAPTAÇÕES FOR DUMMIES
O sítio de Millôr Fernandes (ou saite, como ele prefere) cita, a pedido do "teleitor Santiago", a adaptação que o dramaturgo Tom Stoppard fez de "Hamlet" -reduzindo as mais de três horas de encenação da peça de Shakespeare a 15 minutos. Melhor: depois desses 15 minutos, há um bis em que a peça é reencenada em apenas dois. O próprio Millôr, que jamais se deixaria passar para trás, tem um "pocket Hamlet" encenável em apenas 20 segundos:
ATO I
(Entra Hamlet com o crânio de Iórique na mão.)
Hamlet: Ser ou não ser.
ATO II
(Cai Hamlet.)
Horácio: O resto é silêncio. (Morre.)
Ora, quem há de negar que esse é o tipo de encenação, ou de leitura, ideal para este mundo moderninho em que vivemos? Chega desse negócio trabalhoso e pouco compensador de ler os clássicos, como propõem meus caríssimos Paula Foschia e Polzonoff: muito melhor é adaptá-los para que possam ser lidos em menos de 30 segundos. E já contribuo com algumas versões de minha lavra.
"O Processo", Franz Kafka:
Certamente alguém caluniara Josef K. Ele nunca soube do que o acusavam. Morreu como um animal.
"Grande Sertão: Veredas", João Guimarães Rosa:
Nonada. O diabo na rua, no meio do redemunho. Travessia.
"Crime e Castigo", Fiódor Dostoiévski:
Mata a véia, mata.
Obras completas dos Campos Brothers e de Néscio Pugnetari:
CÚ
O sítio de Millôr Fernandes (ou saite, como ele prefere) cita, a pedido do "teleitor Santiago", a adaptação que o dramaturgo Tom Stoppard fez de "Hamlet" -reduzindo as mais de três horas de encenação da peça de Shakespeare a 15 minutos. Melhor: depois desses 15 minutos, há um bis em que a peça é reencenada em apenas dois. O próprio Millôr, que jamais se deixaria passar para trás, tem um "pocket Hamlet" encenável em apenas 20 segundos:
ATO I
(Entra Hamlet com o crânio de Iórique na mão.)
Hamlet: Ser ou não ser.
ATO II
(Cai Hamlet.)
Horácio: O resto é silêncio. (Morre.)
Ora, quem há de negar que esse é o tipo de encenação, ou de leitura, ideal para este mundo moderninho em que vivemos? Chega desse negócio trabalhoso e pouco compensador de ler os clássicos, como propõem meus caríssimos Paula Foschia e Polzonoff: muito melhor é adaptá-los para que possam ser lidos em menos de 30 segundos. E já contribuo com algumas versões de minha lavra.
"O Processo", Franz Kafka:
Certamente alguém caluniara Josef K. Ele nunca soube do que o acusavam. Morreu como um animal.
"Grande Sertão: Veredas", João Guimarães Rosa:
Nonada. O diabo na rua, no meio do redemunho. Travessia.
"Crime e Castigo", Fiódor Dostoiévski:
Mata a véia, mata.
Obras completas dos Campos Brothers e de Néscio Pugnetari:
CÚ
UM SONHO DE CONSUMO
Vocês devem saber que, quando não estou usando meu modelito camiseta das eleições de 1985 ("o jeito é Jânio") + bermuda estilo "enforcado pelas calças" + chinela Rider, eu gosto de me vestir bem. Sou, portanto, cliente preferencial da Colombo e da Camisaria Fascynios, com uma ou outra jaqueta de "couro" comprada na Julian Marcuir. Mas o que eu queria mesmo era usar o terno mágico do Silvio Santos. Aquilo é uma cornucópia, gente: vocês já repararam no quanto sai de dinheiro daqueles bolsos?
Vocês devem saber que, quando não estou usando meu modelito camiseta das eleições de 1985 ("o jeito é Jânio") + bermuda estilo "enforcado pelas calças" + chinela Rider, eu gosto de me vestir bem. Sou, portanto, cliente preferencial da Colombo e da Camisaria Fascynios, com uma ou outra jaqueta de "couro" comprada na Julian Marcuir. Mas o que eu queria mesmo era usar o terno mágico do Silvio Santos. Aquilo é uma cornucópia, gente: vocês já repararam no quanto sai de dinheiro daqueles bolsos?
2.6.03
POLITITICA E ASSEMELHADOS
Vem cá: por que só cineastas como K.H. Diegues e outros afiliados à máfia do Barretão obtêm subsídio para a produção de matéria orgânica? Eu também quero para mim o dinheiro tungado do seu contracheque, leitor. E sabe por que eu o mereço? Porque o blog já é minha contrapartida social. Facílimo provar: enquanto você está lendo o puragoiaba, não está assaltando, cheirando cola, fazendo os filmes do Babenco ou escrevendo os livros da Fernanda Iângui. Além disso, o puragoiaba é reciclável (duvida? É só conferir meus posts antigos), não emite monóxido de carbono e não prejudica a camada de ozônio. Agora me dá um dinheiro aí, seu Miyagi.
*
Paulo Polzonoff mencionou, há pouco tempo, a existência de um sindicato de escritores. Ótima iniciativa: com ela, acabam as intermináveis discussões para decidir se Fulano é ou não um escritor. Basta ao referido Fulano sacar do bolso sua carteirinha, com os dizeres ES-CRI-TOR ao lado da foto 3 x 4, e pronto. Não precisa ter livro publicado, nem sequer precisa saber ler. Penso, contudo, que para ser eficaz de verdade o sindicato deveria punir quem se atrevesse a escrever -em livro, blog, guardanapo de papel etc.- sem ser sindicalizado e sem pagar a, ahn, "contribuição" confederativa. Mais ou menos como fizeram com o Joseph Brodsky na antiga União Soviética. Os camaradas é que sabiam das coisas.
*
Vocês devem conhecer a frase mais famosa de "O Leopardo", romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa (leiam, leiam, vale a pena): "É preciso que tudo mude para que tudo continue como está". Ela é dita por Tancredi a seu tio, o príncipe Fabrizio, como um exemplo de Realpolitik na época da unificação italiana. E tem múltiplas aplicações. Este blog, por exemplo, mudou para ficar exatamente como estava. Por outro lado, às vezes é preciso que tudo fique como está para ficar como está -especialmente nos domingos pela manhã, quando eu desligo o despertador, tiro o telefone do gancho e afundo a cabeça no travesseiro. Já o nosso querido presidente argumenta que é preciso ficar tudo como está para que tudo mude. Honestamente, não sei o que é pior.
Vem cá: por que só cineastas como K.H. Diegues e outros afiliados à máfia do Barretão obtêm subsídio para a produção de matéria orgânica? Eu também quero para mim o dinheiro tungado do seu contracheque, leitor. E sabe por que eu o mereço? Porque o blog já é minha contrapartida social. Facílimo provar: enquanto você está lendo o puragoiaba, não está assaltando, cheirando cola, fazendo os filmes do Babenco ou escrevendo os livros da Fernanda Iângui. Além disso, o puragoiaba é reciclável (duvida? É só conferir meus posts antigos), não emite monóxido de carbono e não prejudica a camada de ozônio. Agora me dá um dinheiro aí, seu Miyagi.
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Paulo Polzonoff mencionou, há pouco tempo, a existência de um sindicato de escritores. Ótima iniciativa: com ela, acabam as intermináveis discussões para decidir se Fulano é ou não um escritor. Basta ao referido Fulano sacar do bolso sua carteirinha, com os dizeres ES-CRI-TOR ao lado da foto 3 x 4, e pronto. Não precisa ter livro publicado, nem sequer precisa saber ler. Penso, contudo, que para ser eficaz de verdade o sindicato deveria punir quem se atrevesse a escrever -em livro, blog, guardanapo de papel etc.- sem ser sindicalizado e sem pagar a, ahn, "contribuição" confederativa. Mais ou menos como fizeram com o Joseph Brodsky na antiga União Soviética. Os camaradas é que sabiam das coisas.
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Vocês devem conhecer a frase mais famosa de "O Leopardo", romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa (leiam, leiam, vale a pena): "É preciso que tudo mude para que tudo continue como está". Ela é dita por Tancredi a seu tio, o príncipe Fabrizio, como um exemplo de Realpolitik na época da unificação italiana. E tem múltiplas aplicações. Este blog, por exemplo, mudou para ficar exatamente como estava. Por outro lado, às vezes é preciso que tudo fique como está para ficar como está -especialmente nos domingos pela manhã, quando eu desligo o despertador, tiro o telefone do gancho e afundo a cabeça no travesseiro. Já o nosso querido presidente argumenta que é preciso ficar tudo como está para que tudo mude. Honestamente, não sei o que é pior.
NÃO SABE ONDE FICA? NÓS TAMBÉM NÃO
Eu, que sempre gostei de falar mal da "Veja em São Paulo", achei legal quando eles começaram a publicar uma seção chamada "Mistérios da Cidade", que se propõe a fazer os paulistanos ignaros conhecerem o próprio torrão. Mas, como diria a vizinha gorda e patusca do Nelson Rodrigues, não se pode elogiar. A última edição traz uma bela foto do Jardim Botânico de São Paulo, encimada pelo título "Sabe onde fica?" -e não dá o endereço do lugar. Claro, é como o resultado no relato de um jogo de futebol: detalhe de somenos importância. Dá para imaginar o editor dizendo: "Sabem onde fica? Ah, eu sei, mas não vou contar. Fodam-se".
Eu, que sempre gostei de falar mal da "Veja em São Paulo", achei legal quando eles começaram a publicar uma seção chamada "Mistérios da Cidade", que se propõe a fazer os paulistanos ignaros conhecerem o próprio torrão. Mas, como diria a vizinha gorda e patusca do Nelson Rodrigues, não se pode elogiar. A última edição traz uma bela foto do Jardim Botânico de São Paulo, encimada pelo título "Sabe onde fica?" -e não dá o endereço do lugar. Claro, é como o resultado no relato de um jogo de futebol: detalhe de somenos importância. Dá para imaginar o editor dizendo: "Sabem onde fica? Ah, eu sei, mas não vou contar. Fodam-se".
1.6.03
MAESTRO ZEZINHO, 5 NOTAS PARA RUY GOIABA
Às vezes eu penso que o adjetivo "roufenho" foi criado para explicar, da maneira mais exata possível, como era a voz do Nelson Cavaquinho. Quer que eu seja mais didático? Está bem. Experimente emitir este som pelas narinas: "hmmmm". Agora tente este aqui: "Éééé o juízo finaaal, a história do bem e do maaal...".
*
John Cage, primus inter pares e non plus ultra dos pseudos, tem uma obra -muito bem "obrada", aliás- chamada 4'33''. O pianista aproxima-se do piano, apruma-se para tocar e não toca nada durante quatro minutos e trinta e três segundos. Genial. Só não entendo como Cage não processou todos os outros compositores do mundo por plágio nos intervalos entre suas músicas.
*
Eu já gostei de roquenrol, admito. Desisti quando notei que todas as novidades surgidas no gênero eram sujeitos com o mesmo cabelo que Ray Davies usava em 1966, apenas um pouco mais sujo.
*
Já expus a teoria de que Agnaldo Timóteo é o nosso id, o conteúdo sombrio do inconsciente que tentamos sufocar sob camadas de civilização. O contraponto ideal seria uma Aracy de Almeida como superego. Pensem nos benefícios para a humanidade. Carlito Marrom, Arnaldo Picaretunes e a mãe do Mano Wladimir jamais teriam aberto a boca se dessem ouvidos à sua Aracy interior.
*
Sid Caesar, comediante americano da década de 50, dizia que as bandas de jazz daquele tempo contratavam um sujeito para ficar tomando conta do radar. Sua função era avisar os músicos quando eles estivessem se aproximando perigosamente da melodia. Mas a tecnologia mudou isso. Hoje os jazzistas já vêm com um chip embutido, para não correrem o menor risco de ser originais.
Às vezes eu penso que o adjetivo "roufenho" foi criado para explicar, da maneira mais exata possível, como era a voz do Nelson Cavaquinho. Quer que eu seja mais didático? Está bem. Experimente emitir este som pelas narinas: "hmmmm". Agora tente este aqui: "Éééé o juízo finaaal, a história do bem e do maaal...".
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John Cage, primus inter pares e non plus ultra dos pseudos, tem uma obra -muito bem "obrada", aliás- chamada 4'33''. O pianista aproxima-se do piano, apruma-se para tocar e não toca nada durante quatro minutos e trinta e três segundos. Genial. Só não entendo como Cage não processou todos os outros compositores do mundo por plágio nos intervalos entre suas músicas.
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Eu já gostei de roquenrol, admito. Desisti quando notei que todas as novidades surgidas no gênero eram sujeitos com o mesmo cabelo que Ray Davies usava em 1966, apenas um pouco mais sujo.
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Já expus a teoria de que Agnaldo Timóteo é o nosso id, o conteúdo sombrio do inconsciente que tentamos sufocar sob camadas de civilização. O contraponto ideal seria uma Aracy de Almeida como superego. Pensem nos benefícios para a humanidade. Carlito Marrom, Arnaldo Picaretunes e a mãe do Mano Wladimir jamais teriam aberto a boca se dessem ouvidos à sua Aracy interior.
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Sid Caesar, comediante americano da década de 50, dizia que as bandas de jazz daquele tempo contratavam um sujeito para ficar tomando conta do radar. Sua função era avisar os músicos quando eles estivessem se aproximando perigosamente da melodia. Mas a tecnologia mudou isso. Hoje os jazzistas já vêm com um chip embutido, para não correrem o menor risco de ser originais.