O DIÁCONO DO ATEÍSMO
O título, surrupiado do meu caro
César Miranda, define bem
Daniel Piza e dois dos últimos artigos que ele escreveu para o "Estadão". Resumidamente, ele se queixa de que o preconceito contra ateus e agnósticos chegou ao ponto de esses dois termos, hoje, terem conotação pejorativa. Cita um grupo dos EUA cujos integrantes, sem crença religiosa, preferem ser chamados de "brights" (sim, "brilhantes"; dá para ouvir
João Bosco cantando, ao fundo, "minha pedra é ametista, minha cor o amarelo...") e a
Sociedade da Terra Redonda, que opta pelo uso de "lúcidos" para os mesmos casos.
O que acho disso? Ora, dou o maiorrrapoio. Por um lado, é muito bacana que esse conceito de lucidez abranja gente como
Nietzsche, titio
Stálin e
Louis Althusser, aquele filósofo que matou a mulher estrangulando-a de modo nada dialético. Por outro, também me sinto intoleravelmente incomodado quando circulo entre pessoas magras e leio a palavra "gordo" em seus olhares de reprovação. Repudio a carga pejorativa do termo e conclamo meus colegas de infortúnio a exigir que só se refiram a nós como "sólidos".
Ah, sim, tenho uma tese para o papel de diácono ateu assumido por Piza. Nosso amigo, há cerca de dez anos, foi o autor do erro mais antológico dentre todos os que a "Folha" já publicou (mesmo considerando a prodigalidade do jornal nesse quesito): "Gólgota é o lugar onde Jesus foi enforcado". De quebra, também colocou no Velho Testamento a frase que abre o Evangelho de São João, "no princípio era o Verbo" -erro evitável com uma olhadinha no Gênesis, coisa talvez trabalhosa demais para um "brilhante". Pior:
Haroldão "Papai Noel" de Campos citou isso numa carta ao jornal em que respondia a uma crítica do repórter. Piza, qual Lúcifer, revoltou-se e decidiu lutar contra o barbudo com a coroa de espinhos e seus seguidores, até o fim dos seus dias. Faz sentido.