30.8.04

Eu sou brasileiro e só me fodo

O título do post corresponde exatamente ao que pensei quando vi Vanderlei Cordeiro de Lima, bem na hora em que liderava a maratona olímpica, ser abalroado pelo irlandês maluco. Na verdade, acho que o gordo de saia é a materialização do Sobrenatural de Almeida, imortal criação do tarado de pijama. Normalmente, ele é uma entidade invisível: faz cavalos refugarem, empurra ginastas para que pisem fora do limite do tablado, segura a perna do corredor em pleno salto triplo, torce o braço da jogadora de vôlei bem na hora da cortada. E a vítima é sempre alguém do Bananão: não basta ser brasileiro, tem que tomar na tarraqueta. (As medalhas de ouro, poucas, correspondem aos raríssimos momentos de distração do personagem.) Apenas ontem, durante a maratona, SA se descuidou e acabou sendo visto por todo mundo -menos pelos seguranças, como sói acontecer.

Mas, pensando bem, o empurrador maluco é uma invenção utilíssima. Imaginem só. Baiano Meloso sobe ao palco com seu violão, o gordo de saia sai dos bastidores e lhe dá um tranco: bum. Gerald Thomas fica de costas para a platéia, começa a desabotoar as calças e, bum, é arremessado ao fosso da orquestra pelo ex-padre doidjão (todos pensam que é parte da peça e aplaudem). O atorzinho global está no meio da valsa com a debutante, entra o maluco e bum, derruba os dois sobre a mesa do ponche. O Efelentífimo, de faixa presidencial, sobe ao alto do parlatório para discursar e... que cena maravilhosa, não? Por isso a Botocúndia não vai para a frente: aqui os malucos beijam, em vez de empurrar.

27.8.04

Obras-primas do jornalismo (2)

1. O problema

O então presidente Efe Agá vai visitar a Amazônia, na fronteira do Brasil com a Colômbia. Naquele calor amazônico, começa a engrolar uma conversa sobre a necessidade de a pátria proteger seu território contra terroristas, traficantes e contrabandistas (como se sabe, quando se trata de banditismo, o governo odeia concorrência). Lá pelas tantas, o antecessor do Efelentífimo afirma que o terrorismo é um "inimigo suez". O que significa isso?

2. A solução

O bom jornalista conhece história como poucos e não se intimida diante de demonstrações de erudição, venham de onde vierem. Assim, seu texto explicará que "inimigo suez" é uma referência aos combatentes egípcios que lutaram contra os israelenses na região de Suez, em 1973, e atacavam seus oponentes de surpresa, por meio de túneis subterrâneos abandonados. Conheceu, papudo?

3. A conclusão do caso

No dia seguinte, descobriu-se que Efe Agá, com sua pronúncia peculiar, tinha dito simplesmente que o terrorismo era um inimigo soez -vil, torpe, reles. Mas quem nega que a explicação geopolítica é uma obra-prima, muito mais interessante que a realidade?

26.8.04

Obras-primas do jornalismo (1)

1. O problema

Naquele Carnaval, o enredo da Mangueira homenageava o Compositor Fanho. A escola de samba, preocupada com uma eventual invasão, contratou seguranças para evitar que penetras atrapalhassem o desfile. Como resumir esse assunto palpitante num título de uma linha só, nos últimos minutos de fechamento?

2. A solução

Segurança armado evita inchaço na Mangueira

3. Fortuna crítica da obra-prima

"Aaaaaah, como era graaande!" (Paulo Silvino)

24.8.04

Nouvelle résistance française

Numa passagem de "O Castelo de Axel", Ed Wilson, aquele crítico literário com nome de cantor da Jovem Guarda, cita brevemente o historiador francês Jules Michelet. Para Michelet, no século 16, o futuro da literatura francesa dependia do equilíbrio entre o pantagruélico François Rabelais e o pleiádico Pierre de Ronsard -e Ronsard vencera, o que, segundo o historiador, era lamentável.

Nos anos 60 do século passado, deu-se um combate ainda mais importante. Pouquíssima gente notou, mas, naquela época, o futuro de toda a inteligência francesa estava sendo decidido no ringue em que François Truffaut e Jean-Luc Godard se estapeavam. Para espectadores como eu, não havia dúvida de que Truffaut ganhara por nocaute: por fazer filmes "autorais" e que obtinham, ao mesmo tempo, sucesso comercial, por se fazer compreender pelos espectadores, por ter dirigido algumas das mulheres mais bonitas do mundo (Jeanne Moreau, Françoise Dorléac, Catherine Deneuve, Jacqueline Bisset, Isabelle Adjani, Fanny Ardant). Um chato como Godard, que trocara Anna Karina por Mao Tse-tung, certamente não era páreo para nosso herói.

Mas os juízes, hélas, eram acadêmicos e pirobos. Subiram ao ringue e ergueram o braço de Godard, decretando sua vitória por pontos. Daí para Lacan dizer que a mulher não existia, Derrida desconstruí-la e Baudrillard transformá-la num simulacro foi um pulo. Ninguém mais entendia o que um francês dizia, escrevia ou filmava. A inteligência foi caçada a pauladas, como uma ratazana prenhe do Nelson Rodrigues, e finalmente expulsa do país.

Alguns franceses e francófilos, contudo, resistem. Sabem que Truffaut, ano após ano, fica ainda melhor que Godard e estão ocupados demais gostando de mulher para perder seu tempo com mistificadores pós-modernos. Afinal, as pernas das mulheres são os compassos dos quais dependem a harmonia e o equilíbrio do planeta -já dizia Bertrand Morane, nosso grande timoneiro.

20.8.04

Terrorismo do bem

Como vocês sabem, jornalistas são a escória. Além de não serem nem homens nem mulheres, como bem observou Borges Akaju, são um bando de covardes, exceto aqueles que demonstram sua bravura puxando o saco do Efelentífimo. E eu vos direi, no entanto, que a gente trabalha muito, mas, em compensação, também se fode -e às vezes até se diverte. Há algumas notícias que fazem a profissão valer a pena, como a que transcrevo a seguir.

Segundo a agência Reuters, um grupo autodenominado "Grafiteiros Militantes de Estocolmo" seqüestrou uma vaca de fibra de vidro que fazia parte de uma mostra internacional de artes plásticas. Eles gravaram e enviaram a um jornal um vídeo no qual aparecem encapuzados, com serras elétricas, ameaçando sacrificar a vaca se ela não for oficialmente declarada como "não-arte". A porta-voz da exposição, claro, declarou-se "very upset about the whole matter" (em beregüê, muito puta co'essa história toda aí).

Não é sensacional? Na minha opinião, é a ação terrorista mais simpática desde a Frente de Libertação dos Anões de Jardim. Mas seu alcance é limitado. Aqui no Brasil, precisamos urgentemente de um grupo capaz de seqüestrar instalações inteiras, com artistas e críticos dentro, esconder em local incerto e não sabido o prédio da Bienal etc. É bastante sedutora a idéia de deixar o jornalismo e exercer esse terrorismo estético do bem. Sigam-me os bons!

19.8.04

Eu mostrei a bunda para Gerald Thomas

Depois de muito refletir, mudei minha opinião sobre Gerald Thomas. Cheguei à conclusão de que ele, enquanto artista a nível de pessoa humana, não pode ser perseguido e cerceado por expor suas idéias dramatúrgicas da maneira mais clara e honesta possível ao arriar as calças. É como Zé Celso fazendo cocô no palco: a síntese e a culminação -ênfase na primeira sílaba- de toda uma vida no teatro. A bunda de Gerald não passa de um espelho onde o Brasil vê sua cara. Sendo assim, e decidido a me solidarizar com esse magnífico diretor retribuindo tudo o que ele já nos deu (epa, opa), fui ao blogue dele e também exibi minhas formosas nádegas:

(|)

Quero ver a sociedade cristã, burguesa, careta e cerceadora da liberdade de expressão vir me processar. Resistirei até o fim. Estou, porém, aberto (opa, epa) a negociações se alguma advogada de mãos macias quiser examinar o ônus da prova (sem fio-terra, que é como a Ana Hickmann em carro pequeno: "não rola", porra).

Speak low if you speak love

Declarações de amor nunca me interessaram: exibicionismo levado ao ápice ou loucuras de imbecis necessitados de desintoxicação. Alguns gostam de apaixonar-se e riem, orgulhosos de ter alguém raro, único. Ilusão. Viver de amores é totalmente estúpido: apenas doidos, oligofrênicos, restringem-se à opção de basear a existência na infelicidade -e o jogo de ocultação do sofrimento repete-se, odiosamente. Ganhar nesse esporte, roleta-russa, é impossível. Observem.

16.8.04

Pela culatra

Nunca houve armas aqui em casa. Nem mesmo revólver de brinquedo, daqueles que espirram água, eu tive quando era criança. Sempre fui um cidadão pacífico, ordeiro e disposto a dar uma mão ao Estado, mesmo sabendo que o Grande Ogro só se contenta com o nosso brioco. Tudo isso acabou. Desde que vi os anúncios da campanha do desarmamento, estou com uma vontade alucinada, incontrolável, de comprar um trabuco, modelo vintage Urtigão, para atirar na TV toda vez que aparece o Chico César pulando. Charles Bronson é meu pastor e chumbo não vos faltará.

12.8.04

Pequena antologia goiabal

Guillaume Apollinaire (1880-1918)

Me voici devant tous un homme plein de sens
Connaissant la vie et de la mort ce qu'un vivant peut connaître
Ayant éprouvé les douleurs et les joies de l'amour
Ayant su quelquefois imposer ses idées
Connaissant plusieurs langages
Ayant pas mal voyagé
Ayant vu la guerre dans l'Artillerie et l'Infanterie
Blessé à la tête trépané sous le chloroforme
Ayant perdu ses meilleurs amis dans l'effroyable lutte
Je sais d'ancien et de nouveau autant qu'un homme seul
pourrait des deux savoir
Et sans m'inquiéter aujourd'hui de cette guerre
Entre nous et pour nous mes amis
Je juge cette longue querelle de la tradition et de l'invention
De l'Ordre et de l'Aventure

Vous dont la bouche est faite à l'image de celle de Dieu
Bouche qui est l'ordre même
Soyez indulgents quand vous nous comparez
À ceux qui furent la perfection de l'ordre
Nous qui quêtons partout l'aventure

Nous ne sommes pas vos ennemis
Nous voulons vous donner de vastes et d'étranges domaines
Où le mystère en fleurs s'offre à qui veut le cueillir
Il y a là des feux nouveaux des couleurs jamais vues
Mille phantasmes impondérables
Auxquels il faut donner de la réalité

Nous voulons explorer la bonté contrée énorme où tout se tait
Il y a aussi le temps qu'on peut chasser ou faire revenir
Pitié pour nous qui combattons toujours aux frontières
De l'illimité et de l'avenir
Pitié pour nos erreurs pitié pour nos péchés

Voici que vient l'été la saison violente
Et ma jeunesse est morte ainsi que le printemps
Ô Soleil c'est le temps de la Raison ardente
Et j'attends
Pour la suivre toujours la forme noble et douce
Qu'elle prend afin que je l'aime seulement
Elle vient et m'attire ainsi qu'un fer l'aimant
Elle a l'aspect charmant
D'une adorable rousse

Ses cheveux sont d'or on dirait
Un bel éclair qui durerait
Ou ces flammes qui se pavanent
Dans les roses-thé qui se fanent

Mais riez riez de moi
Hommes de partout surtout gens d'ici
Car il y a tant de choses que je n'ose vous dire
Tant de choses que vous ne me laisseriez pas dire
Ayez pitié de moi


("La Jolie Rousse", poema final de "Calligrammes", 1917. Vai sem tradução. Estou sem tempo, quem quiser que procure.)

10.8.04

O medo do goleiro diante do pênalti

Quem gosta de futebol sabe que o goleiro é o personagem trágico por excelência. O mais-solitário-dos-jogadores, o que se veste diferentemente de todos os outros, o único que pode agarrar a bola -a do jogo, é bom deixar claro- com as mãos, o que transita mais rápido da glória à desgraça e, às vezes, de volta à glória. Em geral acaba, como seus pares, virando técnico, comentarista da Grobo ou dono de posto de gasolina na Pompéia, mas essa circunstância não lhe altera o destino singular. Tenho certeza de que toda a obra de Camus se deve ao fato de ele ter sido goleiro, sobretudo aquela história de ser um Sísifo feliz rolando a pedra, indo buscar infinitamente a bola no fundo da rede. É impossível ser centroavante e existencialista. Serginho Chulapa entre o ser e o nada na pequena área: não dá. A resposta será um chute de bico.

É por isso que gente bestamente romântica como eu e você, leitor hipócrita, admira os goleiros. Lord Byron teria sido goleiro, se já existisse futebol no início do século 19 e ele, o lorde, não fosse manco. Clint Eastwood, vestido como o Homem sem Nome dos filmes do Sergio Leone -com chapéu e poncho-, daria um excelente guarda-valas. Pensar nisso é uma espécie de consolação para quem passou a infância e parte da adolescência sendo obrigado a jogar no gol, para dar menos prejuízo aos times dos colegas: acreditem quando eu digo que era o maior perna-de-pau do Ocidente. Hoje me restrinjo a usar pijamas de inverno multicoloridos que me deixam parecido com Jorge Campos, aquele golquíper mexicano baixinho que se agitava feito o Chapolim embaixo das traves.

Pensando bem, o existencialismo dos goleiros não resiste ao folclore da América Latina. Não se imagina um Lev Yashin, o Aranha Negra, nascido no mesmo continente do colombiano René Higuita, o homem-pebolim. Higuita é nosso pastor -e, embora onde o goleiro pisa não nasça grama, pasto não nos faltará.

9.8.04

Uma pausa para os nossos comerciais

- Ha-hai, é com você, Lombardi!

- Pois não, Silvio!

- Mas-mas-mas, Lombardi, que livro é esse que você está lendo, Lombardi?

- "Todas as Festas Felizes Demaaais", Silvio, escrito por Faaabio Danesi Rossi!

- Mas, hein, mas o livro é bom, Lombardi?

- É muito bom, Silvio.

- Mas é bom mesmo?

- É ótimo, até o Roque já leu.

- Mas-mas-mas, no duro, Lombardi? Melhor que um título de capitalização da Liderança Capitalização? Melhor do que estar ri-go-ro-sa-men-te em dia com as prestações do carnê do Baú? Melhor que "Santa Claus", pela primeira vez na televisão?

- Muito melhor que tudo isso junto, Silvio.

- Olha que eu te ponho na rua, hein, Lombardi? Te ponho na rua, hi-hi, ha-hai... Mas-mas-mas, olhe, eu não li o livro, não li, mas a Íris leu e me disse que é bom. Ela comprou lá em Miami, ha-hai. Agora, você, meu colega, minha colega de trabalho, não precisa ir a Miami para comprar seu exemplar. Não precisa. Basta aparecer na Casa do Saber, que fica na rua Dr. Mário Ferraz, 414, em São Paulo, nesta quarta, 11 de agosto, a partir das 18h. Não é preciso levar seu carnê do Baú quitado para trocar por mercadorias. Além do autógrafo do autor, você corre o risco de encontrar a Maria Fernanda Cândido. Eu não vou porque senão a Íris não me deixa mais entrar em casa! Ritmooo, ritmo de festaaa...

8.8.04

Aprenda francês com Simone de Penhoar

Tenho a impressão de que Jece Valadão desistiu daquela história de ser evangélico e resolveu virar publicitário. Outro dia escrevi sobre um outdoor no qual uma bela moça de quatro servia para vender as virtudes de um método de ginástica. No mesmo espírito, um curso de francês espalhou pela cidade dois outdoors assaz interessantes, que têm como slogan "falar francês é fácil". Um traz a tradução de expressões como "te amo", "perfume" e "bom dia" ao lado de uma moça sorridente; no outro, ilustrado por um rapaz igualmente sorridente, as palavras traduzidas são "sucesso", "diferença" e "oportunidade". Bien sûr. Je t'aime, parfum e bonjour são coisas-de-menina; succès, différence e opportunité interessam apenas aos meninos. Afinal, macho que é macho só estuda francês por estrita necessidade profissional: não vá alguém pensar que é para virar traveco e rodar a bolsinha no Bois de Boulogne.

(E ainda há gente oligofrênica que acha esta goiabada misógina. Imagine se não fosse. Provavelmente, eu já teria mudado de séquiço, virado o Jack Lemmon em "Quanto Mais Quente Melhor" e casado com um velho francês rico. Ninguém é perfeito, chérie.)

7.8.04

Apolônio, você por aqui?

Uma leitora andou vendo nos meus textos o que chamou de "estrutura ideológica claramente de direita". Confesso que fiquei preocupado. Virei do avesso todos os meus posts sobre o cãozinho perneta e não senti nem cheiro da tal "estrutura ideológica"; presumo que ela dependa da perninha que falta ou do lado para o qual o cachorrinho tomba. Ainda encafifado, fui consultar o meu oráculo preferido, Costinha de Delfos -que vestia, como sempre, uma de suas camisetas "fodelança": "Oráculo, viste alguma estrutura ideológica por aí?". "Eu, hein? Tás brincando. Só se for outro nome para o peru da festa." "Sapientíssimo oráculo, outra dúvida que me atormenta: existe xoxeta política?" "Existe, claro. É aquela que serve a uma função social. Vai por mim: entra no MSX, que o negócio desse pessoal é ocupar todas as áreas improdutivas. Enquanto isso, eu fico aqui passando giz no taco. Uéééin."

Divagações à parte, é impressionante como os goiabas são mal compreendidos. Você escreve que curte um unshaved bush, tipo o da Cláudia Ohana ou o da Carla Camurati circa 1985, e neguinho já acha que é defesa do Ronald Golias lá dos Estêites. Fala que a Sharon (aquela do "vem cá, meu bem, fazer uma massagem for men") é mó gostosa e pensam que você se refere ao cara lá de Israel, dono da boate The Gaza Strip. Diz que lava o seu carvalho, com água, sabão e desodorante Avanço, e entendem que você é nãolavete. Admite pertencer à TFP e se escandalizam com seu "conservadorismo", antes mesmo que você explique o óbvio sentido da sigla (Tesão, Fodelança e Putaria*. É uma versão hétero da Opus Gay, também conhecida como Opus Dei, Sim, e Daí?).

Vocês se lembram da Velha Surda (isto é, Idosa Auditivamente Prejudicada)? Ela entendia errado tudo o que o Apolônio dizia e era voluntariamente engraçada. Hoje, porém, o humor involuntário dos Jovens Cegos da internet é ainda mais engraçado. Não dá para deixar de rir de quem só sabe ler com o olho do cu (o que, é bom esclarecer, não é o caso da leitora citada no começo).

* O crédito da sigla é do Dante. Faça como nós, seja membro da TFP. (Ah, como era grande! Dá uma pegadinha, dá.)

5.8.04

Batina e violão

O padre vinha cantando alegremente, qüem-qüem
Quando um vigário sorridente pediu
Para entrar também no samba, no samba, no samba
A freira gostou da dupla e fez também qüem-qüem
Olhou pro bispo e disse assim: "Vem, vem"
Que o quarteto ficará bem, muito bom, muito bem

Na porta da igreja foram ensaiar, para começar
"Segure a Mão de Deus e Vá"
A voz do padre era mesmo um desacato
Jogo de cena com o bispo era mato
Mas eu gostei do sinal quando ouvi a trombetaaa
Do Juízo Final
Qüem-qüem, qüem-qüem...


(Bossa nova baseada em idéia do velho jornalista e escroque Agamenon Mendes Pedreira. Para ser cantada, obviamente, pelo padre Martelo, em dueto com João Gilberto. Qüem-qüem.)

4.8.04

Exercícios de estilo (3)

Sim, o cãozinho de três pernas está de volta. Ele é brasileiro e não desiste nunca. Fará xixi no poste ainda que tenha de cair mil vezes.

* Lewis Carroll

"Alice estava andando pelo bosque e dizendo a si mesma: 'Como seria bom transformar certas crianças em porquinhos! É verdade que muitas delas não precisam. Talvez seja melhor transformar alguns porquinhos em crianças. Sim, definitivamente'. De repente estacou, surpreendida, ao ver o Cachorro Perneta Sorridente de Cheshire no alto de um galho de árvore, sorrindo e fazendo xixi para o alto. Achou que ele parecia afável, mas, como não queria se molhar, sentiu que devia tratá-lo com respeito e à distância.

- Cachorrinho Perneta de Cheshire -começou a dizer timidamente, sem saber se ele gostaria do tratamento; mas o cão apenas abriu um pouco mais o sorriso. 'Ótimo, parece que gostou!', pensou ela, e prosseguiu: - O que você está fazendo em cima dessa árvore? Cães não sobem em árvores. Muito menos cachorros pernetas.

- Como não? Por acaso eu não estou aqui? -disse o Cachorro, sem parar de sorrir e de fazer xixi para o alto.

- Mas isso não faz sentido! -replicou Alice, já irritada. - Se você fosse um cachorro de verdade, cairia ao levantar a perna. E você não pode fazer xixi do alto da árvore. Vai molhar as pessoas.

- Eu sou um Falso Cachorro Perneta -respondeu o bicho, sempre sorrindo. - Se você se comportar direitinho, posso cantar a Canção do Falso Cachorro Perneta Sorridente. Quanto à chuva, basta que você vá à casa do Chapeleiro, naquela direção -e levantava a segunda pata-, ou à da Lebre de Março, naquela outra -agora o cão tinha as três patinhas no ar. - Eles têm uma coleção de guarda-chuvas: milhares, de todas as cores, formatos e sabores. Tomam chá num guarda-chuva, dormem em outro, usam um terceiro para passear pelo lago e um quarto para escrever suas cartas. Peça-lhes um guarda-chuva emprestado. Ou pegue um. Não darão pela falta.

- Dormir num guarda-chuva é coisa de gente maluca -disse Alice, e imediatamente se arrependeu do que tinha dito.

- Sem dúvida -ponderou o cachorro. - Todos aqui somos loucos. Eu sou louco. Você é louca.

- Como sabe que eu sou louca? -indagou Alice.

- Deve ser. Senão, não estaria aqui conversando com um cachorro perneta sorridente na hora em que ele satisfaz suas necessidades. Menina mais inconveniente. Seus pais não lhe deram modos?

Furiosa, Alice pôs-se a balançar o galho da árvore, para tentar fazer o cachorro cair. No mesmo instante ele se esvaiu no ar: apenas o sorriso permaneceu suspenso por algum tempo e, depois, também sumiu. Satisfeita, Alice tomou o caminho da casa do Chapeleiro. No meio dele, porém, foi apanhada pela chuva."

2.8.04

Mussolini, o judoca piauiense

Nem sempre é preciso ir àquele sítio da Daniela Abade para ter um vislumbre do que poderia ser um mundo perfeito. Às vezes, inadvertidamente, a própria imprensa dita séria nos dá essa possibilidade, como aconteceu numa edição da Folha deste fim de semana: "Mussolini luta judô no Piauí". Imaginem que fantástico seria um mundo em que os Mussolinis se limitassem a derrubar adversários num tatame de Teresina: abriríamos os jornais e leríamos coisas como "Hitler vende laranja no Ceasa" ou "Stálin ensina cidadania aos alunos do ensino médio". Mas, pensando bem, a última dessas coisas já acontece. Melhor deixar pra lá (deixa pra lá, deixa pra lá, tome já Maracugina que vem do maracujá).