31.12.04

Que 2005 seja um ano ímpar

E que a próxima translação seja, para nós, cheia de céus tão azuis quanto esses do Irving Berlin na voz da Ella Fitzgerald: pode clicar na notinha sem medo. Bonne année e até o ano que vem, pessoal.

Blue skies smiling at me
Nothing but blue skies do I see

Bluebirds singing a song
Nothing but bluebirds all day long

Never saw the sun shining so bright
Never saw things going so right
Noticing the days hurrying by
When you're in love, my, how they fly

Blue days, all of them gone
Nothing but blue skies from now on


30.12.04

Tesouros da goiaboteca

Sim, esta é uma espécie de terceira parte do concurso da pior música do mundo -desta vez, só com produtos genuinamente nacionais (Brasil-sil-sil). Sinto-me na obrigação de compartilhar essas obras de arte com vocês: todas são preciosas demais para ficar escondidas no fundo do HD e, na qualidade de catástrofes auditivas, formam uma trilha sonora adequada a este fim de ano cheio de catástrofes naturais. Clicando na primeira nota musical, de cima para baixo, vocês ouvirão "A Galeria do Amor", a "Strangers in the Night" brasileira, na voz do ilustre vereador eleito Agnaldo Timóteo (nunca entendi, aliás, por que os gays jamais ergueram -epa, opa- uma estátua em homenagem ao Timóteo. Talvez porque ser de direita fez com que ele ficasse branco e virasse hétero). A segunda é "O Conformado", essa obra-prima do eufemismo, na voz de Waldick Soriano. A terceira, "Kata Aí", de Moacyr Franco, é talvez a manifestação mais ofensiva ao Japão desde a rendição na Segunda Guerra e a prova de que a Yakuza não é de nada -afinal, manteve o Moacyr vivo. Divirtam-se. Ou não.











29.12.04

Do diário de um homem-bomba português

31 de janeiro

Enfim livre, volto a escrever neste diário após cumprir sentença por outra tentativa malsucedida de explodir o Parlamento. Mandei aos ilustres deputados um e-mail a avisar que os atacaria de surpresa em 31 de julho, às 18h50, pela entrada principal do edifício. Também expliquei que estaria com um tapa-olho, à Camões, para não ser reconhecido. Preso, fui libertado depois de quase seis meses, dizem-me, porque meu advogado provou que sou inimputável. Se entendi bem, quer-se dizer com isso que sou burro. Ah, deixa que pensem assim os calhordas. Ainda hei de anotar aqui, em maiúsculas (CONSEGUI!), meu sucesso explosivo.

32 de janeiro

O único problema de ser homem-bomba é o preconceito das pessoas. Isso é o que mais dói. Qual negros e judeus o quê -jamais me pude registrar num hotel com minha verdadeira profissão, que todos se põem a correr, a gritar, a chamar a polícia. E não há lei contra tal discriminação, não, senhor. Ora bem, homens-bomba só querem o que toda a gente quer: legar um mundo melhor a seus filhos. Bem, mas conto ter filhos apenas quando me aposentar.

33 de janeiro

O governo tem a obrigação moral de me subsidiar. A renda de um homem-bomba é escassa, mal dá para os fósforos -preciso sempre pedi-los emprestados quando quero acender as bananas de dinamite. E eu tenho altas motivações patrióticas: levar o nome de Portugal aos quatro cantos do Universo (ocorre-me a pergunta: o Universo tem quatro cantos?) como pátria de guerreiros, de navegantes, de poetas, de homens-bomba. Somos um povo pioneiro, ora; por que só a gente do Oriente Médio se pode explodir? Mas ninguém me segue o exemplo, raça de desgraçados. Há apenas um, o Saramago, que escreve livros-bomba e ainda é premiado por isso. Fosse no Brasil, eu já seria amigo do presidente e homem-bomba com status de ministro. Aquilo é que é país, ó pá.

(Disclaimer para os leitores e amigos portugueses: convém dizer que, como half portuguese, não cometo o pecado mortal da incorreção política. E vocês sabem que o Brasil é a maior piada de português de todos os tempos. Nem sempre engraçada, aliás.)

28.12.04

O Seinfeld de Sínope

(Diógenes, o stand-up comedian, anda de um lado para outro do palco, vestindo apenas seu barril.) Então, Platão era um cara meio esquisito. Um dia ele veio com esse papo de que o homem era um bípede implume. Bom, todo dia eu passo na frente da padaria e, dentro da televisão-de-cachorro, vejo um monte de bípedes implumes sendo assados. Todos sem cabeça, iguaizinhos a vocês, seus canibais degenerados (tum-tá-tá-tá-tum-pá). Se bem que, para o Platão, não devia ser nada desagradável viver com um espeto no rabo, hahaha (tum-tchi-tum-tchi-tum, trrrrrr-pá). (Ninguém ri. Ele ilumina com sua lanterna uma mulher da platéia.) Ei, o que há? Por que essa cara séria? Alguma coisa contra o meu barril, honey? (Põe a mão direita dentro do barril.) Ah, você não sabe como está gostoso aqui dentro. (Risinhos forçados.) Uma vez minha mãe me pegou jogando cinco-contra-um. Pois é, constrangedor. Tentei alegar que a masturbação era uma invenção maravilhosa. No duro -e põe duro nisso, hahaha. (Silêncio.) Eu disse, "que maravilha se esfregar a barriga com as mãos já matasse a fome". Fiquei três dias sem almoço. "Esfregue a barriga para ver se a fome passa", dizia minha mãe. Por isso eu sou um filósofo cínico: só me fodi sozinho a vida inteira (rá-tá-tá-tá-tum-pá).

27.12.04

Índio quer arrocho

Não entendo por que o governo resolveu dar ao presidente do Banco Central status de ministro, foro privilegiado em processos judiciais e piririm e pororom. Nesse caso, a verba para comprar congressistas poderia ter sido poupada -bastaria declarar, oficialmente, que o Henrique Meirelles é índio. Teríamos um Banco Central independente, inimputável e com a cara da Botocúndia: mim anda de tanga, mim aumenta juros, mim gosta de um arrocho. (Ou, como diria o sábio Luiz Caldas, "pra andar feito ministro tem que andar nu, com uma mão na cabeça e a outra no íííndio".)

26.12.04

Ética demonstrada à maneira dos Jerônimos

O Efelentífimo não se conforma com a pesquisa do IBGE segundo a qual apenas 3,8 milhões de brasileiros passam fome. Eftá convenfido de que, fe Deuf quifer, no final do governo dele hão de ser muitof maif. Funcionários do IBGE se queixaram do Guia Genial do Povo Brasileiro, mas é óbvio que não têm razão. Pelo contrário: bem-feito para eles. Quem mandou ser funcionário público e trabalhar direito? Não sabem que, no Brasil, isso é crime e dá processo administrativo? Basta ver o que aconteceu com o delegado da Polícia Federal que mandou prender o Rei das Rinha. Dinheiro do contribuinte é para rasgar ou torrar, make no mistake.

24.12.04

Jingobéu

Meus amigos, meus inimigos, procurem a estrela da manhã. Quem não conseguir encontrá-la -seja porque é noite, seja por causa do céu paulistano, nublado e poluído- pode ouvir comigo "The Christmas Song", de e com Mel Tormé, em gravação de 1966; quem conseguir também. O "Velvet Fog" diz, cantando, tudo o que deve ser dito nesta ocasião ("although it's been said many times, many ways"). Para ouvir, basta, comme d'habitude, clicar na notinha -a letra segue abaixo. Um ótimo Natal para vocês, goiabaleitores.

All through the year we waited
Waited through spring and fall
To hear silver bells ringing
See wintertime bringing
The happiest season of all

Chestnuts roasting on an open fire
Jack Frost nipping at your nose
Yuletide carols being sung by a choir
And folks dressed up like Eskimos
Everybody knows a turkey and some mistletoe
Help to make the season bright
Tiny little tots with their eyes all aglow
Will find it hard to sleep tonight

They know that Santa's on his way
He's loaded lots of toys and goodies on his sleigh
And every mother's child is gonna spy
To see if reindeer really know how to fly

So I'm offering this simple phrase
To kids from one to ninety-two
Although it's been said many times, many ways
Merry Christmas to you

Love and joy come to you
And to you your Christmas too
And God bless you, and send you
A happy new year
And God send you a happy new year


23.12.04

Pequenas biografias de grandes brasileiros (3)

Pelé, cantor e compositor, é o único homem capaz de interromper uma guerra na África tocando seu violão e cantando "abre a porteira que eu quero entrar, aqui não tem o que eu tenho lá, laiá-laiá". Mais conhecido por ter sido modelo de Andy Warhol e dizer "love, love, love" no ouvidinho de Baiano Meloso, foi também o primeiro brasileiro a pisar na Lua, a fazer parte dos Beatles e a ser secretário de Estado dos EUA, sucedendo a seu amigão Henry Kissinger. Já comemorou a milésima filha; são tantas que ele nem reconhece algumas. Ama as criancinhas e sabe que o dinheiro delas está muito mais seguro no seu bolso do que na conta do Unicef. Submeteu-se ao primeiro transplante de testículos bem-sucedido da América Latina e, hoje, é o feliz proprietário de um par com resistência suficiente para agüentar o peso de Juca Kfouri.

22.12.04

Pequenas biografias de grandes brasileiros (2)

Oscar Niemeyer, ilusionista, é um escultor que passou a vida fingindo, com sucesso, ser arquiteto. Acredita que a casa perfeita é totalmente inabitável pelo ser humano, coisa desprezível que só serve para macular a beleza dos seus desenhos (vale o mesmo para Brasília, cidade de prédios projetados por ele e imune a tudo que cheire vagamente a humanidade). Odeia a natureza e acha que mato só existe para ser desbastado e coberto de concreto. Ama bigodes gigantes e rampas, parafilias pouco estudadas pela ciência. Quando não está fazendo rabisquinhos, seu passatempo é assinar abaixo-assinados que não lê: apenas confere se Saramago e Chico Buarque também assinaram. É careca e chato. É também elo perdido com o período jurássico, prova de que vaso ruim não quebra e muso da marchinha "a pipa do Niemeyer não sobe mais".

21.12.04

Pequenas biografias de grandes brasileiros

Tom Jobim foi o maior compositor de música para elevadores de todos os tempos (vide, a esse respeito, a homenagem feita por uma das cenas finais de "The Blues Brothers", em que Jake e Elwood tomam o elevador para entregar o dinheiro que salvará o orfanato em que foram criados; a música de fundo é "The Girl from Ipanema"). Notabilizou-se por escrever canções em papel de pão, fumar charutos quase tão bem quanto Villa-Lobos e, no fim da vida, ficar parecidíssimo com Luiza Erundina. Grande frasista, autor de máximas como "autênticos, para mim, são a avenca e o jequitibá; o que não é autêntico é avenca querer ser jequitibá, e vice-versa" (apud Ruy Castro e César Miranda, "Chega de Salgados"), ganhou também o título de homem mais paciente do mundo, superando vários monges budistas, por ter saco para agüentar João Gilberto nas gravações de três ou quatro discos.

20.12.04

A bicha da Turma da Mônica

Em nome da correção política e do respeito às minorias, reivindicamos que Maurício de Sousa inclua um personagem gay na turma da Mônica em 2005. O desenhista poderia criar algum -Zé Bundinha, por exemplo-, mas eu acharia mais interessante se ele tirasse do armário algum personagem já consagrado. Pode ser a própria Mônica, mas isso seria tão óbvio como uma história policial em que o criado é o assassino. Sugestões: Cebolinha ("os galotos me adolam"), Horácio (o dinossaurinho desmunhecado), Piteco (que vive fugindo de relacionamentos heterossexuais), Frangão (além de ser goleiro, suspeito por princípio, já tem "franga" no nome; basta soltá-la), Zé Lelé (numa homenagem aos hábitos do interior). Tina (hummm), Titi e Bugu também são bons candidatos. Escolha seu personagem gay preferido na turma e junte-se à luta contra o preconceito nas historinhas infantis.

18.12.04

Suma teológica goiabal

Minhas orações resumem-se a duas frases. Uma, já citada aqui, foi Aurélio Agostinho que me ensinou: "Dai-me a castidade e a continência, mas não para já". A outra, conseqüência da primeira, é de Anatole France (thanks, PZ), num instante inspirado: "Vós, que concebestes sem pecar, permiti que pequemos sem conceber".

Assim seja.

17.12.04

O apogeu da crítica literária

CINNA
(...) I am going to Caesar's funeral.

FIRST PLEBEIAN
As a friend or an enemy?

CINNA
As a friend.

SECOND PLEBEIAN
That matter is answered directly.

FOURTH PLEBEIAN
For your dwelling -briefly.

CINNA
Briefly, I dwell by the Capitol.

THIRD PLEBEIAN
Your name, sir, truly.

CINNA
Truly, my name is Cinna-

FIRST PLEBEIAN
Tear him to pieces! He's a conspirator.

CINNA
I am Cinna
the poet! I am Cinna the poet!

FOURTH PLEBEIAN
Tear him for his bad verses, tear him for his bad verses.


(Do Júlio César de Balançalança, ato III, cena 3. Como a literatura seria melhor se a crítica tivesse mantido esse nível de exigência.)

16.12.04

GLOBO DE OURO INTERNACIONAL

Aqui está uma nova versão do concurso da pior música do mundo, sem legendas nem dublagem da Herbert Richers. É claro que, para cada canção ruim, seremos sempre capazes de lembrar outras 300 ainda piores; as opções são fartas, inesgotáveis. De todo modo, aqui vão mais três das cafonices preferidas da goiaboteca, para o sufrágio do meu seletíssimo leitorado de três ou quatro pessoas.

A primeira representa a maior contribuição do México à história da arte depois da monocelha da Frida Kahlo, o bolero. É "Los Hombres No Deben Llorar", digno representante do gênero, nas vozes do brasileiríssimo Trio Irakitan (como sempre, há uma versão em português muito melhor, na voz de Barros de Alencar -ele mesmo, o apresentador de TV. Mas fiquem tranqüilos: vou poupá-los dessa). A segunda traz Tony Bennett, na década de 50, rasgando-se ao interpretar "The Boulevard of Broken Dreams", canção levada à estratosfera da cafonice pelo arranjo de Ray Conniff, guru deste blogue. Por último, temos o cult singer anglo-americano Scott Walker cantando uma versão em inglês de "Au Suivant", de Jacques Brel -"Next"-, que abala o Bois de Boulogne em chamas, bi. Clique nas notas abaixo e vote, cidadão consciente.











Wham, bam, thank you ma'am

Estive em Suffragette City faz pouco tempo. Todas as mulheres usavam penteados iguaizinhos ao da Tammy Wynette e cantavam "Stand by your maaan, give him two arms to cling to". Estranho, muito estranho. E nunca entendi como a personagem da Sherilyn Fenn em "Encaixotando Helena" agiria numa situação dessas.

15.12.04

Kant for piggies

"Most journalists simply cannot think in statistical terms (numeric skills aren's usually their strong side), they don't understand the uses and limitations of statistical data. As the saying goes, trying to explain statistics to a journalist is like trying to explain Kant to a pig: you waste your time and you annoy the pig."

Nelson Ascher, conhecedor do assunto, em comentário no EuroPundits. Quando tem de lidar com números, a maioria dos jornalistas é igualzinha a certas tribos de índios: só sabe contar um, dois, três e "muitos", o que explica textos com passagens como "cerca de sete pessoas estavam na reunião". Bem, se soubessem aritmética, perceberiam a crônica falta de zeros à direita em seus contracheques e nem seriam jornalistas. É claro que nem todos são assim: quem sabe contar até dez, mesmo hesitantemente, pode virar editor de economia. E os poucos que sabem muito, de verdade, vão para as galés, onde são chicoteados por aqueles que contam -mais ou menos- até dez. Não admira que a taxa de mortalidade dos remadores seja altíssima. Vida de nego é difícil.

Ladeira abaixo

Eu me lembro de quando esse rapaz traduzia livros do Calvino. Coisa fina. Depois, começou a se vulgarizar: um roteiro para filme brasileiro aqui, uma coluna em revista semanal (não raro tratando dessa gentinha da política) ali, uma participação em programa da Grobo acolá. Posso atestar que, enfim, ele chegou ao fundo do poço: não só assume que lê os blogues daquele portal de moleques reacionários, o que já seria suficientemente vergonhoso, como faz elogios públicos a eles. Mainardi, você só me decepciona. Tsc, tsc.

14.12.04

Grandes mistérios do roque nacional

Tira essa bermuda, que eu quero você sério

Salvo engano meu, foi Rubem Braga que, ao ouvir essa música, perguntou como é que um sujeito sem bermuda podia parecer sério. Faz sentido. Nos anos 80, o conceito de seriedade transmitido pelo roque nacional era tão elástico que abrangia homens pelados da cintura para baixo -provavelmente de blusinha de marinheiro, à Pato Donald, ou camisa do Olaria- e o lirifmo tranfgreffivo daf letraf do Cafufa (é!). Ou seja, correspondia exatamente à cara do país. Ou, ou, ou, ou, nada mudou. (Pelo menos as letras permitiam variações interessantes do tipo "tira essa bermuda e faz cara de guitarra", como cantávamos no colégio. A time of innocence, a time of confidences. Long ago it must be.)

13.12.04

A prova dos bofes

Há aqui em São Paulo, na rua da Consolação, uma casa dividida meio a meio entre uma boate gay e uma oficina mecânica, o que torna impossível ler a placa "limpeza de bicos injetores" -que está sobre a porta da oficina- sem pensar bobagem. Pois bem: a boate anuncia a realização, neste fim de ano, de uma "São Silvestre gay".

Para começar, não consegui entender se eles queriam se referir à prova de atletismo ou a algum santo bicha (como o Chesterton dizia que "every conceivable sort of man has been a saint", deve ter havido pelo menos um; eu apostaria em São Sebastião ou no São Nunca daqueles comerciais da Ford). Mesmo assinalando a hipótese mais razoável, a da corrida, muitas dúvidas persistem. Há, por acaso, alguma restrição legal ou física à participação de gays na corrida original? Todos os efebos competem pelados, como na Grécia antiga? Requebram, como na marcha? Correm 24 quilômetros de ré? E se eu, na minha condição terrivelmente desvantajosa de heterossexual zero-Kinsey, quiser competir nessa prova? Serei barrado, discriminado, se passar no teste da farinha?

Sei lá. Talvez não seja nada disso, e a "São Silvestre gay" não passe de uma prática sexual que desconheço -provavelmente, envolvendo bicos injetores e mecânicos suados, sujos de graxa. Ai, que loucura. (Se você sabe o que é, por favor, não me conte.)

11.12.04

Encontros entre a poesia e o esporte

Daiane preta
Daiane boa
Daiane (nem) sempre de bom humor.

Imagino Daiane entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro, bem brasileiro:
- Licença o cacete. Trata de fazer logo um duplo twist carpado e um duplo twist esticado. E nada desse papo de "meus joelhos doem, acabei de operar". Se pisar fora do tablado, vai direto pro inferno.

10.12.04

Der leone have vingt-cinq cabezas

Todas elas falam línguas diferentes e, não raro, conflitantes. E, juntas ou separadas, pensam muito melhor que vocês, analfabetos funcionais. (Sim, é com você aí que estou falando. Não gostou, enfie o dedinho no brioco e rasgue.) Já que não sabem ler, fiquem com esta musiquinha do Rossini Pinto, na voz do rei dos sacis.

Um leão está solto nas ruas
Foi descuido do seu domador
Sei que ele está faminto, não come desde ontem
Preciso encontrar o meu amor

Um leão está solto nas ruas
Já faz um dia que ele fugiu
A turma está aflita pra vê-lo outra vez
Na jaula de onde ele saiu

Você, que está em casa, um conselho vou dar
Feche as janelas, tranque bem o portão
Pois, num dado momento, sem ninguém esperar
Pode aparecer o tal leão

Um leão está solto nas ruas
Calamidade igual nunca vi
Jamais terá problemas de alimentação
Se encontrar o meu broto por aí

Só quero ver Cuba lançar

Quanta gente lançando livro por aí, que legal (não no sentido de "conforme ou relativo à lei", como diz vovô Aurélio, mas no de "uau, que legal, nasceu cabelo na cabeça do meu pai"). No Rio, temos os lançamentos de Claudia Letti e Marina W; se você quiser ir, não dá, porque eles já foram. Infelizmente, também não fui -perdi o último pau-de-arara que saía daqui do meu Cariri. Mas sempre é possível comprar os livros e ajudar as moças a passar no mínimo seis meses por ano na Côte d'Azur. Way to go, girls.

Nos próximos dias, porém, há dois lançamentos aos quais você ainda pode ir. Marcurélio e Daniela Macedo lançam seu "Balde de Gelo" sobre os leitores de São Paulo e do Rio, nos dias 11 e 12 de dezembro; logo depois, em 14 de dezembro, Daniela Abade solta seus "Crônicos" na Cultura do Villa-Lobos, aqui em SP. Esqueça aquela bosta de "Código Da Vinci" e torre a grana do seu 13º com quem merece. E eu, que lancei livro há alguns meses, quero relançá-lo em Cuba -para dar um chute na muleta do titio Fidel e porque nunca perco a chance para mais um trocadilho estúpido.

Atualizações necessárias, 9 e 10/12: opa, opa, ainda dá para ir ao lançamento da Marina W em São Paulo. É lá na casa da Maria Fernanda Cândido, em 16/12. Antes, em 11/12, Arnaldo Branco e seus sequazes lançam a revista F. aqui na terra da chuva ácida.

9.12.04

Ziggy Stardust and the Spammers from Mars

Continuamos sem comentários. A culpa, claro, é do David Bowie.

Enquanto isso, uma pergunta de caráter cívico: você já mandou o seu ministro da Fazenda tomar no cu hoje? Cadê o grito da galera?

8.12.04

Pequena antologia goiabal

Cioran (1911-1995)

"Nunca fui atraído por espíritos confinados numa única forma de cultura. Não se enraizar, não pertencer a nenhuma comunidade -esta foi e é minha divisa. Voltado para outros horizontes, sempre procurei saber o que se passava alhures. Aos vinte anos, os Bálcãs não podiam me oferecer mais nada. É o drama, e a vantagem também, de ter nascido num espaço "cultural" menor, qualquer que seja ele. O estrangeiro se tornara meu deus. Daí esta sede de peregrinar através das literaturas e das filosofias (...). Quando estudante, fora levado a me ocupar dos discípulos de Schopenhauer. Entre eles, havia um certo Philipp Mainländer que me interessava particularmente. Autor de uma 'Filosofia da Libertação', ele possuía a meus olhos, além disso, a grandeza que confere o suicídio. Eu me gabava de ser o único a me interessar por esse filósofo completamente esquecido. Aliás, não havia nisso nenhum mérito, já que minhas pesquisas me deveriam conduzir inevitavelmente a ele. Qual não foi minha surpresa quando, muito mais tarde, me deparei com um texto de Borges que, justamente, o tirava do esquecimento! Se lhe cito este exemplo é porque, a partir desse instante, comecei a refletir mais seriamente do que antes sobre a condição de Borges, destinado, forçado à universalidade, obrigado a exercitar seu espírito em todas as direções, nem que fosse para escapar da asfixia argentina. É o néant sul-americano que torna os escritores de todo um continente mais abertos, mais vivos e mais variados que os europeus do oeste, paralisados por suas tradições e incapazes de sair de sua prestigiosa esclerose."

(Enquanto os comentários não voltam, fiquem com esse trecho de "Exercícios de Admiração", lançado no Brasil pela Rocco, em tradução de José Thomaz Brum. É um pedaço de uma carta de Cioran a seu tradutor para o espanhol, Fernando Savater, sobre Jorge Luis Borges. O final, claro, é generosíssimo com os escribas do lado de baixo do Equador: sabemos que Borges é excepcional.)

7.12.04

Qual a pior música do mundo?

Mais notinhas musicais por aqui? Sim, claro: desde o princípio, o puragoiaba deveria ter sido um blogue musical. Mas, graças à minha tecnocapivarice, só aprendi a colocar esse tipo de arquivo nele faz pouco tempo, três anos depois de ter começado a blogar. Finalmente posso expor os leitores ao vasto repertório da minha goiaboteca e presenteá-los com traumas auditivos, reações alérgicas, náuseas, enxaquecas, choro e ranger de dentes (ou não: sempre há quem goste, não há limites para a perversão humana).

E vou direto à jugular: lanço aqui o Grande Concurso Puragoiaba da Pior Música do Mundo em Todos os Tempos. Minhas três candidatas são genuinamente nacionais, o que prova que, em matéria de subdesenvolvimento e miséria musical, ninguém segura este Brasil-sil-sil. Clique na primeira nota do maestro Zezinho, logo abaixo, para ouvir "Palavras, Palavras", versão chiquérrima de "Parole, Parole", nas vozes de Maysa e... Raul Cortez (sic). Na segunda, o deus dos metrossexuais, Cauby Peixoto, dá (ops) mostras do poder de sua divindade em "Marina" (não, não é a do Dorival Caymmi. Antes sesse). A terceira, "Retrato de Maria", com Ivon Curi, santo padroeiro deste blogue, só é descritível por um clichê: ouvir para crer. Os leitores que sobreviverem à audição das três podem usar os comentários para sufragar sua preferida; isto, sim, é a grande festa da democracia.











6.12.04

Cante e dance com Ruy Goiaba

Aqui está mais uma velharia da minha jukebox, para tentar animar a segunda-feira dos queridos leitores. Quem clicar na notinha lá no pé do post vai ouvir "Good Lovin'", com os (Young) Rascals; para os que querem seguir a bolinha, reproduzo a letra logo abaixo.

1-2-3
Good lovin'
Good lovin'
Good lovin'
Good lovin'

I was feelin' so bad
I asked my family doctor just what I had
I said "Doctor (Doctor), mr. M.D. (Doctor),
Now can you tell me what's ailin' me (Doctor)?"
He said "Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah"
(Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah)
Yes indeed, all I, I really need-

Good lovin' (Now gimme that good, good lovin')
Good lovin' (All I need is lovin')
Good lovin' (Good lovin', baby)
Good lovin'

Honey, please, squeeze me tight (Squeeze me tight)
Don't you want your baby to be all right (Be all right)
I said baby (Baby), now it's for sure (It's for sure)
I got the fever, yeah, you got the cure (Got the cure)
Now everybody: yeah, yeah, yeah, yeah, yeah
(Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah)
Yes indeed, all I really need-

Good lovin' (Oh, c'mon, gimme that good lovin')
Good lovin' (All I need is lovin')
Good lovin' (Good lovin', baby)
Good lovin'

(Berro do vocalista, seguido por solinho de órgão)

Good lovin'
Good lovin'
Good lovin' (All I need is love)
Good lovin' (All I want is love)
Good lovin' (Lovin' you early in the morning)
Good lovin' (Lovin' you late at night)
Good lovin' (Love... love)
Good lovin' (Love, love, love, love, love)


3.12.04

Sinceridade é uma coisa comovente

Graças à indicação de um amigo, fiquei conhecendo o blogue Cinema Brasileiro, a Vergonha de uma Nação! -sim, com exclamação e tudo. Na verdade, pelo que entendo, ele foi montado para divulgar uma mostra de filmes brasileiros trash na Sala Cinemateca de São Paulo. Pleonasmo, claro: os filmes da Botocúndia, xexelentos por definição, orgulham-se de usar short, revólver e chinelo de dedo e de jamais ser admitidos a um jantar com Cary Grant. (Quando tentam se sofisticar, é ainda pior. Não adianta o cinema brasileiro tomar banho e pôr um smoking: você sabe que ele vai dar vexame, beber a lavanda e peidar na farofa.)

Se é assim, por que vergonha? A mostra é um retrato do país tão fiel quanto o collant do ministro da Cultura -às vezes, melhor. Toda a produção cultural do Bananão, reunida, não chega aos pés do cartaz promocional de "A Mulher que Inventou o Amor", filme com a indefectível Aldine Muller: "Violentada no açougue, trocou a virgindade por quatro capas de filé". Como diria Paulo César Pereio, herói de nossa gente: "Porra, mas essa vagabunda nem pra levar filé mignon pra casa. É por isso que o Brasil não dá certo".

1.12.04

A contribuição milionária de todos os erros

Fazia tempo que a Falha não nos agraciava com um daqueles erros antológicos. A falta de inspiração era lamentável. Para minha alegria, a edição de hoje ressuscitou essa tradição em grande estilo: os leitores somos informados de que o arcebispo de Porto Velho, que se envolveu num acidente de carro, não sofreu ferimentos na coluna serviçal, como publicado, e sim na cervical.

Vocês riem, ignóbeis? Pois saibam que é um erro inspirado: não sei se é o caso do arcebispo, mas há gente por aí tão acostumada a se dobrar que ganhou uma escoliose na coluna serviçal. Como leitor que conhece a irrelevância de todas as notícias, tudo o que peço a um jornal são erros assim criativos. Ainda não deu para matar a saudade dos poços cartesianos ("perfuro, logo existo") e daquele outro erro que deu origem à Sagrada Igreja do Jesus Enforcado.